I - Dizem por aí
Viver é estar.
Saber é sentir.
Morrer é passar.
Chegar é sair.
Certeza é ofegar.
Partir é doer.
Aprender é chorar.
Acertar é querer.
Chorar é quebrar.
Sorrir é vencer.
Perder é tentar.
Tentar para quê?
II - O certo e o errado
Num certo momento
tive certas duas portas
as quais certas pessoas
indicaram um certo caminho.
Outras certas pessoas
indicaram outro certo caminho.
Mas tenho certas fraquezas
para escolher um certo destino.
Adentrei uma certa porta
buscando um certo destino.
Mas certos destinos não servem
quando são para um certo menino.
E desta certa porta que entrou
saiu um certo mesmo menino.
E foi em busca da outra certa porta
que escolheu certa vez sozinho.
E em certo momento pensou:
escolhi certo escolhendo sozinho?
E desta vez certo de si falou:
não importa a porta que entre
pois mesmo errados os passos à frente,
certos são os que vão seguindo. E
quando o caminho é seu, certo é
aquele que parte para perto do menino.
III - Crescer
Ai, sou menino.
Cresço.
Ai, sou rapaz.
Pereço.
Ai, que homem não sou.
Ai, que nem homem pareço.
Ai, sou menino.
E tento.
Ai, sou rapaz.
Me arrebento.
Ai, que homem não sou.
Ai, que nem homem intento.
Ai, sou menino.
Ai, sou rapaz.
Ai, isso não posso mais.
Ai, crescer faz doer.
Ai, homem para nascer deve romper a casca,
deve por cara a tapa,
deve sofrer e atingir.
Homem nascendo, crescendo.
E um homem não fingindo,
nem fugindo dos trabalhos e comandos.
Ai, que de menino fui para rapaz.
Ai, de rapaz, em homem forjando.
IV - As mãos de um homem
As mãos do homem estão sujas
do sangue de suas veias,
do leite de sua mãe,
do suor do seu pai,
dos fluidos da sua mulher.
As mãos do homem carregam
o peso de ser quem é,
o peso de buscar quem é,
o peso de saber o quê,
o peso de estar aquém.
As mãos do homem indicam
o caminho de onde veio,
o caminho que não se vai,
o caminho que traz receio
o caminho que tanto anseio
e o caminho que leva além.
V - O homem e a porta
Antes de passar a porta era menino.
Sentou e aprendeu que ali não era eu.
Na mesma porta falou, se ouviu
a mulher o espelhou e assim decidiu.
E fez então que a porta por onde entrou
não era a mesma por onde saiu.
Não. Se enganou o rapaz.
A porta jazia a mesma.
Mas aquele que partiu voltou atroz.
Já não era o mesmo,
nem um mesmo de nós.
O rapaz num contorno
fez um homem novo.
E o homem que saiu da porta
escolheu um novo caminho.
O velho redemoinho que habitava o seu coração.
Passou a chave na porta
e dessa vez sem devolução.
VI - Este é o maior erro da sua vida
Quando caiu no vento a notícia das escolhas
o homem sentiu frio na espinha.
Ele sabia das palavras que ouviria
e por isso demorou a decidir-se.
Mas agora que a escolha estava feita
não havia desfeito no feitiço.
E foi então que deu o rebuliço
como uma festa de tantos Mas porque isso?
e Que escolha imbecil!
Mas como homem ouviu e respirou
e com a armadura da sua verdade se revestiu.
Sentiu, pensou e falou da portas e caminhos que passou;
do tempo e crescimento que fundiu
num novo homem, velho sonhador.
E tentaram fazer-lhe ver erros nas certezas que o faziam chorar.
E ele viu fogo nas centelhas que o fizeram gelar.
E ele seguiu firme no destino que quis para si.
VII - Final?
E agora se segue.
Se persiste e se cai.
Se aprende na lama,
se guarda no sol.
E atende ao chamado
e escapa do anzol.
Se esconde da chuva,
se molha de amor.
E retira as agulhas
e limpa o bolor.
Se retira do escuro
para sair no amanhã.
E não pára na esquina.
E contempla o cetim.
Perde tempo nas carícias,
corre nos restos do jardim.
Sofre e recobra os sentidos,
não aposta no bem ou no mal.
Escreve tua vida aos inícios
recolore os teus versos finais.