sábado, 25 de dezembro de 2010

Saudades em era high-tech

Pixels expressam na tela
aquilo o que tento dizer.
Por favor! Não feche a janela.
Ainda há muito o que escrever.

Veja a barra piscando.
É a pressa do meu coração.
Laranja é a cor latejando -
e em coro a minha aflição.

Minhas frases vão se sobrepondo,
cada uma na sua vez.
Desse jeito eu vejo se escondo
as lágrimas sobre a minha tez.

Treme a tela e um som meio estranho
sai em busca da tua atenção.
Quando vens, quero ver o tamanho -
o tamanho da tua paixão.

Sem o toque dói mais a distância.
Sem sentir sua pele e torpor.
Sinto sim a saudade e a ganância
de ser vivo e queimar em teu calor.

Dito isso, meu amor, minha amada -
sim é triste, mas - tenho que partir.
Desligo o pc da tomada,
fecho os olhos e tento dormir.

Mas o sono não supera a saudade
teclo letras e envio um adeus.
Boa noite, amor - que vontade ...
queria teu corpo no meu.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Combinemos assim

Vamos rir a cada três minutos;
sejamos justos (com nós mesmos mais ainda);
gaste mais no que for bom;
observe os que andam na rua;
olhe pela janela;
entre numa rua desconhecida;
jogue fora o que não te serve;
olhe o relógio:
ria.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Souvenir

No fundo da estante,
atrás dos porta-retratos,
coberto de poeira,
sinto falta do teu tato.

E aqui, assim, distante, penso
se ainda lembras o meu formato.
Se estou aqui de brincadeira
ou se esse é o meu infinito entreato.

Sonho o dia em que me queiras novamente.
Vais me pegar e me dar um abraço,
e lembrar de quando me ganhou de presente
dentro de um pacote enrolado num laço.

Mas, não. Já são anos que correm,
e eu aqui. Esquecido num canto.
Sou este souvenir de quem já não lembram mais.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Sonho nato

Eu vejo os dias passar.
Cada vez que abro meus olhos de um sono cansado
tenho a esperança de que terei o meu sonho acordado.
É. Quero que alguém sacuda o meu sonho
até que ele chore. Que abra a garganta,
como um bebê que acaba de nascer.
Esse choque do meu sonho com o mundo
será tão lindo, tão doce, tão inocente.
Mas meu sonho que vem do inconsciente
é forte para os perigos do mundo.
O meu sonho que me conhece mais do que eu
saberá se defender das armadilhas que contruo para mim.
Ele tem as artimanhas. Eu só tenho a minha peçonha.
Mas cobra quando se pica não morre. Toma soro anti-ofídico.

Quero acordar com o meu sonho.
Quero o despertar da minha nova manhã.
Meu sol multi-colorido, minha chuva de suco de manga,
minhas nuvens de almofada macia.
Meu sonho não é mais fantasia.
Minha realidade é a mais pura melodia
do pássaro que voa livre e feliz.

Meu sonho fugiu das algemas do impossível.
Ele é desperto, é nato.
Este sonho virou fato.
Qual será o próximo? Ah ... imprevisível.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Agora é a hora

Agora não me agoura.
Já é hora de começar.
Tire seus olhos de manobra
que querem me derrubar.

Veja bem, minha senhora,
é chegada, enfim, a hora
de botar as manguinha de fora.

Trate de entrar na dança,
como fez Chico na Valsinha,
pegue teu vestido
e vá para a ágora da cidade.

Agora é hora de dançar,
sem ontem ou amanhã.
Sem tantinhos a esperar.
Sem ponteiros a espreitar.

Sondheim! The Birthday Concert - PBS Great Performances

Ai, gente ... eu adoro Sondheim! Ele fez 80 anos esse ano e diversos concertos foram feitos em sua homenagem. Dois sairão em dvd. O da BBC e o da PBS.

Os vídeos abaixo são do concerto americano, com direito a Paul Gemignani regendo a Filarmônica de Nova York.

Patti LuPone - The Ladies Who Lunch


A Patti LuPone abraça a Elaine Strich no final porque a Elaine cantou essa música pela primeira vez na estreia de Company.

Já esse vídeo é o belíssimo dueto de Sunday in The Park With George, com os atores da montagem original Bernadette Peters e Mandy Patinkin.

Bernadette Peters e Mandy Patinkin - Move On


Ah ... não vejo a hora de comprar esses dvds!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Na minha gaveta

Hoje mais cedo
procurei numa gaveta
o verso antigo que compus na solidão.

Sim, tive medo
de rever nesta gaveta
a tua carta que quebrou meu coração.

A tua carta
tanto li que decorei.
Suas palavras
tanto li que eu chorei
demais.

Logo depois,
busquei o papel e a caneta.
E escrevi resposta a tua negação.
Mas, sem coragem,
escondi numa gaveta
esta saudade que é a minha maldição.

Hoje mais tarde
irei ao teu encontro.
E lhe darei esta carta que escrevi.
E é bom que leias,
pois naquela gaveta
ao lado das palavras nossas
guardei comigo um regalo assassino.
Se não me amas, não amarás ninguém.

Eis a nova carta,
onde nela eu assino
com minhas lágrimas,
teu sangue,
meu amor.

Agora morta, mas ainda presente.
Temos a mais perfeita relação.
Vives comigo, pois guardo na gaveta
as nossas cartas e o teu coração.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sentado na praça estava Henrique

Olhando o seu livro,
sentado na praça,
ali sem motivo,
vendo quem passa,

estava Henrique
e seu olhar distante
procurando quem lhe tire
de cima da estante.

Ainda olhando o mar
ou olhando o papel,
eis que alguém vai chegar
e colocá-lo no céu.

Um alguém sem certezas,
um alguém de mistérios.
Alguém que porá na mesa
os piores impropérios.

Como do nada surgiu,
do nada sumirá.
Esse alguém já sumiu
mas de mim não sairá.

Em poucos instantes
vi meu olhar sair do mar,
vi a lógica perder a constante.
Vi meu peito se desafogar.

Henrique é quem sou
e o livro era meu.
Aquele estranho que passou
mostrou-me quem era eu.

Sua evanescência,
sua não concretidade
descobriu na minha noite a carência,
fez do meu medo, vontade.

Agora me jogo no mar
sem o risco de derreter.
Agora me vejo chorar
e a minha lágrima é você.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Deliciosamente desconexa

Ai, menina,
tão deliciosamente desconexa!
Tua língua é tão complexa -
mas é nela que quero falar.
Quero saber o teu idioma,
do teu corpo ter diploma,
ter teu gosto e teu aroma,
ter a chave da tua cidade.

Ah, menina,
tão deliciosamente desconvexa!
Vê se em mim tu te anexa -
não quero mais te perder.
Fique perto da minha vista,
faz em mim uma revista,
deixa eu ser turista
e me guia pelo teu país.

Ah, menina,
tão deliciosamente circunflexa.
Atiro em ti a minha flecha -
de ti não quero sair.

Finca nova raiz neste chão.
Entrega a mim tua navalha,
eu te entrego o meu coração.
Rasga o meu peito em retalhos,
costura de volta em novo padrão.

Ah, menina,
tão deliciosamente desconexa.
O que sou nessa persona perplexa,
se não a brecha encontrada
para desarrumar o meu caminho?

Ah, menina,
tão deliciosamente desconexa.
Qual o sabor que fica depois do teu beijo de despedida?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Busca abortada

Busco respostas nos olhos
daquele que o espelho me diz que sou.
Pergunto então ao som que minha boca externa
mas meus ouvidos não decifram a minha voz.
Toco o meu corpo mas meu tato se perde
e não reconhece minha superfície.
Trago o ar para o meu nariz
mas não sinto o menor rastro de perfume.

Dentro de mim não me alcanço.
Desisto de descobrir-me.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sorte ou sortilégio

Eu já não mais me suporto.
E, se os meus pulsos eu corto,
e vejo o sangue manchar-me de morte,
me pergunto se esta é a minha sorte
ou o meu sortilégio.

Cada caminho que tomo é sempre o mais torto.
E para seguir esta rota eu mesmo me envolto
nessa fé masoquista de ter a dor de
esperar que meu sono atravesse a noite.
Viver é o meu sacrilégio.

Melissa

Melissa
me pinça de volta
do mar onde eu me atirei.

Um mar de lágrimas
que após me deixares, sim,
eu chorei.

Melissa
me atiça de novo.
Gosto quando os teu pudores somem.

É só você lamber os lábios,
ou um carinho mais quente no colo
e aqui está o teu homem,
esperando a alegria de te possuir novamente.

Melissa
me diz se um dia,
ao menos, você me amou.

Ou meu corpo foi mais um que você só usou?

Melissa!
Brinca com os meus sentimentos mais uma vez.
Pode me usar de novo até a minha escassez.
Mas vem pra perto me livrar
da solidão,
Melissa ...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um novo colar

Esta necessita de uns colares.
O seu colo não sabe andar nu.
São tantos os seus penduricalhos,
o pescoço de madame não tem tabu.

Tem de todas as cores,
tem de todos os tipos,
tem de todos os tamanhos.
Madame não tem preconceito,
e carrega no peito cada troço mais estranho ...

Outro dia eu vi ela chegando,
e quando olhei, ai, eu quase desmaiei.
Não sei como pude ficar de pé
quando vi a fronte daquela mulher:

tinha ouro, tinha prata,
miniatura de mulata
e umas penas de sei lá que passarinho ...
e madame quando passa quer sorriso,
e quer agrado, e diz:
"Ah, mas está tão bonitinho!"

O que eu faço, ah, meu deus, com essa mulher?
Mais difícil que um cão largar um osso?
Qualquer dia verás, eu enlouqueço ...
Teu colar será minha mão no seu pescoço.

Boa noite

Olá.
Desculpa te acordar,
assim, tão sem aviso,
mas meu coração apressado, assim,
tão sem juízo,
já não pode esperar, não,
nem mais um segundo.

Estou muito atrasado
para dizer ao mundo
tudo aquilo o que fiz esconder.
Por isso estou afobado,
pra te fazer perceber
que se te acordo aos sussurros,
meu peito está aos murros
e minha cabeça só sabe girar.

Minha boca trêmula e covarde
trai a minha vergonha e cria coragem;
minha voz ergue a flâmula e faz o alarde
tão agora necessário.
Já não há mais pra onde desertar.
Sigo o itinerário para então revelar-te:
eu te amo -
e dizê-lo é o meu açoite.
Perdoe-me por acordar-te,
feche os olhos e boa noite.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Soneto da escravidão consentida

Na primeira vez que escreveste o meu nome -
lembro-me bem, foi numa carta de amor -
tornei-me escravo do teu chamado;
teu chamado era o meu tutor.

Senhora de meu corpo e minha alma,
faz deste ser o teu castelo.
Forja em mim a tua armadura,
enrijeça o nosso elo.

Logo o meu nome não é nada
se não vem dito de tua voz,
ou escrito por tua mão.

Rogo tua presença na minha jornada,
agora só respiro quando sou nós
ou chicoteado pela tua paixão.

domingo, 10 de outubro de 2010

I think I'll try Defying Gravity

Corri o risco: sonhei.
Sonhei e dormindo tirei os meus pés do chão
(ora .. isso também o faço acordado ...).
Sonhei e voei. Mas no sonho tudo é possível.

Então eu acordo e vejo esse desejo
oscilar entre o chão e o céu.
Pois eis que essa relação em dicotomia
caiu ao nascer de um novo dia.

Alçarei voo agora acordado:
como o sonho realizado.
Só falta a data chegar.

Defying Gravity
(do musical da Broadway Wicked, na versão cantada na série Glee)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Santa Oração

Conheço esses sons.
É a sua voz de cor complexa.
Tua palavra perde o tom,
perde o contraste e a matiz
em palavras desconexas.

São quebra-cabeças constituídos
no interior da sua garganta.
Canal do mel e do licor
que escorre dos olhos da santa.

E eu, tão fiel devoto,
da tua imagem não tenho lembranças.
Apenas um nome nas costas da foto
d'onde não é possível reconhecer as crianças.

O teu choro e o teu riso
confundem-se dentro de mim.
O teu gozo e o teu juízo
são as chagas da minha oração
que não chega a ti.

Meu poeta de Itabira

Ah, meu poeta de Itabira!
De mim tudo me tira,
em mim tudo coloca.

Poeta que finca no mundo
a alma deste homem disperso -
eu.
Ah, meu poeta de Itabira,
viver é acordar em cada verso teu.

Bianca

Bianca
da pele morena
e das palavras brancas
onde eu pinto os meus desejos;

Bianca
do olhar veloz -
minha íris arranca atroz
para te alcançar;

Bianca,
quando corres
meu coração estanca.
Não tenho pernas para seguir o teu desatino.

Bianca,
sois mulher -
eu sou menino.
Permita-me sonhar com o beijo teu.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Li nas pétalas do lírio

Mesmo sendo do reino das palavras
estou atento aos gestos ao redor de mim.
Não te preocupes, amor.
Não estou em risco quando ando
em meio a lobos e pernas estranhas.
Aliás, lá fora, na selva,
estou caminhando sobre as pedras polidas.
Não se preocupe.
Não cairei delas.

Além do mais,
mesmo estando assim,
no meio dos animais,
eu busco apenas a tua flor.
As tuas pétalas, o teu perfume.
Os teus espinhos.
Tocá-la.
Segurá-la e tê-la cravada em minhas mãos.
O sangue lava os meus dedos
e cobre cada virgem pétala tua.

Não tema os lobos e as pernas estranhas.
Não me interesso por corpos.
Quero apenas você,
minha flor, meu segredo.
Esconde uma planta-carnívora;
me engoliu na mata,
me excluiu da sociedade.
Em ti renasci verde, preso ao teu caule.
De nada mais preciso.
Só de luz, de água, terra
e tua seiva.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Cotidiano, de Fillipe Caetano

Este belíssimo texto é de um amigo que (ainda) não tem o seu próprio blog.
Posto seu trabalho aqui como um meio de divulgação de sua arte e também como incentivo para que ele crie o seu portal.
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Cotidiano

Inicia-se mais um dia e todas as suas tradições. A tentativa de abrir os olhos, em um primeiro momento, é em vão. Levantar-me, por conseguinte, é entender as forças físicas atuando sobre o corpo. O silêncio inunda o recinto. E lá se vão os minutos.
Torna-se um grande pesar o lento passar das horas, toque após toque, falsidade após falsidade, realidade após realidade... E os minutos se vão.
Chega o momento, então, que envolve toda uma expectativa implícita dentro de mim. Fronte cansada e ao mesmo tempo amarrada, dia interminável, problemas, ligações, compromissos, metas... E, de repente, um (lindo) sorriso aparece no centro dessa multidão, roubando toda a cena.

Sorriso de um ser poético, mágico. Em sua face, traz nariz bem modelado, longos cílios, sobrancelha cheia e muito bem delimitada, pequena curva no queixo... Seus cabelos e suas unhas são concomitante e (por que não?) previamente combinadas com suas roupas de estilo. Meu estilo, devo afirmar. Seus olhos são como o céu: inexplicavelmente profundos, grandiosos (nunca grandes, embora ela esteja certa disso) e sinal claro da existência divina. Além disso, têm a força de me despedaçar, sem grande esforço.
Quando, porém, o riso se esvai, meus olhos, enfim, se fixam nos seus (pois o contrário tem alta parcela de improbabilidade). Estatizam-se. Enquanto observo um tom desconhecido de castanho claro penetrar meu olhar singelo e normal, o sorriso retorna, contido, pouco a pouco. As palavras do ambiente voam pelos ares. Passam, tocam as paredes, ressoam, encontram outras pessoas; mas a mim, em nada afeta. Ah quisera eu ouvir algo ou distrair meu olhar! Algo me algema, em cárcere privado. O melhor dos castigos. Ouço, enfim, uma palavra: a Guarda de cela quer ver como anda seu prisioneiro. "Tudo bem?", pergunta. "Claro...", respondo. Mas de um diálogo tão banal, surge o ápice do dia: seu toque. Eis que agora estou sentenciado à prisão perpétua. Impressionantemente, os minutos não se vão. E todas as minhas angústias, tristezas e tribulações dissipam-se.

Neste momento, sinto os tais sinos que outrora eram introduzidos à minha mente como sinal de um nobre sentimento. E, mesmo sem muito nexo ou analogia aparente, recordo claramente de minha avó exortando-me, quando criança: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido...". Tomo, pois, a liberdade de parodiar o provérbio, reaproveitando-o ao meu contexto atual: "Quem com ferro fere, por Ferrol será ferido...". Direto no coração. Se bem que não firo nem a uma formiga...
Não a estou amando, embora acredite não ser isso muito difícil.
Não a desejo, pois compreendo tal palavra com certo anseio.
E nada peço, dia após dia, senão:
Vida, permita-me contemplá-la mais uma vez amanhã.

(O tempo parou.)

Quando com Isadora

Quando me devora com os olhos,
quando me adora com a pele,
quando me enclausura com as pernas,
quando se instaura no meu grito,
quando reitera que me ama,
quando me insere no infinito,
quando retira-me de mim
e me estira no fim da cama,
ah, Isadora,
essa é a hora em que a chama
arde mais um pouco
e toma todo o meu corpo
esperando a tua volta.

Agnes, sei de ti

Agnes,
teu nome esconde a tua verdade.
És a loba morena, do uivado noturno.
És mulher sapiente dos desejos do mundo.

Quando usas do teu nome,
e faz-se de cordeiro,
toma o homem de surpresa
e acerta o seu corpo em cheio.

Agnes,
joga no chão a lã que te cobre.
Mostra-te loba. Aqui está a minha carne,
devora-me.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Não é possível tocar o Senhor

Rogam ao céu
os que nadam no mar de excrementos.
Não há resposta.
Não há ungüento para os filhos do léu.

Esgotos habitados pelos rebentos
de um Deus que é lama -
que não é sólido; que não é líquido -
um Deus que não ama.

E perto da morte
eis que o pó encontra a rocha que o originou.
E ao tentar a sorte,
eis que o filho toca o corpo do Senhor.

Sua mão afunda
naquele que é o Pai.
O filho se inunda.
O filho se imunda.
O filho se afoga na fossa,
e cai.

Tantas

Faça gemer as gêmeas,
faça tremer as trigêmeas.

Mas daquela que é filha única
faça cair a túnica,
e assim que o véu tocar o chão
descubra as mil mulheres que habitavam a imensidão.

domingo, 12 de setembro de 2010

Utopia

Olhos nos teus olhos e cego-me na imensidão.
Ouço suas palavras e me afogo
no oceano do que as suas palavras querem dizer.
Me perco nos labirintos do seu perfume,
caio na lábia do teu gosto
e tua pele fez de mim prisioneiro.

Não há fuga de ti.
E não quero fugir.
Mas entendê-la, quem sabe ...

Ainda hei de dizer que sei
o que escondes detrás dos sentidos teus,
mulher.

Certos versos meus

Certos versos meus são belos
quando sou honesto com os meus sentimentos.
Quando não omito os meus sentidos.

Mas para ser honesto,
revelo as minhas mentiras.
Mostro a todos a verdadeira face
do falso poeta.
Dilacero-me em frente aos olhos outros.
Assim enxergo-me.

Minto para ocultar o que nem sei.
Disfarces que estruturam os pilares das minhas inverdades.
E onde está a beleza dos versos da incerteza?

Pouco sustento para a terra faminta

Sou um tanto de gente,
sou um nada de homem.
Sou o que a terra come
quando chama a fome.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Tanto mar ... tanto mar

Há um oceano entre mim e a realidade.
Estou ilhado nas minhas fantasias.
Minha ilha flutua sobre as águas
e eu flutuo sobre a ilha.

Quando terei terra à vista?
Quando terei chão sob os pés?

Há um oceano entre meus olhos e minha tez.
São minhas lágrimas. Minhas enchentes.
Choro a dor de poder morrer na praia
sem nem ter nadado para tal.

Choro a dor de nem ...
Porque chorar o que não doeu ainda?
Ah, rapaz!, agite os braços sobre as ondas,
emerja as pernas dentre as correntezas,
dance no olho do redemoinho!
Se são seus os sonhos, as ilhas
e os oceanos,
és o dono do teu desaguar.

Há um oceano entre mim e mim mesmo.
Tanto mar pra se afogar.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Suja Elis

Artista consagrada
nos meandros da mentira,
faz todos enganar
quando toca a sua lira.

Ah, mas que bela máscara!
Tão perfeita ... parecia real.
Quem diria que atrás da porcelana
jazia uma cara de pau.

Essa voz de monotom ...
Seus gestos delicados ...
Tua finess e prontidão ...
Venenos destilados.

Parecias outra pessoa.
Estavas tomada por um espírito?
Não; era apenas o teu ser vulgar
que ouve apenas o próprio arbítrio.

Oh, suja Elis,
a mim não enganas mais, não.
Quando meu sonho voltar a alçar voo,
estarás bem longe do meu avião.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

2010.2

A aula de hoje de manhã foi transferida para sexta-feira. Pude descansar mais alguns poucos minutos, mas logo tive que sair. Fui para a terapia. Depois disso eu iria recensear ... se não tivesse esquecido o colete e o pda em casa!

Para não ficar andando de um lado para o outro de 13h até as 18h, fui no cinema. Assisti o filme O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas - França, 2009). A-do-rei!!!! Que filme lindinho! Morri de rir. O filme é inspirado num quadrinho franco-belga. Veja o trailer abaixo.


Logo depois dessa nova pérola do cinema francês fui para a UNIRIO. Muito cedo, aliás, rs. A maravilha da universidade, e ainda mais do CLA (Centro de Letras e Artes) é que você está rodeado de arte. É música por todos os lados! Flauta, piano, canto, percussão. Os bailarinos ensaiando nas salas espelhadas. Os atores ensaiando o seu texto e brincando com as suas emoções. Muito bem, muito bem ... Cheguei demasiado cedo. Encontrei uma sala vazia, sentei e dormi. Cochilei, na verdade. Um pouco antes das 18h fui para a sala onde seria a recepção dos calouros de Letras. Conversei um pouco com o Rafael, um dos veteranos, e logo depois chegou Guillome, nosso calouro francês.
Aos poucos todos foram chegando. Calouros, veteranos e professores. Nos apresentamos uns aos outros, falaram sobre o curso e depois descemos para uma pequena confraternização. Ficamos conversando e nos conhecendo. Adorei o pessoal. Adorei a universidade, o curso. Enfim, adorei a minha escol(h)a!

Vida nova, aí vamos nós!

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Vigília constante! Sonho e não tenho grilhões.

“Oxalá chegue o dia em que a poesia decrete o fim do dinheiro
e rompa sozinha o pão do céu na terra.”

Não procuro a razão.
As linhas cartesianas só aprisionam a minha alma infantil. Ah, e há mais maravilhas do que a liberdade? Há lugar mais mágico do que o sonho?
Não que eu desmereça a realidade. A realidade é a consequência do sonho.

“A mania incurável de reduzir o desconhecido ao conhecido,
ao classificável, só serve para entorpecer cérebros.”

Pense nos prédios: foram riscos nos sonhos de um arquiteto. O helicóptero foi sonho na cabeça de Da Vinci. Nós fomos sonhos na vida dos nossos pais (podemos até, coitados, tê-los feito viver pesadelos; mas não se esqueça que no horror também se encontra beleza).

Digamo-lo claramente de uma vez por todas: o maravilhoso é sempre belo;
qualquer tipo de maravilhoso é belo, só o maravilhoso é belo. (...)
Desde cedo as crianças são apartadas do maravilhoso, de modo que,
quando crescem, já não possuem uma virgindade de espírito que lhes
permita sentir extremo prazer na leitura de um conto infantil.”

Quero mais uma vida num filme de Buñuel, num quadro de Dalí, em traços de Gaudí. Não quero olhos julgadores. Para isto me basto. Quero mãos confiantes nas minhas mãos desbravadoras. Pés cegos que sigam comigo nas estradas do desconhecido. Tateemos, toquemos, para chegar então ao jardim de um novo sonho.

"Tamanha é a crença na vida, no que a vida tem de mais precário, bem entendido, a vida real, que afinal esta crença se perde. O homem, esse sonhador definitivo, cada dia mais desgostoso com seu destino, a custo repara nos objetos de seu uso habitual, e que lhe vieram por sua displicência, ou quase sempre por seu esforço, pois ele aceitou trabalhar, ou pelo menos, não lhe repugnou tomar sua decisão ( o que ele chama decisão! ) . Bem modesto é agora o seu quinhão: sabe as mulheres que possuiu, as ridículas aventuras em que se meteu; sua riqueza ou sua pobreza para ele não valem nada, quanto a isso, continua recém-nascido, e quanto à aprovação de sua consciência moral, admito que lhe é indiferente. SE conservar alguma lucidez, não poderá senão recordar-se de sua infância, que lhe parecerá repleta de encantos, por mais massacrada que tenha sido com o desvelo dos ensinantes. Aí, a ausência de qualquer rigorismo conhecido lhe dá a perspectiva de levar diversas vidas ao mesmo tempo; ele se agarra a essa ilusão; só quer conhecer a facilidade momentânea, extrema, de todas as coisas. Todas as manhãs, crianças saem de casa sem inquietação. Está tudo perto, as piores condições materiais são excelentes. Os bosques são claros ou escuros, nunca se vai dormir."

Os trechos entre aspas foram extraídos do Manifesto Surrealista
André Breton - 1924

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Resumo dos últimos acontecimentos

Ai, que saudades de escrever livremente aqui no meu bloguinho!

Nem sei por onde começar ...

O IBGE tem sido um trabalho agradável. Sem nada a reclamar. Diferente dos meus colegas de trabalho Bernardo (em Niterói) e Lorena (no Rio, como eu, mas na Zona Norte).

Voltei a assistir Grey's Anatomy e como chorei com a morte do George O'Malley. Chorei muito.

A terapia tem sido ótima, mesmo sendo comportamental e não a psicanálise. Minha psicóloga é tão legal! Adoro ela!

Neste domingo irei assistir uma ópera do Villa-Lobos: Magdalena. Uma ópera meio musical. Ou melhor, uma opereta, feita sob encomenda de libretistas da Broadway. Villa empresta melodias já famosas suas (como Na Corda da Viola) para embalar esta obra multinacional.

Aqui, trechos da Ópera/Musical/Opereta numa montagem do Théâtre du Châtelet:


A montagem do Teatro Municipal do Rio de Janeiro será em concerto, mas vale a pena para pelo menos conhecer mais do nosso gênio brasileiro Villa-Lobos. A versão apresentada terá o libreto em português.

E agora ando sonhando com possíveis (???) viagens ... ai ai ...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Volta, que estás longe faz tempo

Volta, que estás longe faz tempo.
Volta, que fico doente de saudade.
Volta, que esta dor faz é tormento.
Volta, nem que seja por caridade.

Ai que saudades da minha moça,
que saudades do meu amor.
Que saudades do seu carinho,
que saudades do seu calor.

To com falta do seu chamego,
to com falta do seu abrigo.
To com falta do despenteio
que teu corpo faz comigo.

Quero logo o teu beijo,
quero logo o teu abraço.
Quero um tal ensejo
que não cause embaraço.
E nessa ocasião,
mesmo que forjada,
irei encher-te de paixão,
e serás, entre todas,
a mulher mais amada.

Volta logo pros meus braços,
vem ser presente, finaliza a tua ida.
Volta e invade o meu espaço,
vem que é tua a minha vida.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Religare

Como num sacrifício,
ofereces o teu corpo às minhas vontades.
Mas teu sacrifício não é dor ou saudade.
É com coragem e mel que entregas
teu corpo ao meu.

Delicio-me com as tuas proezas,
encanto-me com as tuas acrobacias,
misturo-me nas tuas destrezas,
prendo-me nas tuas fantasias.

Teu Deus, tão fuleiro,
não chega nem a um Mágico de Oz.
Mas os meus poderes, nem tão verdadeiros,
funcionam quando é hora de fundir-nos em um.

E desato-me do meu templo,
e contemplo a tua pele.
E reato com o teu segredo
numa nova comunhão.

Converto-me enfim à tua religião
para adorar o que tens, Superior.
Sou devoto das tuas santas orações,
e sacrifico o meu céu pelo teu amor.

Sabotagem

Não precisas de inimigos outros.
Teu nêmesis é o teu reflexo,
é a tua sombra, é o teu ser.
Ofereces a ti mesmo as armadilhas,
e cais. És pego como um tolo.
Mas tolo não és.
Ou melhor, talvez tolo sejas ...
Mas inocente, não.
Ah, como és consciente das arapucas
que preparas para ti mesmo!
E como é cômico, e como é trágico,
vê-lo cair na cova que preparaste.
E como numa divisão (ou multiplicação) de corpos -
és tu deitado, caído, derrotado -
é teu o corpo na cova e és tu,
com a pá, jogando terra sobre o caixão.
Fazes o teu início majestoso,
os meandros confusos e quebradiços
e terminas com tudo, com o sopro
da tua boca malcriada.
Cuidado contigo mesmo.
Não olhe para os lados ou para trás.
Olhe para dentro e enfrente o teu próprio algoz: Tu.



sexta-feira, 23 de julho de 2010

Fronteira

Se me mexo, invado-te.
Se te mexes, guerreio.

Olho para os lados
e as fronteiras me delimitam.
Meus braços esbarram nas minhas pernas,
nos meus cabelos, nos meus dedos.
Esbarro nos outros.

Guardo as minhas terras,
meus limites,
meus cercados.
Tomo conta do que é
de meu convívio,
mas não sei até onde vai o horizonte da minha terra.

Olho para os lados.
Não sei mais se posso me mover.
Perco as noções de propriedade.
Perco o perímetro,
perco território.
Já não tenho mais chão.

Sem fronteiras -
e a liberdade me assusta.
Me movo e me mexo,
e me invado.
E se de mim não me evado,
contra quem guerrearei?

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Ruínas da Fortaleza

Um dia fui teu refúgio.
Teus braços preferidos
onde choravas as dores.
Mas feri os teus sonhos
quando disse palavras
que não foram pensadas
antes de nascer.

E neste parto malquisto,
abortei teu olhar confiante.
Agora olhas para os meus braços
e vês flácido o teu antigo refúgio.

Preferes um outro ombro,
uma outra fortaleza.
E nisso me feres, mas
quem fere primeiro já não tem mais direito
de sentir-se vitimado.

E enquanto sofro,
assistindo as consequências dos meus atos,
tento reconquistar o horizonte dos teus olhos.
Tento fazer dos meus escombros
novamente fortaleza.
Novamente os teus braços preferidos.

Fazer com que ainda vejas beleza
nas minhas palavras;
Com que ainda veja sutileza
nos meus gestos;
Com que ainda veja amor
na expressão do meu desejo;
fazer com ainda tenha fé
quando não crês mais na minha oração.

Em ruínas,
em reforma,
e rogando a ti.
Piedade da tua fortaleza.
Pois és tu a minha pedra fundamental.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Banho

Me dispo.
Guardo a pele que vesti durante o dia.
Daqui pra diante já não serve mais.
O ar envolve o meu corpo e me dirijo ao picadeiro.
Respiro fundo e aguardo a chuva encanada.
Como que atingido por forças magistrais,
fico refém das cascatas.
E me lavo e me renovo.
E vejo correr sob os meus pés
os resquícios do meu eu anterior.
A poeira de um dia findo e irrevivível.
Adeus.
Passo pelo meu corpo,
como que um ungüento,
num momento de purificação,
o que faz espuma e perfuma
o nascimento de um novo agir.
Mais leve, mais macio.
E a água leva embora esse escudo areado.
E quando a cascata é cessada,
sou vulnerável novamente aos perigos.
E me enxugo, e me acaricio, dando adeus
aos úmidos segundos passados.
E já árido, sigo ao inverso deste início:
me visto.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Vale é o que fica

Não há como acostumar ao teu amor.
Ao nosso amor.

Hoje te amo mais que ontem.
Mais - pelas coisas que fizemos,
pelos beijos que trocamos,
pelo corpo que descobrimos
como crianças travessas que brincam com o proibido.

Hoje te amo menos do que amanhã.
Menos - pelas novidades que me apresentarás.
Pelos sorrisos novos que vais me dar.
Pelas lágrimas novas que só vêm para lembrar
que o nosso é eterno porque é real.

As coisas mudam -
ontem, hoje, amanhã -
o que fazíamos;
o que fazemos;
o que faremos.
São fases de um relacionamento.
Que vão e que voltam.
Só o nosso amor fica.

terça-feira, 29 de junho de 2010

A Bela Adormecida

Durma, princesa enfeitiçada.
Durma, enquanto domo teus entornos.
É duro o caminho à tua torre.
Tem floresta de cactos com seus espinhos afiados,
tem dragão, tem armadilha.
Alcanço, enfim, o teu portão
e subo a sem fim escadaria.
Lá estás, deitada, adormecida.
Tão bela!
E me aproximo e te dispo dos véus
e dos lençóis.
Acaricio a tua face
e beijo os teus lábios virgens.
Acordas pelo estupro da minha língua.
E pelo castigo da maldição, és destinada
a amar o teu salvador.
Sou teu príncipe encantado,
teu primeiro beijo,
teu último.
Acordas da prisão do sono
para viver com um único homem.
Jamais conhecerás a vida com os próprios pés.
Princesa adormecida,
tão bela, tão tola -
jamais acordarás.
Quando picaste o dedo na roca
forjaste em pedra o teu final.
É ser eternamente morta,
adormecida ou não.
Eternamente bela,
mas sem jamais conhecer a verdadeira
beleza da vida:
a liberdade.

domingo, 27 de junho de 2010

Atos e estragos

Ah, como é difícil saber a rota de quem rotos são os passos.
Ah, parece de rato o farrapo dos teus atos.
Ah, o que precede o rito é a retidão do teu retrato.
Ah, que a tua retórica é resto debaixo do sapato.
Ah, que é mesmo ridícula a razão dos teus estragos.

Não me faça indagações

Pergunte o meu nome
Indague-me as horas
Pergunte o caminho
Mas não pergunte "por que".

Não há mais difícil indagação.
Talvez não pra quem pergunte, é verdade.
Mas pra mim que devo resposta
é quase obscenidade fazer essa tal questão.

Não percebo os motivos,
não vejo a razão.
Só que sei fui indo
sabe-se lá os motivos
se é que tenho razão.

Não sei o porquê de nada,
e acho que nem quero saber.
Já fiz decorar meu nome,
relógio não carrego no pulso.
Caminhos sigo os que sonho -
e por quê? Desta resposta eu fujo!

Pequena lucidez temporária do homem que não sabe amar

Faz-me sorrir
que meu sorriso é natimorto
Tente ao menos
antes que eu lhe dê o desgosto
Beije-me os lábios
pois há quem me dê o oposto
Dê-me as costas
antes que eu mostre o meu rosto

Acorde, mortal

São tão belos os sonhos na vida.
São belas as flores, as árvores,
os rios, os pássaros,
as moças, os rapazes,
os velhos, as crianças,
os montes, as colinas,
os mares e o céu.

Mas os sonhos só são belos quando estamos de olhos fechados.

Abra os olhos, mortal infeliz,
e verás que, dos teus sonhos,
a beleza não põe a mesa
e que a andorinha, sozinha ou em multirão,
cisca e voa sem razão.
O verão quando chega nos teus dias
é apenas mormaço e suor. Nada mais.

Abra os olhos e enxergue o que os teus sonhos o impedem de ver.
O colorido acaba. Morre.
Nem preto-e-branco são os as razões do despertar.
É o metal. Sim. O vil.

Ouça o som das canetas, das máquinas registradoras,
das moedas, do papel.
Ouça a risada dos banqueiros, estrangeiros,
trambiqueiros. Dos milionários.

Ouça a criança que bate no vidro,
o sem teto que pede um abrigo -
o ladrão pra tirar uma vida
primeiro roubou foi comida.

Ouça o corre-corre nos corredores,
a disputa no meio da calçada.
É dinheiro, dinheiro,
dinheiro, dinheiro,
dinheiro.

A força que move o mundo não é Deus,
ou outro mito vazio e disforme.
Não é o amor, ou qualquer outra mentira sem nome.
É o capital que gira o mundo mais do que a força das rotações ou translações.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Adeus, jamais. Até a próxima página, Saramago.

Espaço curvo e finito

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.


São com versos de José Saramago que inicio esta despedida que não é adeus, mas sim uma contemplação. Saramago é eterno pois um artista não morre. Saramago será sempre inédito, como foi para mim quando li Ensaio sobre a Cegueira. Fui tomado por aquelas palavras, por aquela história tão profunda, tão beça, tão tenebrosa.

Espero que este homem tão exemplar na sua arte e na sua vida esteja sempre tocando os olhos e a alma de novos leitores. Saramago, te vejo num próximo livro, numa próxima página. Tuas palavras serão sempre inéditas, tuas intenções sempre misteriosas, teus leitores sempre fiéis. E menos cegos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O novo filho de Netuno

Contemplo o vento a areia e o mar.
A imensidão das águas ilude um infinito.
É tanto e é tanto e é tanto.
E é tão bonito e é um encanto,
e é um espanto o peso do mar.

E me pesa a minha finitude,
tão seca, tão pequena.
E triste me vi
quando descobri que deságuo num mar
que tento e que tento e que tento
mas é só lágrima e só tormento.

É tempestade e revolta.
São ondas sem direção,
batendo e batendo e batendo
nas pedras que deveriam fazer proteção,
mas e quem protege as pedras.
Pobres pedras, grãos de areia virarão.

Estendo um pano e me alimento;
e bebo para estar líquido como o mar.
Acabo quebrando a taça
e é tinto e é tinto e é tinto;
é o meu sangue ou o do Salvador?
Não ando sobre as águas
e nem caminho sobre a minha dor.
Meus milagres são os dias
em que acordo e tenho um amor,
minha salvação são as sementes
que não salgam e viram flor.
Meu Deus está afogado
não há quem seja o meu Senhor.

Sem fé, me debruço às águas,
bebo, borbulho e me banho.
E é no oceano sem tamanho
que descubro a minha grandeza.
Mesmo que na morte não haja beleza
há luz no descobrimento.
Me nutro do mar e mergulho um ser.
Emerjo outro alguém que 'inda irei conhecer.

Com um paradoxo nas mãos

Quero minha alma Caymmi.
Quero meus bolsos Caimãs.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Olhos retrospectivos de um futuro amanhã

I - Dizem por aí

Viver é estar.
Saber é sentir.
Morrer é passar.
Chegar é sair.

Certeza é ofegar.
Partir é doer.
Aprender é chorar.
Acertar é querer.

Chorar é quebrar.
Sorrir é vencer.
Perder é tentar.
Tentar para quê?


II - O certo e o errado

Num certo momento
tive certas duas portas
as quais certas pessoas
indicaram um certo caminho.

Outras certas pessoas
indicaram outro certo caminho.
Mas tenho certas fraquezas
para escolher um certo destino.

Adentrei uma certa porta
buscando um certo destino.
Mas certos destinos não servem
quando são para um certo menino.

E desta certa porta que entrou
saiu um certo mesmo menino.
E foi em busca da outra certa porta
que escolheu certa vez sozinho.

E em certo momento pensou:
escolhi certo escolhendo sozinho?
E desta vez certo de si falou:
não importa a porta que entre
pois mesmo errados os passos à frente,
certos são os que vão seguindo. E
quando o caminho é seu, certo é
aquele que parte para perto do menino.


III - Crescer

Ai, sou menino.
Cresço.
Ai, sou rapaz.
Pereço.
Ai, que homem não sou.
Ai, que nem homem pareço.

Ai, sou menino.
E tento.
Ai, sou rapaz.
Me arrebento.
Ai, que homem não sou.
Ai, que nem homem intento.

Ai, sou menino.
Ai, sou rapaz.
Ai, isso não posso mais.
Ai, crescer faz doer.
Ai, homem para nascer deve romper a casca,
deve por cara a tapa,
deve sofrer e atingir.
Homem nascendo, crescendo.
E um homem não fingindo,
nem fugindo dos trabalhos e comandos.
Ai, que de menino fui para rapaz.
Ai, de rapaz, em homem forjando.


IV - As mãos de um homem

As mãos do homem estão sujas
do sangue de suas veias,
do leite de sua mãe,
do suor do seu pai,
dos fluidos da sua mulher.

As mãos do homem carregam
o peso de ser quem é,
o peso de buscar quem é,
o peso de saber o quê,
o peso de estar aquém.

As mãos do homem indicam
o caminho de onde veio,
o caminho que não se vai,
o caminho que traz receio
o caminho que tanto anseio
e o caminho que leva além.


V - O homem e a porta

Antes de passar a porta era menino.
Sentou e aprendeu que ali não era eu.
Na mesma porta falou, se ouviu
a mulher o espelhou e assim decidiu.
E fez então que a porta por onde entrou
não era a mesma por onde saiu.

Não. Se enganou o rapaz.
A porta jazia a mesma.
Mas aquele que partiu voltou atroz.
Já não era o mesmo,
nem um mesmo de nós.
O rapaz num contorno
fez um homem novo.

E o homem que saiu da porta
escolheu um novo caminho.
O velho redemoinho que habitava o seu coração.
Passou a chave na porta
e dessa vez sem devolução.


VI - Este é o maior erro da sua vida

Quando caiu no vento a notícia das escolhas
o homem sentiu frio na espinha.
Ele sabia das palavras que ouviria
e por isso demorou a decidir-se.

Mas agora que a escolha estava feita
não havia desfeito no feitiço.
E foi então que deu o rebuliço
como uma festa de tantos Mas porque isso?
e Que escolha imbecil!

Mas como homem ouviu e respirou
e com a armadura da sua verdade se revestiu.
Sentiu, pensou e falou da portas e caminhos que passou;
do tempo e crescimento que fundiu
num novo homem, velho sonhador.

E tentaram fazer-lhe ver erros nas certezas que o faziam chorar.
E ele viu fogo nas centelhas que o fizeram gelar.
E ele seguiu firme no destino que quis para si.


VII - Final?

E agora se segue.
Se persiste e se cai.
Se aprende na lama,
se guarda no sol.
E atende ao chamado
e escapa do anzol.

Se esconde da chuva,
se molha de amor.
E retira as agulhas
e limpa o bolor.
Se retira do escuro
para sair no amanhã.

E não pára na esquina.
E contempla o cetim.
Perde tempo nas carícias,
corre nos restos do jardim.
Sofre e recobra os sentidos,
não aposta no bem ou no mal.
Escreve tua vida aos inícios
recolore os teus versos finais.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Meu refúgio em você

Busco refúgio nos seus cabelos.
São tão macios, são tão cheirosos.
São subterfúgios para as minhas fraquezas,
e ainda me agarro em tuas tranças.

São essas lembranças caídas no seus ombros
que fazem de mim cativo e presente.
E que faz latente a minha esperança
de sair vivo dos meus escombros.

Sob as tuas madeixas me permito um sorriso,
sob os teus cabelos me vejo seguro.
E se deixas que eu vá mais além dos teus pêlos
eu largo os segredos e a verdade eu te juro.

Se me esqueces sozinho em uma noite de breu,
serei fraco na busca daquele que é eu.

Não me largue sozinho em casa ou na rua,
não corte os cabelos em qualquer fase da lua,
não desfaça os laços entre mim e teus pêlos,
não fique parada na frente do espelho.

Me permita ficar em ti para sempre,
não me tires jamais da segurança que és.
Se me perco dos cabelos que carregas fiel
cairei, derrotado, sem força, em teus pés.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Teus olhos, mulher

Como me decifras, mulher!
Não precisas andar comigo para saber por onde dei meus passos;
e por onde nem mesmo passo sabes que nunca fui.
Sou tão previsível assim?
Diria que sim, mas só para quem carrega olhos como os seus.

Como me decifras, mulher?
E como me explica de maneira tão real?
Viste até o que nego. Viste o que renego. E o que torno a negar.
Viste nas minhas afirmações as nuances das firmes ações
e das flácidas fantasias.

Pena que sou eu minha própria esfinge.
E quando me pergunto, não me decifro.
Acabo engolido pela minha fome de despedaçar-me.
E dilacerado, mulher, não precisas decifrar-me.
Conte-me mulher. Conte os meus pedaços.
Conte-me mulher, decifra e faça laços com minhas tripas e sensações.
Remonte-me um novo alguém.
Indecifrável, menos aos olhos teus.

Toque a verdade

Se a verdade fosse um instrumento, qual seria o seu som?

Fruta verde

Uma semente cai na terra por motivos mil.
Algumas viram alimento. Outras secam.
Outras brotam.
E, fazendo-se o broto, começa ali uma aposta com o tempo.
Alguns brotos vingam, outros não.
Podem ser pisados, arrancados, esquecidos.
Os que vingam vão crescendo, e nessa sucessão de acasos
viram árvores. E floreiam. E dão frutos.
Pequenos big-bangs de vida.
Vão crescendo, e verdes esperam madurar.
Porém, eis a história da fruta que não madurou. A fruta que permaneceu verde.
Insossa, ruim,
intragável fruta verde.
Não dá pra comer. Dessa fruta, quando verde, nem doce se faz.
Coitada ... Imatura ...
Ih, olha ali uma bem madura!

Tadinha da fruta verde. Morreu esquecida.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Qual a tua tribo?

Num dia ela estava aqui,
no outro ela estava lá.
Num dia tupiniquim,
no outro tupinambá.

sábado, 29 de maio de 2010

Aproxima-te atentamente

Aproxima-te dos meus lábios,
ouça atentamente as minhas palavras.
Aproxima-te dos meus olhos,
veja atentamente a minha alma.
Aproxima-te dos meus braços,
sinta atentamente o meu calor.
Aproxima-te do meu membro,
receba atentamente o meu sexo.

Distancia-te do meu corpo,
desfrute despretensiosamente o teu orgasmo.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vê se pode!

Com minh'alma não há quem possa!
Ela só quer a posse das coisas impossíveis!

Te espero porque

Já vai?
Mas já vai?
Mas já vai porquê?

Não vai, não.
Não vai, não.
Eu quero você.

Mas, fica mais.
Fica mais.
Mas fica aqui, por favor.

Amor, eu preciso,
eu preciso,
não vai, não.

É mesmo?
Tem mesmo?
Então tá bom ...

Adeus, amor.
Na volta, amor,
eu curo essa dor.

Então, tchau,
adeus, tchau,
volta, eu preciso,
te espero,
eu quero,
porquê?

Volta
Fica
mais
Porque eu amo você.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Morena

morena
morena
Te chamo e onde estás?

morena
morena
Já não me ouves mais?

Meus pés, doídos, morena.
Meus gritos, moídos, morena.
Meu coração, doido por ti, morena.
Eu já não posso mais.

morena
morena
Te chamo e onde estás?

morena
morena
Te amo
Te chamo
Te amo
Te clamo
Me engano
ou já não me queres mais?

morena
morena
Te chamo e onde estás?

Me despeço
em pedaços,
morena, nunca mais.

domingo, 23 de maio de 2010

Sonhe

Finco os pés no chão;
Mas meu chão não é o teu cimento.
Toco com as mãos o céu,
o mar e o firmamento.
Meus sonhos são reais porque eu os vi.
Meus sonhos reais,
com eles eu nasci.

Eu tive um sonho.
Um sonho impossível.
Mas vou continuar sonhando.
Porque o real não é o fim do sonho.
O real é o sonho sem fim.








segunda-feira, 17 de maio de 2010

Conto de fadas

Minha esposa cada dia é uma coisa,
cada dia uma surpresa,
uma beleza de emoção.

Essa mulher vira quem ela quiser,
faz da casa um teatro,
um show de interpretação.

Faz Amélia, faz Jocasta,
faz Maria, faz de graça
as feminas que ela quer.
É Penélope,
é Medéia,
Marquerite, Dulcinéia,
é a minha Capitu.

Minha esposa, quando em casa,
pode ser tantas que eu não vi.
Lady Macbeth, Julieta,
Lolita,
Emma Bovary.

Mulher do médico, Karenina,
minha esposa é minha menina,
minha Lolita, minha Polyana.

Mas chega uma hora
(e é a hora da cama)
em que eu digo:
Chega de drama.
Vem ser real,
ser minha mulher.

sábado, 15 de maio de 2010

P.S. ao Pouca vergonha!

Estou tão leve agora ...

Pouca vergonha!

Não acompanhei a novela Viver a Vida, que acabou ontem- e aliás me emocionei com o depoimento de João Carlos Martins. Mas não é sobre isso que quero falar. Pois bem, não acompanhei a novela, como já venho há tempos perdendo o hábito de assistir televisão (a internet está, sim, substituindo). Porém, o que acompanhei foram as discussões sobre a novela. Quanta gente reclamando da pouca vergonha dessas novelas de hoje em dia: homem com homem, mulher com mulher, casamento desfeito, ménage à trois, ...

Gente! E isso é pouca vergonha?

Veja bem. O que é pouca vergonha? Isso?


Ou isso?


Putaria não é na cama,
não é no escuro, não é na lama.
Sacanagem não é a transa,
não é o corpo, não é a foda.
Sacanagem, putaria mesmo,
aquela suja,
é o que fazem com quem nada pode.
Com o que não sabe ler,
escrever,
falar,
com o que não sabe lutar.
Aí, sim.
Somos estuprados.
Fodidos por caralhos gigantes
que arrombam os corações dos inocentes.
Somos vítimas da pior sacanagem.
Somos invadidos por impostos que nada fazem
a não ser encher o bolso dos filhos da puta que mandam por aí.
Isso sim, meus amores,
é pouca vergonha.

domingo, 9 de maio de 2010

Conscientemente

Diz o wikipédia:
a consciência é uma qualidade da mente.
E eu pergunto:
a verdade é consciente?
Pois há quem minta inconscientemente.
E tem aqueles que o fazem conscientemente.
No sono ou na vigília,
se fantasia.
O que não é verdade,
logo é mentira?
Então me tira essa dúvida:
o homem consciente mente?
O inconsciente mente compulsivamente?
Ou é tudo natureza da mente?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pessoas fracas

Pessoas fracas não vão a lugar algum.
Mas de onde vem a coragem se ela não é um estado comum?;
pelo menos nas pessoas fracas.

Pessoas passivas vêem a vida passar.
Sofrem com a própria agressividade, que contida,
recai sobre si próprias.

Pessoas fracas merecem viver?
Pessoas passivas conseguem vencer?
Pessoas paradas conseguem correr?
Pessoas fracas merecem viver?

segunda-feira, 3 de maio de 2010

II - Resposta à tua resposta

Menino, menino,
sei bem o que faço.
Cuidado, cuidado,
que isso causa embaraço.

Garoto, garoto,
a escolha está feita.
Querido, querido,
logo tudo se ajeita.

Devagar, devagar,
vivo a vida pra valer.
Alerta, alerta,
por quê me repreender?

Quem és tu, quem és tu,
pra meter o nariz?
Verás tu, verás tu,
eu serei - e muito - feliz.

I - Resposta à tua decisão

Menino, menino,
veja bem o que faz.
Cuidado, cuidado,
isso é besteira, rapaz.

Garoto, garoto,
que escolha é essa.
Querido, querido,
a vida passa depressa.

Devagar, devagar,
pense mais uma vez.
Alerta, alerta,
pra que tanta altivez?

Quem és tu, quem és tu,
que não precisa de nós?
Verás tu, verás tu,
serás teu próprio algoz.

sábado, 1 de maio de 2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

La vie en gris

Meus lábios não são mais vermelhos.
Meus olhos não são cor de mel.
Minha pele não é mais morena.
Meu sorriso, nem amarelo é mais.
Minha vida é cinza, querida,
não tem graça, não tem cor.
Sem ser preto ou branco,
insosso cinza parede.

Mais cedo ou mais tarde

Mais cedo ou mais tarde chegará a sua vez.
Chegará a minha e será de uma só vez.
Mais cedo ou mais tarde o gato e a galinha,
a laranjeira e a vovozinha.
Mais cedo ou mais tarde seus sonhos
e os meus pesadelos,
sua força e os meus cabelos,
tudo se findará.
A terra gira e a cada virada caem milhões.
Um dia seremos nós.
Mais cedo ou mais tarde chegaremos ao fim:
câncer, velhice, acidente de moto,
tiro na testa, veneno de rato,
não importa como, a morte nos encontrará.
Nós a encontraremos.
Encontro marcado ou visita inesperada.
Mais cedo ou mais tarde
chegaremos ao fim.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Minha nega não me nega

Quando subo a favela
é ela que está na janela.
Panela no fogo,
cheirinho de feijão,
perfume de alvejante,
é minha nega no portão.

Um beijo contido
pro povo não falar.
Eu entro corrido
pra poder descansar.
Sentado eu digo:
o que fez tu, mulher?
E ela responde:
esperei o meu nego
que veio da rua
dizer o que quer.

Mulher como a minha nega
não se encontra mais.
Pode procurar, fazer propaganda,
estampar nos jornais.
Mulher, como a minha nega,
que lava, cozinha
e de noite chamega,
é ela e não tem outra,
é a minha nega que não largo jamais.

E ela canta e sorri
quando eu subo a favela.
É ela que faz de mim um homem feliz.
É ela que não me nega
não importa as vezes que o galo cantar.
Eu, o seu nego,
só dela e de mais ninguém.
Sou o nego dela
e não nego o amor que essa nega me tem.

domingo, 18 de abril de 2010

A porta (?)

Qual a porta?
Pra onde leva a porta?
Ao quarto ao penhasco?
À cama?
Que cama?
Ao leito irei,
mas para que sono?
Frustrado? Eterno?
Em tempo?
Mas que tempo?
Não há mais tempo -
ouço a batida na porta.
Batem? Batem ...
Mas em que porta?

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sue Sylvester - a Diva!

Madonna ou Sue?

Veja Jane Lynch (indicada ao Globo de Ouro 2010 de Melhor Atriz Coadjuvante em Série, Minissérie ou Filme para TV) no papel de Sue Sylvester. É a primeira música da personagem na série. Este clip passou no final do episódio 14 (Hell-O), exibido nesta terça, dia 13 de abril, nos EUA, como um promo para o próximo episódio entitulado de "The Power of Madonna".

Sue Sylvester dance on air / William Schuester I hate you

Veja aqui o original com Madonna.

Sala de Espera

Cheguei mais cedo do que devia. São nove horas da manhã e minha consulta é só às dez e vinte. Pois bem. O que me custa esperar, não?
Não posso esquecer de contar tudo ao doutor. A dor que me acomete toda noite. Durmo sofrendo. Acordo no meio da madrugada, aos prantos - tive um pesadelo. Não durmo mais. Desabo. Me levanto quase meio-dia, e a manhã já se foi. Como qualquer coisa, doutor, nem sei o que ponho pra dentro. À tarde, trabalho um pouco, dou um jeitinho na casa e logo sinto as dores. Sofrendo, doutor. A dor me passa pelo corpo todo. Sento na poltrona, ligo o rádio e música me toca. Profundo. As lembranças, ai, doutor, me dói tanto. Agora é a cabeça. Tudo gira e se levanto não mexo as pernas. Sento novamente, desligo o rádio e os braços reclamam. Carregam tanto fardo, doutor. Esses braços não param. Carregam, levantam, puxam, empurram. Só não me seguram. Vou até a cozinha, fazer um café, beber uma água gelada, ai, doutor, me dói a garganta. Já nem choro mais - economizo uma dor. Preparo uma jantinha, coisa rápida, doutor. Tomo banho e água quente me faz tremer. Banho gelado, também. Me dói ficar limpo. Vou pra cama, sabe, doutor, e o sono não vem. Acaba a novela e me dói saber que mais um dia foi embora.
Quinze para as dez. Que demora. Não posso esquecer de contar tudo ao doutor. Das dores nas juntas. Contar ao doutor que enxergo mal - já nem me percebo mais quando passo em frente ao espelho. Me dói o ouvido esquerdo. O direito também. Está difícil ouvir minha própria voz, doutor. Quase dez horas. Vou recordando aqui antes da consulta. Assim não me esqueço.
A atendente chamou o meu nome. Obrigado menina, posso entrar? Pode. Bom dia, doutor. Novidade? Nenhuma. É o mesmo de sempre. Apenas uma dorzinha, boba, que dá quando eu vejo que não posso mais voltar atrás. O tempo passa, doutor. E isso dói. Tem cura? Tem remédio, doutor? Você pode esperar. O tempo passa, mas é você quem escolhe pra onde passa com o tempo. Eu sei, doutor. Mas, escolher não é fácil. Não se pode esperar para sempre. Em algum momento você terá que escolher. Eu sei, doutor. Mas dá uma olhadinha nessa dor nas minhas costas primeiro, sim?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

José, para onde?



Fugi.
Não quero enfrentar.
Quero sumir;
para então me encontrar.
Será?
Será que me encontro?
Ou este é mais um conto-fantasia
fingindo que noite é dia
para sol no céu haver?

Fingir;
outra forma de fuga.
Não se sabe para onde ruma,
e, no chão, o pé que pisa
nem mesmo realiza
que são de areia movediça
as tábuas sob este solado.

Fugir
das fugas e das mentiras.
Mas verdades são sofridas
e elas não quero ver.

Crescer,
para parar de fugir.
Crescer,
para parar de fingir.
Crescer?
Eu quero sumir.

Toma tino, criança.
Tenha esperança, menino.
Veja o caminho à frente
e siga.
Não fuja mais do sofrimento.
Não vês? - sofres mais no fingimento,
e com ele faz sofrer.

Não vês?
Fingindo, vais mais longe de si mesmo.

Siga,
mas de olhos bem abertos.
Sem fingir, fugir,
sem planos de sumir.
Vá que o caminho é certo.
Mas o que há nele
não posso prever.

Incertos somos todos,
vá certo disto.
Dúvidas são como o resto,
sinta. Mas não se deixe levar.
Vá em verdade,
melhor caminho, não há.

Tempestade

Cai a chuva
e logo é temporal.
Não tivemos tempo;
molharam as roupas do varal.

Tempestade, tempestade,
com seus raios e trovões,
faz de mim, um céu escuro,
luz e fogo com os teus clarões.

As gotas - tão pesadas -
caem como bombas.
Mísseis planejados?
Não sei.
Minha pólis devastada
já não posso responder.
Meu chão não tem fronteira
pra reter o temporal.

Alaga minhas vias,
faz correr nas minhas ruas
o mar de sofridão.
Lágrimas caídas dos olhos de lua,
maré sobre faces,
desaguou coração.

A chuva parou.
Logo secarão as roupas do varal.
Mas não secará a dor encharcada
de sangue e de lágrimas
que a tempestade trouxe ao meu céu escuridão.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Noites afora

Quando chego em casa, de madrugada, abro a porta e as lágrimas caem. Parece que passo por um portal que me leva de uma dimensão à outra. Não sei dizer se é melhor a rua. Mas minha morada me prende e me liberta. Meu corpo é minha própria jaula e meu único bem. Minha chave e fechadura. Mas para que lado gira a chave para abrir a porta?
Nos meus cômodos inquietos, o chão molhado de angústias, vejo vestígios do que passou por ali: cacos de uma fotografia distorcida pelas olhos marejados; sons distorcidos pela voz embargada. Esses destroços espalhados pelo chão são o espelho de minha morada. Estou em pedaços. E se tento reuni-los percebo que não é tarefa equivalente ao jogo de quebra-cabeças. Minhas peças são disformes e não se encaixam. Não sei já se encaixaram ou se ainda se encaixarão (talvez nem dentro do caixão).
Inteiras são as minhas dúvidas, por isso vago noite adentro. E quanto volto para casa, percebo que permaneço na rua, ou melhor, me perdi num beco sem saída. É nas noites adentro que tento entender o se passa dentro de mim. É nas noites afora que me perco mais e volto para fora de onde nunca pisei.

Hoje eu

Hoje vi as cores do arco-íris
e olhei para a minha pálida tez.
Hoje ouvi os pássaros cantando
e escutei o meu silêncio abstêmio.
Hoje senti o cheiro das rosas
e inalei minha falta de odor.
Hoje bebi da água da chuva
e lambi a lágrima que chegou à minha boca.
Hoje queimou-me o sol do meio-dia
e gelou-me o frio da espinha.
Hoje mais um dia foi vivido
e com certeza não foi por mim.

Queria lhe contar tantas coisas

Queria lhe contar tantas coisas.
Mas o tempo não o há.
Não que me falte; o tempo.
Mas o tempo das coisas que quero lhe contar
ainda não ocorreu.
Esse tempo esperado, ainda não tive.
Nada posso contar-lhe.
Tenho pressa para certas coisas,
mas em pressa as coisas não saem certas.
Falta-me tempo para as certezas,
sobra-me tempo para a espera.
Queria lhe contar tantas coisas.
Mas agora o nosso tempo acabou.

Unos plurais

Unidade pluralizada;
pluralidade una.

Nós está;
a gente estamos.

Erros da língua portuguesa que nos fazem um.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Minha queda

Estou a dois passos do meu próprio abismo.
Se cair, caio dentro de mim.
Não há fuga para os solitários.
Não há rumo para os sem destino.
Não há vida para os mortos-vivos.
Para esses há apenas a infinita queda
que leva ao seu próprio inferno,
ao rio que corre lá em baixo.
Correnteza de sangue,
queda d'água.
Queda enfim,
no abismo dentro de mim.

segunda-feira, 29 de março de 2010

sábado, 27 de março de 2010

Relações Internacionais? Que troço é isso?

Conteúdo retirado do site Guia do Estudante.

E é o quê?
É a condução das relações entre povos, nações e empresas nas áreas política, econômica, social, militar, cultural, comercial e do Direito. Esse bacharel analisa o cenário mundial, investiga mercados, avalia as possibilidades de negócios e aconselha investimentos no exterior. Promove entendimentos entre empresas e governos de diferentes países, abrindo caminho para exportações, importações e acordos bilaterais ou multinacionais. A internacionalização da economia amplia o campo de atuação desse profissional, que pode trabalhar em ministérios, embaixadas e consulados, grandes empresas, bancos e ONGs.

O mercado de trabalho
O mercado para o bacharel continua em expansão. Nos últimos cinco anos, foram criadas oportunidades principalmente em grandes empresas do setor privado, de olho nos profissionais que tenham visão global e diplomacia para ocuparem posições de gestão. Multinacionais como AmBev, Danone, Unilever e Vale oferecem vagas para trainees, que podem atuar no país ou no exterior. Para quem já tem experiência, instituições financeiras como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial, além de organizações intergovernamentais internacionais, entre elas a ONU, a Unesco, a OMC e a OEA, oferecem boas chances de trabalho, ainda melhores para aqueles que investem numa pós-graduação no exterior. No Brasil, concursos públicos de órgãos como os Tribunais de Contas estaduais e da União e o Itamaraty quadruplicaram o número de vagas em três anos. Os postos de trabalho estão concentrados no eixo Rio - São Paulo e em Brasília (DF), mas novas vagas aparecem nas capitais dos estados do Sul, como Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), por causa da proximidade com os países do Mercosul. Em Cuiabá (MT), polo importante para os agronegócios, as oportunidades são promissoras principalmente na área de consultoria para os pequenos e médiosexportadores. Macaé (RJ), região petroquímica, já oferece postos de trabalho, e a previsão é que dobrem nos próximos anos. O mercado para o bacharel continua em expansão. Nos últimos cinco anos, foram criadas oportunidades principalmente em grandes empresas do setor privado, de olho nos profissionais que tenham visão global e diplomacia para ocuparem posições de gestão. Multinacionais como AmBev, Danone, Unilever e Vale oferecem vagas para trainees, que podem atuar no país ou no exterior. Para quem já tem experiência, instituições financeiras como o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial, além de organizações intergovernamentais internacionais, entre elas a ONU, a Unesco, a OMC e a OEA, oferecem boas chances de trabalho, ainda melhores para aqueles que investem numa pós-graduação no exterior. No Brasil, concursos públicos de órgãos como os Tribunais de Contas estaduais e da União e o Itamaraty quadruplicaram o número de vaga sem três anos. Os postos de trabalho estão concentrados no eixo Rio - São Paulo e em Brasília(DF), mas novas vagas aparecem nas capitais dos estados do Sul, como Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), por causa da proximidade com os países do Mercosul. Em Cuiabá (MT), polo importante para os agronegócios, as oportunidades são promissoras principalmente na área de consultoria para os pequenos e médiosexportadores. Macaé (RJ), região petroquímica, já oferece postos de trabalho, e a previsão é que dobrem nos próximos anos.

O curso
O currículo divide-se em três grandes áreas: política, direito e economia. Durante o curso, você estuda muita sociologia, economia e história. Além disso, tem aulas práticas com simulação de negociações políticas, empresariais, comerciais e diplomáticas. É uma graduação que exige bastante leitura e o domínio de línguas estrangeiras – o inglês é indispensável. A maioria das escolas exige que seus alunos façam estágio em empresas ou instituições públicas ou privadas com atuação internacional. É obrigatória a realização de um trabalho de conclusão de curso.

Duração média: quatro anos.

O que você pode fazer
Agências governamentais: Planejar ações dos governos federal, estadual ou municipal nos setores político, econômico, comercial, social e cultural.

Analista internacional: Coletar dados e elaborar relatórios sobre a conjuntura internacional para órgãos governamentais, empresas privadas e ONGs. Participar da elaboração de programas de cooperação com outras nações.

Comércio exterior: Identificar oportunidades de comércio com outros países e intermediar a importação e a exportação de produtos.