quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Adeus, 2009.

2009 começava comigo num jantar com Themis, Waldyr e Bernardo. Um belíssimo jantar, por sinal. Depois, eu e Themis ficamos trêbados e ficamos conversando até sabe-lá-deus que horas. Aquelas conversas de bêbado? Sim, é verdade. Mas, eu sempre me lembro do que falo quando alterado pela mardita cachaça. E foi uma conversa sincera e instigante. Me fez pensar bastante.
Fevereiro, mês do meu aniversário, e mais uma vez não fui para Barra de São João no carnaval. No meu aniversário (feito em cima da hora) poucos apareceram. Eu havia almoçado com minhas alunas e foi bem legal! Foi a última vez que vi Ana Margarida, que veio a falecer poucos meses adiante. À noite, foi legal, mas faltava alguma coisa (ou algumas pessoas).
Em março eu não poderia prever o que aconteceria. No dia 8, um domingo, mais um domingo em que Lorena iria lá em casa para ver um filme, sentimos alguma coisa no ar. 10 dias depois nos falamos pelo msn e declaramos os nossos sentimos. E, enfim, no dia 24, nos encontramos e começamos essa relação tão linda e tão maravilhosa que vivemos até agora. Foi também o mês em que saí da Produtora-Escola para fazer o Pré-Vestibular.
Abril chegou e passou sem muitas emoções. É claro que devemos levar em consideração o florescer da minha literatura. Graças a vocês e à minha musa, comecei a escrever poesias e contos. Um vício que não largo por nada nesse mundo.
Os meses se passaram e fui fazendo novos alunos, novos amigos. Fui pensando, crescendo, aprendendo, errando, pensando, ... rs Junho foi um mês de novidades em vários sentidos. Muitas coisas novas e novas sensações. Acredito que nunca tive um ano tão bom até hoje.
E dúvidas foram surgindo. O que eu estava fazendo no pré-vestibular? A vida é tão curta. Não devia eu estar correndo atrás dos meus sonhos? E foi o que decidi fazer. Larguei o pré. Fiz o vestibular, sim, mas tentando o curso de Letras Português/Literaturas. Comecei um curso de interpretação, e tenho os meus planos para o ano que segue: escrever mais e fazer. Fazer aquilo o que a minha arte mandar. Obedecer ao meu monarca bufão que vive no meu interior. Ouvi-lo e seguir as suas demandas.
Obrigado a todos que fizeram parte deste ano tão simbólico e tão belo. Um belo fim de década, não?

domingo, 27 de dezembro de 2009

"Metarefrão Microtonal e Plurisemiótico"

Mandei um e-mail dark humor para alguns amigos e recebi de resposta algumas palavras de desapontamento. Bem, sou eclético quanto ao meu gosto musical e imaginei que, conhecendo-me, todos veriam que não passava de uma piada.
Não posso negar que esperava a resposta dessa amiga do jeitinho que ela me respondeu. Sabia que ela não gostaria da brincadeira (nem sei porque mandei pra ela, afinal) e até pensei em escrever no e-mail algumas explicações do porque lhe enviava aquilo. Pois bem, para mostrar que não tenho problemas com nenhum gênero musical - graças a deus! - deixo aqui no blog um trecho de uma entrevista do Tom Zé ao Jô que nos mostra um lado pouco analisado de um certo estilo da música carioca: o Funk.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Eucaristia

Na cama,
somos cobertos apenas pelo véu quasenegro
da pouca luz.

Nossos corpos nus,
numa famigerada dança,
faz coreografia de passos sujos
e gestos carnais.

Eu te tomo entre os meus lábios,
te mordo, e salivo ao bel-prazer
do teu sabor doce e molhado.

Tomai, todos, e comei:
isto é o meu Corpo
que será entregue por vós.

Como um vampiro, sedento de sangue,
quero sugar o que corre dentro de ti.
Como criança que brinca na lama,
quero me lambuzar na fonte do teu gozo,
me inundar nos teus gemidos
e me banhar no teu suor.

Tomai, todos, e bebei:
este é o cálice do meu Sangue,
o Sangue da nova e eterna aliança.

E todos os dias,
a cada furtiva sensação de torpor,
pense em mim e em nossos momentos de gritos e sussurros,
de pele e sentidos,
de instintos e pulsões.

Fazei isto em memória de Mim.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Meus pés sobre a escuridão

Pé ante pé,
saio pelas ruas à procura de minha sombra.
Mas é noite, e nem a lua
minha rua ilumina.

Como encontrar essa parte tão disforme e obscura de mim
se não tenho claridade para confrontar-me?
Terei que esperar amanhecer para encontrar a minha sombra?

Caminho sem saber por onde;
sem saber se onde piso é grama,
asfalto ou um rio onde correm as suas lágrimas.
Caminho e esbarro em meus medos.
Caminho e não me canso.
As pernas que me levam são minhas,
já acostumadas ao rumo dos segredos.

Ainda sem parar,
pé após pé,
vejo uma luz bem no fim do horizonte.
Não sei se é o fim do limbo,
o início de um paraíso,
ou a chama de um inferno anunciado.

A minha luz vai crescendo e tomando a via,
tomando as formas e me engolindo.
Sumo e na luz total ainda não tenho sombra.
Não me encontrava nas trevas
e agora me perdi na imensidão branca da luz.
Talvez não seja o externo, mas sim os meus olhos
que nunca tenham aprendido a enxergar além das maçãs.

Pés sobre pés:
estou num mar de homens.
Perdidos, cegos e
errantes.
Juntos, caminhamos pela via
(escura ou clara?) -
já não faz diferença.

Nosso caminho é o eterno perder-se.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Ainda não é 31de dezembro

"Você quer fazer cinema? Pegue uma câmera."
Godard

Sei que ainda não é tempo de fazer as promessas ou predileções para o ano que vai nascer. Mas, tenho pensado seriamente no ano de 2010. Fico pensando em como serão os dias desse ano tão redondo. Faço 20 anos logo em fevereiro. Será que eu estarei na universidade? Quais cursos farei nos próximos 365 dias?
Tenho lido. Bastante. E isso me excita à escrita. Minha avó paterna já me mostrou qual será o meu presente de natal: O Manual do Roteiro, de Syd Field. Estou terminando de ler "Conversas com Almodóvar". No início do ano eu terminava de ler "Conversas com Woody Allen". Há alguns meses li "O Clube do Filme" e "Cartas a uma Jovem Atriz". Cada vez mais, porém aos poucos, fui de vez aceitando minha condição de artista. Minha persona criadora e louca dominou-me de vez, mas ainda não dominou as rédeas das ações. Estou montado num cavalo que tem tudo para correr, mas não sabe levantar as patas do chão. Como Fernão Capelo Gaivota, que precisa voar cada vez mais alto, superar todas as suas próprias limitações, para enfim saber voar como sonha. (...) Não sei se estou sendo claro, mas quero dizer que agora que defini o que quero para mim não significa que tudo facilitou. Pelo contrário. Agora só posso culpar a mim.
Voltando à citação de Godard e às palavras de Almodóvar e Woody Allen, vejo que sou o único que pode me ajudar. E que eu preciso me ajudar. Principalmente botando para fora (o que ainda não sei como) a minha arte. Sou um ator. Isso eu sei. Sinto isso desde que me entendo por gente. O piano veio depois, mas mais como um hobby. As minhas poesias são filhos naturais. Não saberia não fazê-las. Mas, depois de tantas ideias abortadas, esquecidas e negligenciadas, não posso mais retirar-lhes o direito de existir. Em 2010 eu escrevo e realizo. Sem dúvidas. Não sei o quê, nem como. Mas farei um filme. Curta, longa, 35mm, em celular, não interessa. E aí também entra uma coisa que nunca pensei a priori, mas também nunca deixei de cogitar: dirigir.
Escrever e dirigir. Atuar e ser poeta. Tocar piano nas horas vagas, e, quem sabe, um dia escrever um musical. Não é megalomania, mas sinto-me um autor. E preciso expor a minha autoria. Preciso de uma obra para reconhecer-me e compreender-me. Preciso criar. Brincar de Deus talvez me fará mais humano.

Qual é a música?

O que será que eu estava cantando?

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Todo o meu amor

Queria que todo o meu amor se expressasse num beijo.
Que meus lábios soassem como um hino,
que minha língua dançasse em tua honra.

Enfim,
que todo o meu amor se fizesse claro num beijo.
E assim, quem sabe,
eu possa a cada beijo ser mais fiel ao meu sentimento,
ser mais sensível ao teu amor,
e te amar mais a cada beijo.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O Sexto Sentido

A luz toca a retina.
Íris, pupila,
globo ocular.
Explosão de cores.
Visão.

O odor toca a narina.
Septo. Cheiros
passeiam no ar.
Explosão de odores.
Olfato.

O gosto toca a língua.
Doce, salgado,
só não pode azedar.
Explosão de sabores.
Paladar.

O som toca o ouvido.
Tom, semitom e
os pássaros a cantar.
Explosão de tambores.
Audição.

O torpor toca pele.
Gelado, calor.
Vem me acariciar.
Explosão de tremores.
Tato.

Enfim o sexto sentido.
É este um sentido à parte,
ou a soma de todos ou outros?
Não posso responder.

E o gozo toca a alma.
Íris, narina, língua,
tom, semitom e calor.
Explosão de sentidos.
Implosão de recatos.
Fundi-se paladar, olfato e tato.
Soma-se visão e audição.
Resulta o mais forte,
o mais perigoso,
o mais real dos sentidos.
Fratura exposta na derme do desejo:
Tesão.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Em janeiro, "Avenida Q" de volta ao Rio!!!

Ao que tudo indica, o espetáculo Avenida Q volta aos palcos cariocas em janeiro de 2010. O musical deve retornar ao Teatro Clara Nunes no Shopping da Gávea.

Enquanto isso ... vamos voltar ao clima da Avenida Q!


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Impressão digital


A polícia chega cerca de 17 minutos após a chamada. Logo os oficiais passam aquela fita amarela em volta da casa. Sobem as escadas e, para os peritos, a cena deixa claro que o crime foi cometido entre às 21h e 22h do mesmo dia. É quase meia-noite agora e o detetive se aproxima do corpo. Um homem, por volta de 30 anos, altura mediana, moreno, está estirado na cama. O sangue que manchava a cama vinha de suas mãos - completamente sem dedos. Foram decepados, disse o detetive.
Alguns minutos depois as evidências são coletadas e levadas para análise. Ao lado do corpo foram encontrados um vestido, uma blusa branca (provavelmente da vítima) toda manchada de beijos vermelhos, alguns fios de cabelo comprido (provavelmente da dona do vestido) e um par de luvas. Os detetives tem a esperança de encontrar vestígios do assassino - seriam as luvas descuido ou afronta?
A casa está livre de pistas, nada leva ao criminoso, mas em compensação o corpo está coberto de impressões digitais. Todo, todo, todo coberto; da cabeças ao pés. (...) Na retirada do corpo, encontraram a carteira do falecido e uma carta embaixo do travesseiro. A carteira tinha dinheiro e os documentos, mas o seu documento de identidade tinha um buraco. Arrancaram a impressão digital do polegar da vítima. É claro que um fato desses faz rostos contorcerem em indagações. Indagações essas respondidas após a leitura da carta:

A quem encontrar essa carta que não se compadeça deste homem estirado sobre a cama. Este cafajeste roubou a minha vida. Me iludiu, disse que me amava e um dia me virou as costas para fugir com uma outra qualquer. Não se explicou e nem se despediu. Desde esse dia perdi a minha identidade. Vaguei sem rumo até descobrir que a vingança seria o meu único refúgio. Então juntei minhas poucas últimas forças e voltei até aqui, até a casa onde este homem me tomou como sua tantas e tantas vezes, para tentar reconstruir a minha identidade. Após matá-lo - e não descrevo tal manobra pois eu mesma não saberia dizê-la - me vi estúpida. De nada adiantou. Eu era ainda a mesma mulher sem rumo de antes. De depois dele. Então fiz a única vingança que ainda me era disponível. Dei a ele de mão beijada o que calhordamente já havia me roubado: a minha identidade. Enchi-o de impressões digitais minhas, enchi-o por todo o corpo. E para completar carreguei comigo a sua identidade. Não me bastavam os dedos. Não queria uma só lembrança de suas impressões.
Nem percam tempo me procurando. Uma mulher sem nome e sem identidade. Sem impressões, mas que ainda impressiona, não?
Gostaria de terminar essa carta com uma gargalhada. Pena que não fiquem bem no papel. Mas, ainda me resta uma última vingança. À meia-noite a casa explodirá e aí sim, nem saberão da minha existência e nada sobrará do canalha. Peço desculpas a vocês, mas na guerra (mesmo na guerra do amor) se perde inocentes.

Só deu tempo de todos olharem para os seus relógios de pulso, para o celular ou para o grande relógio acima da cama e verem os três ponteiros se alinharem no número XII.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Senhor da própria casa

Dou ordens,
e quem me escuta?
Serei eu vítima da minha autoridade?
Onde estão esses indolentes,
insolentes servidores?

Em minha casa quero respeito.
Quero ordem e ...
Mas, quem me escuta?
Estou eu falando sozinho?
Só eu e as paredes que há em mim.
Á minha volta, dentro de mim.

Atenção, atenção!
Ouçam todos!
Organizem a bagunça desta alma,
limpem a sujeira desta mente,
dêem sentido à essa vida.
Façam o que eu digo.
O que eu faço seria sinal de exemplo?
É em mim que o meu eu se espelha.

Ó, Senhor!
Tu que sois onipotente,
onipresente e
onisciente!
Tu que és e que isto a ti basta.
Ajuda-me com estes infelizes que não sabem
uma ordem acatar.
Sou Senhor em minha casa
mas nela não sei mandar.
Sou Senhor em minha casa
mas nela não sei me impor.
Sou Senhor em minha casa
e em minha própria casa não sei morar.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Feliz Aniversário, Woody Allen


Hoje o velhinho mais jovem do cinema americano apaga 74 velinhas!

FELIZ ANIVERSÁRIO, WOODY ALLEN!

Depois de nos homenagear ...


Aqui vai a nossa homenagem, Woody querido!

Quem aqui também entraria no clube do Woody???

Frases do Woody:
  • As duas coisas mais importantes na vida são: primeiro o sexo e a segunda eu esqueci.
  • Não quero atingir a imortalidade através de meu trabalho. Quero atingi-la não morrendo.
  • Coerência é o fantasma das mentes pequenas.
  • Eu não costumo pensar em mulheres, a não ser quando estou respirando.
  • A tradição é a ilusão da permanência.
  • O dinheiro é melhor do que a pobreza, ainda que apenas por razões financeiras.
  • O sexo é a coisa mais divertida que se pode fazer sem rir.
  • O sexo sem amor é uma experiência vazia. Mas como experiência vazia é uma das melhores.
  • O dinheiro não dá a felicidade, mas tem uma sensação tão parecida, que precisa um especialista muito avançado para verificar a diferença.
  • Quando eu era pequeno, meus pais descobriram que eu tinha tendências masoquistas. Aí passaram a me bater todo dia, para ver se eu parava com aquilo.
  • Talento é sorte. A coisa importante na vida é ter coragem.
  • Talvez os poetas estejam certos. Talvez o amor seja a única resposta.
Woody nunca deu valor à prêmios ou cerimônias do gênero (para ele, nada mais do que festas políticas). O que ele sempre gostou foi de fazer a sua música, seus filmes e seguir a sua vida. Mas o que, segundo o próprio Mr. Allen, o impedia de comparecer à festa do Oscar era que no mesmo dia ele tinha um compromisso inadiável: tocar com a sua banda de jazz.





E quem venham mais aniversários, mais filmes, mais jazz ...

Dolores, Dolores, Maria das Dores

Criança travessa merece castigo.
Me pune, me pune.

Um dia tive poder -
me tiraram.
Puniram-me e
não sei o porquê.

De vingança, fiz um preparo
de raiva e fúria.
E tomei num só gole
em resposta ao desamparo.

Depois de beber a poção,
deixo de ser-me e
viro o grande Outro.
Agora, ocultada a angústia,
posso seguir com a vingança.

Vens para me penetrar com a tua lança.
E me lanças a mão antes de me laçar entre as pernas.
Me preenche com o teu domínio
e me fere com as tuas formas.
Estou aqui para isso.
Rompes o véu e
ultrapassas as minhas vísceras
chegando enfim ao meu prazer.

Com a dor que me resta
faço o gozo e um espelho.
Me vês como quero que me vejas.
Sou um corpo ou dois.
Sou eu e o outro.
Mas percebes somente o que permito.
Permuto as minhas faces,
mas não os meus vestígios.
Do fundo do meu grito
há horror e sofrimento.
Na base da minha lágrima
há um nu contentamento.

Se fiz assim foi porque quero,
quis e hei de repetir.
Minha vingança é só o início
e dependes de mim para existir.
Minha dor é tua algema,
teu desejo e tua lição.
Criança travessa merece castigo
e dei-me a clara punição.

sábado, 28 de novembro de 2009

Pluma, ninfa, bruma

Deitado vejo
a cortina da minha janela dançar.
O vento é o seu parceiro.
Nesta dança,
o vento faz a cortina revelar a janela.
Como num passo da coreografia -
em que, por acidente, o vestido da menina levanta
e desnuda suas intimidades - no esvoaçar na janela
meus desejos ficam nus.

Com a janela aberta e quase adormecido,
já estou sonhando.
Queria vê-la nua,
assim como o meu desejo.
Nua porque és o que desejo.
E virias com os cabelos dançando com o vento.
E virias lentamente, não como uma pluma,
mas como uma ninfa.
Ou como a bruma,
tão livre dos pecados que já não possui formas para se prender.
No meu sonho, doce em neblina,
dormiríamos juntos - abraçados
e de olhos abertos -
até a última gota de suor morrer cansada em nossos corpos.
Aí sim cerramos os olhos,
e ofegantes ainda,
deitamos e nos vemos.

Olho a janela e é você.
Lá vai você
embora com o vento.
Aumenta o calor no quarto,
a saudade no peito,
o peso nos olhos.

Durmo.
Sonho que estava deitado,
a cortina cai da janela,
mas não vai ao chão.
A cortina cobre um corpo lindo
- ora, é o seu corpo -
e deitas ao meu lado e
me cansas até o eu dormir
no sonho.

E dentro do sonho eu
sonho de novo,
e de novo,
e de novo.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

O Despertar da Primavera

E o corpo mostrou o que já sabia.
O corpo escondia o segredo,
meu corpo escondia.
Agora revelou-me coisas que eu não sentia,
que já sentia,
mas não sabia.

O que corre em meu corpo não é mais só sangue nas veias.
o que corre em meu corpo
ocorre quando estás por perto,
mesmo que o perto seja só
perto do meu pensamento.

O meu corpo mostrou o que já sabia.
O meu corpo despertou o que em mim adormecia.
A natureza, viva e esperta,
ativa e, agora, desperta,
faz crescer em mim um grito
que não é som,
mas sim movimento.
Se estou vestido é para cobrir este movimento vertical
e nada silencioso.
Esse grito do meu corpo
que busca não o céu,
mas sim um refúgio.
Um refúgio, mas não para calar-se.
Um refúgio para ecoar-se.

Meu corpo agora sem vestes ou segredos
quer gemer e soluçar a libertação dos seus medos.
Meu corpo agora sem pudores ou vergonhas
que vestir-se somente com o seu suor.

Meu corpo quer esse canto explosivo.
Meu corpo quer dançar a dança original
na coreografia germinada da semente da maçã.

Quero morder o teu pecado
e beber o sumo do teu sacrilégio.
Vem comigo calar o Deus
que quer punir o desejo.
Vem comigo calar o homem
que quer calar o meu corpo,
o teu corpo
e outros corpos cansados de laços e botões.

Canta e entoa.
Grita e ecoa.
Faz barulho,
cria o som, a música
e o movimento
da melodia do prazer.
Quero viver o infinito desta canção da carne.

Faz calor entre os nossos umbigos e,
fora eles, quem sou eu
se não o teu próprio corpo?
Quem poderá dizer das quatro mãos que correm este novo ser,
uno e indivisível,
uno e inseparável,
uno e inevitável,
quem poderá dizer das quatro mãos qual o par
que a cada um pertence?
Nossas mãos colhem,
nos calos do segredo exposto,
as flores plantadas no Jardim do Éden.

Não importa o tempo.
Não importam as estações.
Sou imortal na primavera
do instante do grito de amor.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Toques

Carinhosa comigo.
É assim que se mostra a mão da mulher ao primeiro toque meu.

Temerosa comigo.
É assim que se mostra a figura da mulher ao segundo toque meu.

Ansiosa comigo.
É assim que se mostra a boca da mulher ao terceiro toque meu.

Enroscada comigo.
É assim que se mostra a perna da mulher ao quarto toque meu.

Preenchida comigo.
É assim que se mostra a vagina da mulher ao quinto toque meu.

Suada comigo.
É assim que se mostra a pele da mulher ao sexto toque meu.

Seis toques meus e a mulher foi minha naquele momento.
Então ela me beija e me fala coisas ao pé do ouvido.
Seu primeiro toque já me faz ninguém.
Seis toques para dominar aquela mulher por um tempo,
um beijo e sua palavra para me dominar para sempre.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Novo trailer! De quê? De NINE!!!!!!!!

Mais e mais ... Nine não acaba jamais!

Sabe as músicas Cinema Italiano e Take it All????????
As que eu pus pra baixar duas postagens abaixo?

Então ... ouças-as aqui!!!


E não volte nunca mais

Vá, mas não demore.

Ah, como dói ver-te partir.
É só fechares a porta e a partir
desse momento não há como apartar
esse meu coração partido
que anseia que estejas por perto.

Pobre coração despedaçado.
Partido é porque foi a sua procura.
Me largou, coração injusto,
que não quer mais o seu dono
e sim a companhia da sua existência.

E eu, sem meu coração,
o quero e quero também a sua permanência.
Somes na primeira esquina e esperar que reapareça é crer na esperança.
Como posso assegurar-me de que estás bem e saudável se não posso te ver,
se não posso te tocar e sentir sua respiração e seu rubor?
Como podes assegurar-te de que estou bem e saudável se levaste contigo a minha paz?
Se meu corpo treme de frio no mais quente verão?
Se minh'alma arde em febre no mais gélido inverno?
Se meu sorriso se desfaz e toca o chão como folhas secas estando nós na viva primavera?
Se minha pele está pálida e esbranquiçada enquanto o outono pinta o horizonte de vermelho?

Não posso suportar a dor de um corpo sem coração.
Para sentir-me preenchido preciso estar ao teu lado.
Volta? Volta logo?
Faz a volta no fim da rua e reaparece aqui na esquina?
Me desperta? Me acorda com um beijo e diz que você nem havia saído da cama?

Se há o que partir, parta a minha dor.
Se há porquê partir, parta para dentro de mim.
E não volte nunca mais
para longe e fora da minha pele.

Fortaleza

Tento ser forte,
mas o máximo que consigo é aparentar.
Minha fortaleza é feita de areia de praia.
Da mais fina areia de praia.
Daquela que, mesmo banhada pelo mar ou moldada por mãos artesãs,
não firma formas e a primeira rajada de vento faz fortaleza virar pó.

Se minha fortaleza é feita de grãos de areia,
se os meus alicerces não tem o que os sustente,
trate com cuidado a princesa na minha torre.
Não pela princesa, ou pela torre,
mas tome cuidado pela fortaleza.
Se a fortaleza vira pó,
se a fortaleza ruir e cair,
não há mais como proteger a torre e a princesa que lá reside.

Sim, "que lá reside".
Esta princesa não é prisioneira.
A torre é a sua morada por opção.
É na torre mais alta da fortaleza onde ela se guarda para aquele que tem a chave.
A chave mestra.
Mas, não basta ter a chave.
Para chegar até a princesa
tem-se que saber pisar com cautela
pois a fortaleza é feita de areia de praia,
lembra?
E qualquer rajada de vento faz fortaleza virar pó.

domingo, 15 de novembro de 2009

Ainda mais de NINE!


Gente! A cada dia mais taquicardia! rs

Vazaram quatro faixas do cd com a trilha sonora de NINE (cd este que só vai sair no dia 22 de dezembro). Baixe-as clicando no nome da música!

Be Italian (Stacy Ferguson, a Fergie dos BlackEyed Peas)

Cinema Italiano (Kate Hudson)

Take it All (Marion Cotillard)

Unusual Way (Griffith Frank - essa música no filme é cantada pela Nicole Kidman - esta é uma faixa bônus do cd)

Estou enlouquecendo com as músicas! Be Italian é legal ... mas já está meio batida. É o tipo de música que agora só vai impressionar no cinema mesmo!
Agora ... Cinema Italiano não sai da minha cabeça! Kate Hudson está dando show!
Take it All acaba com a minha vida. O que é Marion Cotillard???
E Unusual Way está linda na voz desse cantor. Mas isso só faz minha angústia por ouvir Nicole Kidman aumentar!
Enfim ... CHEGA LOGO 15 DE JANEIRO!

sábado, 14 de novembro de 2009

Mais de NINE

Gente ... a cada dia que passa eu fico mais louco!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Agora temos dois pedacinhos do filme! As canções "Cinema Italiano" (composta especialmente para o filme) e "A Call from Vatican".



quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Como são belas as mulheres pegando chuva

Como são belas as mulheres pegando chuva!
Os cabelos molhados fazem cascatas descerem os seus ombros;
a água corre o colo e os seios, pela arrogância da juventude,
emergem na blusa que, colada no corpo,
faz aparente as curvas do teu corpo.
A calça, pesada, encharcada da chuva,
faz teus passos, antes leves,
parecerem uma marcha - mas
sem nunca perder a ternura.
É claro! És mulher mesmo debaixo de chuva, vendaval,
inundação ou maremoto.
Se a maquiagem é à prova d'água
nada impede a mulher de sair à rua,
debaixo da chuva e mostrar-se bela,
arrogante na sua juventude,
imponente nos seios molhados e aparentes,
bela, úmida e irresistível.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Tudo Pode Dar Certo


Acabei de assistir ao novo filme de Woody Allen! Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works, no original, EUA-2009) pode ser considerado um retorno. Um retorno a Nova York, um retorno às neuras e hipocondrices, um retorno ao humor rápido e ácido que só Woody sabe fazer e mesclar toda essa sua insanidade deliciosa com pensamentos profundos e citações filosóficas. Logo de cara, Boris Yellnikoff (Larry David, maravilhoso na persona Woodynesca) já esbanja seu jeito de ser e de pensar e revela a característica narrativa do filme: um bate-papo direto entre o personagem central e o público do cinema. Seria este mais um retorno? Uma auto-citação por A Rosa Púrpura do Cairo?

No desenrolar da história, vemos Boris conhecer Melody (Evan Rachel Wood): uma sulista que chega a Nova York em busca de uma nova vida. Os dois iniciam uma relação que o próprio Boris jamais poderia prever. A chegada inesperada de Marietta (Patricia Clarkson, adoravelmente perfeita no papel), mãe de Melody, faz a vida de todos irem mudando aos poucos (inclusive a dela mesma).

Um filme que nos leva pelas voltas que a vida dá, seja pela sorte ou acaso, seja pelas decisões tomadas e suas consequências, este novo trabalho de Woody Allen é um brinde à mudança, mesmo que você nunca deixe de ser o mesmo. Um espelho (talvez) do próprio Woody: que muda sempre (o camaleão de Zelig) a cada filme (vide seus últimos trabalhos) mas não deixa de ser o neurótico mais genial que o cinema encontrou.


Só pra citar a trilha sonora (como sempre maravilhosa), o filme abre com Grouxo Marx (presença constante no filmes de Woody Allen) e tem ainda uma música que também está presente na trilha de A Era do Rádio (Radio Days).

domingo, 8 de novembro de 2009

Ser

Será que este é mesmo o teu nome
ou será um hino,
um mantra ou
um canto de despetar feras
e adormecer deuses?

Será que este é mesmo o teu corpo
ou será um templo,
um esconderijo ou
uma morada para seres mágicos
e criaturas desconhecidas?

Serei eu mesmo o teu escolhido
ou serei um jogo,
um brinquedo ou
mais um, descartável na tua coleção de amores?

Seríamos nós felizes
ou somos apenas uma ilusão,
uma fantasia ou
uma espeança de eternidade
no efêmero calor da paixão?

Será?
Seria?
Seremos?
Porque não apenas sejamos?

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Allan Stewart Königsberg



Imperdível, não é? O CCBB - RJ faz uma mostra especialíssima com títulos de rara disponibilidade em nosso país. É o cinema único de Woody Allen. Serão filmes do cineasta mas a mostra contará também com películas em que ele participou apenas como ator como "Testa de Ferro por Acaso".

A programação você confere no seguinte site: http://www.woodyallen.com.br/.

Veja abaixo Woody cantando em seu filme "Todos dizem 'Eu te Amo'":


Mais do Mr. Allen! Uma homenagem aos seus filmes dos anos 70':


Agora VAI SE ARRUMAR E VAMOS LOGO PRO CCBB!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Amor de primavera

Nos conhecemos em setembro.
Outubro passou - um mês desses em que não vemos.
Mais um mês ... Te reencontro em novembro.
Então chega dezembro e você vai me esquecendo.
Parece que já não lembro
o porque da paixão.
Quando janeiro vem, já não mais
nos reconhecemos.
Não faz mal,
é o nosso amor de primavera ...
agora, só no próximo
setembro.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Selo

Ganhei o meu primeiro selo!!! Mas, tenho regras a seguir: devo indicar mais cinco blogs a tal prestígio para me fazer digno de tal condecoração.
Então aqui vão os meus indicados, e queridos blogs:

Careta VC

Espero que vocês gostem assim como eu gostei!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Por aquilo que não vejo

Não é pela cor dos teus olhos,
ou pelo toque dos teus lábios,
ou por tuas pernas, seios
ou ombros.

Eu te amo por aquilo que não vejo,
por aquilo que não posso tocar com as mãos,
mas que me esbarra a alma.

Talvez sejamos parecidos,
talvez sejamos estranhos.
Quem poderia prever que nossas vidas se uniriam?
Mas, bastou o encontro de nossas almas,
esse leve esbarrão,
e nossos olhos também se esbarraram,
nossas mãos também se esbarraram
e enfim nossos lábios também se esbarraram.

Assim,
ainda não posso dizer que te conheço profundamente,
descrever-te seria trabalho mal-feito,
mas se quiser fazer perguntas
faça à minha alma
e ela te dirá dos teus olhos, dos teus ombros
e seios
e dirá mais ainda sobre a tua alma
e sobre a minha;
elas que se esbarram antes de nós,
na via movimentada e turbulenta das nossas existências,
se conhecem melhor do que qualquer casal longevo,
melhor do que nós mesmos,
e se amaram antes de qualquer futuro.
Parei no presente perpétuo do encontro de nossas almas:
esbarrão de leve,
fusão profunda.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Meu menino e meu bonde

Menino!
Subiu no bonde, veja,
e nem sabe pra onde vai ...
Esse menino moleque
que corre na minha rua,
joga bola e pião,
corre na minha rua atrás de pipa
e de balão, mas
quando some na esquina da minha rua
não sei mais pra onde vai,
não.

Esse menino sobe no bonde
e viaja o bairro como se fosse o mundo.
De cada casa ele faz um novo país.
De seus moradores, ele faz estrangeiros.
Por isso o menino sonha no bonde que é poliglota.

Desça do bonde menino!
Mas, desça só quando ele parar.
E então me leve menino
neste bonde,
não sei pra onde,
mas me leve.
Quero fazer meus próprios mundos,
quero sumir nas esquinas
como faz você menino
quando corre na minha rua.

Onde é a estação do bonde,
menino?
De onde ele vem e pra onde ele vai?
Quero fugir do meu mundo,
menino, mas não sei ...
cadê o bonde?
Cadê você, menino?
Veja ...
pulou do bonde correndo,
e continua correndo pela minha rua
sumindo na esquina
como somem os meus sonhos e os meus mundos.
Meu bonde passou.
Será que ainda posso correr atrás do
bonde do meu destino qual não vi?
Não sou mais menino, mas ...
Ouço o sino ao longe.
É o meu bonde!
Cadê esse menino?
Veja ...
lá volta ele correndo minha rua acima
com a pipa na mão.
É tão belo o menino cheio de sonhos e sujo de terra.

Veja ...
Admirei o menino e perdi minha condução ...
Então ... vou sumir na esquina da minha rua
e só volto de bonde,
correndo saltarei em minha rua,
não com pipas,
mas com sonhos nas mãos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Glee - uma nova paixão


Há algum tempo eu via a palavra Glee nos TT do Twitter. Não fazia ideia do que isso queria dizer ... Mas, agora:


Agora eu só quero saber de Glee! Estou baixando os episódios aqui - e estou super-ansioso porque o próximo só chega dia 11/11 ... Enquanto isso vou divulgando para quem ainda não conhece essa nova maravilha musical!


Em Lima, Ohio, em uma escola ginasial, o professor de Espanhol decide revitalizar o coral do colégio. Porém, os únicos integrantes são os losers: o gay, a negra, a latina, o cadeirante, ... Mas são os losers mais talentosos que você já viu!


Não perca! Se puder, acompanhe esse seriado super jovem e divertido. Uma dramédia musical imperdível!


domingo, 25 de outubro de 2009

Leve

Leve
Tão leve que não me sinto tocar o chão
Tão leve que não percebo a importância da ocasião
Não me leve a mal, mas leve em consideração
Releve os meus erros e revele os seus
Ficarei tão mais leve em saber
que és como eu:
leve que nem consegues tocar o chão.
Leve que nem vi
quando tocaste de leve o meu coração.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Nine

O filme só estréia no dia 15 de janeiro de 2010 ...Os fãs estão loucos!!!!!!!!!
Qual não é a nossa histeria quando vídeos como esse saem para o nosso deleite e desespero!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Aqueça-me nesta noite

Silenciosamente adentras o meu quarto.
Veio sorrateira, devagar e leve.
Deitou ao meu lado e acompanhou-me nos sonhos.
Dormimos bem, não foi? Que sono bom!
Ah, pra que cobertores se tenho a ti dormindo ao meu lado?
Não sei de onde vem esse teu calor que me priva de lãs e moletons.
Teu corpo me esquenta de tal forma que não há gelo que permaneça gelo perto de nós.
Sou feliz por tê-la
comigo.

Silenciosamente deixas o meu quarto.
Saiu sorrateira, devagar e leve.
Levou consigo a paz do meu dormir.
Dormiu bem, foi? Eu não.
Ah, pra que cobertores se meu coração congelou e não há mais o que se fazer.
Não sei porque fui tão, mas tão tolo para acreditar que a chama não se apagaria.
Teu corpo me esquentava e o gelo derretido fez-se rio que desagua meus sonhos no mar.
Queria tanto tê-la
de volta.

Silenciosamente voltas ao meu quarto.
Retornou sorrateira, devagar e leve.
Se dormi bem? Foi ... Dormi.
Não consegui dizer-lhe a verdade.
Para que dizer que meu coração fez-se gelo se agora o mesmo ardia em brasas?
Ah, pra que cobertores se tenho o teu corpo para sentir-me vivo?
Não sei porque fui tão, mas tão tolo para duvidar do seu retorno.
Onde fora? Já não me importava.
Prefiro acreditar que ela tenha ido buscar mais combustível.
Meu amor é inflamável e preciso das cicatrizes.
Queria tanto tê-la
agora.

E eu a tenho.
Silenciosamente, dentro de mim.

domingo, 11 de outubro de 2009

Pensamentos atípicos

Maria Fernanda só sabia chorar. Desde que Cláudio foi embora é que Maria Fernanda nada mais faz. Pobre coitada ...
Nunca foram felizes, é verdade, mas parecia certo estarem juntos. Tanto que ninguém imaginara o fim do relacionamento. Será que ninguém mesmo? Pelo menos, assim pensava Maria Fernanda.
Foi depois da noite de terça-feira - uma noite atípica é verdade: Cláudio chegou do trabalho, beijou-a, trocou de roupa e esperou o jantar. Comeram uma lasanha que a própria Maria Fernanda fez e tomaram um vinho tinto que eles ganharam de um vizinho. Uma noite bem agradável. Mas o atípico estava por vir: Maria Fernanda era quem chamava Cláudio para a cama (mas não para dormir, sabe ...); porém, nesta atípica noite, Cláudio tomou a taça das mãos de Maria Fernanda, tomou o vinho que ali restava e a tomou nos braços. Ela o olhava com susto e paixão e foi talvez a noite de melhor sexo que já tiveram. Pelo menos, assim pensava Maria Fernanda.
E, agora sim, vem o atípico da fatídica noite: depois dos gritos e sussurros, Cláudio levantou-se, vestiu sua roupa, tirou uma mala debaixo da cama, virou-se para Maria Fernando e deu-a um beijo na testa para enfim dar adeus.
Já se passaram 15 dias e Maria Fernanda ainda não lavou as taças de vinho daquela atípica noite. Ainda ontem ela comia a sobra da lasanha que restava na geladeira. Depois de tanto tempo juntos ela já se acostumara com a companhia daquele homem. Sua falta doía. Sua barriga doía. Maria Fernanda juntou forças, tomou um banho demorado e desceu até a farmárcia do outro lado da rua. Procurou um antiemético e assim que terminou de pagar correu para a porta da farmácia e vomitou aquela lasanha de saudades à bolonhesa. Maria Fernanda levantou a cabeça, limpou a boca na manga do casaco e levou a mão ao ventre. A dor agora subira à consciência. Voltou à farmácia, comprou o teste e correu para casa. No seu banheiro, urinou sobre a fita e mudança da cor era também a de sua vida.
Não havia dúvidas. Ali estava ela, perplexa diante de um novo mundo: a maternidade.
Estou grávida de Cláudio. Pelo menos, assim pensava Maria Fernanda.

Fama

No dia 06 de novembro, estréia o filme Fama (refilmagem do clássico de 1980).

Remember my name! Fame!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Renda-se

Queres que me renda à tua calcinha de renda?

Essa veste é uma teia de aranha onde eu - pobre presa -
fui capturado e não tenho mais salvação.
É esta renda feita à mão que parece ter dedos.
As falanges das tuas vestes me encarceram à perpétua.

Não tenho mais fuga.
E além renda vem o caminho sem volta.
Tal rota depois de feita é destino de uma só mão.
Ah, mas já faz tempo que perdi-me,
que rendi-me aos meus infortúnios.
Mas não há perdição mais prazerosa.
Rendi-me à tua renda.
Sou prisioneiro da tua cela.
Sou presa fácil nos teus lábios.

Rendi-me,
prisioneiro sou,
não quero perdão ou liberdade.
Me enrosca mais nas rendas da tua calcinha.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Morrer? Que nada ...

Vontade de fazer nada.
De deitar e não ter que levantar.
Só não desejo a morte
porque isso implica morrer.
Mas seria ótimo se eu pudesse morrer sem perder a vida.
Poder ir e voltar quando bem entendesse.
Note que não me interesso em como é do outro lado. Não,
isso não me importa.
O que quero é desaparecer.
E quando tudo estiver do meu agrado,
eu volto e continuo de onde parei.

Vontade de fazer nada.
Se morrer não doesse ...
Se morrer não implicasse ficar longe de ti.
Vontade de fazer nada.
Não é isso que os mortos fazem?
Não sei...
Acho que não morri,
mas já perdi a vida faz tempo.
Perdi a vida e nada fiz.
Perdi a vontade.
Nada, nada, nada.
É o que sou,
onde estou,
pra onde vou ...

Nada está do meu agrado.
Não volto hoje.
Quem sabe amanhã.
Agora?
Vontade de fazer nada.

Quereres

Graças à Dona Canô temos Caetano pra fazer a canção e Bethânia pra cantar!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Faz tempo

É difícil suportar a distância.
Morar longe assim ...
Faz tempo que não te vejo.

É difícil buscar a lembrança.
Sumir de mim assim ...
Faz tempo que não te almejo.

É difícil procurar a presença.
Sentir tua falta assim ...
Faz tempo que não te enlaço.

É difícil encontrar a sentença.
Julgar atitudes assim ...
Faz tempo que não te estilhaço.

É difícil esperar o momento.
Demorar a chegar assim ...
Faz tempo que não te retenho.

É difícil aguentar o tormento.
Doer tanto assim ...
Faz tempo que não te obtenho.

É difícil viver esta vida.
Na busca por ti assim ...
Faz tempo que eu te clamo.

É difícil imaginar outra vida.
Querer tanto assim ...
Faz tempo que eu te amo.

domingo, 4 de outubro de 2009

Resumo dos últimos capítulos

Foram poucos os acontecimentos destes últimos 15 dias. Mas, suas consequências serão eternas.

Há algumas semanas comecei a ler "O Clube do Filme". Há alguns meses fui desafiado a concretizar os meus sonhos. Há alguns anos adio os meus desejos. Eu mesmo já não confiava mais em mim.
Juntando tudo isso e fatores que talvez eu desconheça me fizeram tomar uma decisão.
Saí do curso Pré-Vestibular para seguir o meu sonho: ser ator - trabalhar com teatro/cinema.

Foi um choque perceber que eu era o meu maior obstáculo. Como, se há anos sei o que quero fazer da vida, pude fingir não conhecer meu próprios almejos? Mais uma vez era eu me sabotando ...
Agora, não sei porque, não posso mais seguir com esta venda nos olhos - venda que eu mesmo pus. Enfim, tomo as rédeas da minha vida. É claro que ainda não sou independente (não posso me sustentar - pelo menos por hoje), e preciso me acostumar com algumas relações a partir de hoje (minha relação parental vai sofrer mudanças e pra mim isso será algo novo). Vai ser doloroso ser o responsável pelas escolhas, mas, vá lá!, isso é crescer. E já era hora.

E escrevo isso hoje, dividindo - ainda muito por alto - essa nova etapa com vocês (por serem meus amigos) porque precisarei de vocês. precisarei dos seus conselhos, puxões de orelhas e, sobretudo, apoio e confiança.

Grato a todos vocês, em especial a duas blogueiras camaradas que eu amo muito: Lorena e Leda.

Peço a vocês que assistam aos vídeos abaixo. É um discurso do Steve Jobs (co-fundador da Apple e da Pixar) para graduandos da Universidade de Stanford, nos EUA. Assistam mesmo, até o final!





E lá vamos nós!

Adiós, Mercedes

Mesmo não sendo um grande conhecedor de sua vida ou sua obra, fiquei triste com a notícia de sua morte. Mercedes Sosa me encantou no início de minha adolescência rebelde. Ouvi muito suas músicas e admirava a sua premissa revolucionária.

Adiós, Mercedes Sosa



sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Simplesmente Eu. Clarice Lispector

Simplesmente Eu. Clarice Lispector é um espetáculo imperdível. Beth Goulart interpreta (com maestria), dirige e escreve esta obra teatral que trata da vida e da obra de Clarice Lispector. Ainda emocionado com este trabalho lindo, acho melhor deixá-los com as palavras da própria Beth Goulart e em seguida uma entrevista muito interessante feita em 1977 com Clarice Lispector.

Encontro com Clarice Lispector
O que me levou a fazer Clarice Lispector no teatro foi o mistério do espelho, a identificação que sinto por ela. A vontade de trazer mais luz sobre esta mulher que revolucionou a literatura brasileira, redimensionou a linguagem falando do indizível com a delicadeza da música, usando a escrita como uma revelação, buscando o som do silêncio ou fotografar o perfume. “A arte é o vazio que a gente entendeu” diz Clarice.
Quero atingir o vazio de mim mesma para refletir a profundidade desta mulher que conhece o segredo das palavras e suas dimensões. O questionamento, é a busca constante do artista diante de sua escolha, como ela, eu gosto de intensidades.
Há dois anos mergulhei num processo de pesquisa para escrever este roteiro lendo tudo o que podia de sua obra e livros biográficos. Fiz dois workshops com Daisy Justus, psicanalista, especializada em Clarice Lispector, que analisa sua obra sob a ótica da psicanálise. Vi e ouvi tudo o que podia sobre ela, suas entrevistas, fotos, o depoimento no MIS, a entrevista póstuma na TV Cultura, enfim me tornei uma esponja de tudo o que se referia a ela.
Neste olhar apaixonado escolhi sua obra para recontá-la. Construí um corpo narrativo com trechos de entrevistas, depoimentos e correspondências que preparam os personagens que irão se apresentar ao público como desdobramentos dela mesma. Os temas abordados são reflexões sobre criação, vida e morte, Deus, cotidiano, palavra, silêncio, solidão, arte, loucura, amor, inspiração, aceitação e entendimento.
Clarice é muito pessoal em seus escritos e todos os seus personagens tem algo de si mesma. Acho que Joana de “Perto do coração selvagem” talvez seja a mais parecida com sua essência criativa e indomável. Ana do conto “Amor” é a dona de casa e mãe dedicada que Clarice certamente foi. Lori de “Uma Aprendizagem ou O livro dos prazeres” vive em cena as descobertas do amor e A Mulher do conto “Perdoando Deus” é uma bem humorada auto-critica.

Beth Goulart

NÃO PERCA!!!

Ritual sagrado

Não me sinto muito bem ...
Será que foi alguma coisa que eu comi?
Tudo está rodando ...
mas não é à minha volta;
é dentro de mim.
Uma náusea me consome
e dentro de mim o mundo gira.
O tempo não se propõe a parar.
A minha dor não é maior que o tempo.
Ela dura além do meu relógio de pulso.
A dor pulsa, assim como o meu coração.

Ah! Mas que sensação horrível!
Eu daria tudo para chegar logo em casa.
Para quê?
Ora ... para poder expelir esse mal meio sólido,
meio líquido que se instaurou em meu estômago.
Essa coisa que deveria me nutrir,
mas não: me atacou.
Fingiu ser alimento,
e quando -pobre de mim! - senti-me saciado
se voltou contra o meu corpo e quis fugir.
Nem o que consumo me sustém.

E pensas que é assim, fácil,
vomitar?
Para mim isso é um ritual.
Só em minha casa, no meu banheiro,
numa intimidade minha e do sanitário
é que abro-me por inteiro.
Escancaro o que nem meus olhos enxergam
e, numa verdade suja e porcelânica,
faço um canal entre o meu estômago e o esgoto.
Será uma viagem única para o que regurgitarei.
Adeus alimento ingrato!
Recusaste fazer parte de mim.
Dei-te meu corpo e preferiste me abandonar
e sair numa corrente mágica,
o fluxo infinito da descarga ,
que o levou para um mar de detritos e degetos.
Adeus, e tenho pena de sua inútil viagem.
Se querias a latrina,
antes me habitasse um pouco mais
e verias que meu sangue é fétido e minhas veias, puros canos enferrujados.
Meu corpo pútrido não é mais digno nem do prazer do paladar.
Não mereço mais o sabor do prazer,
o prazer do sabor.

Num ritual demorado e sacro,
coço a cabeça,
ajoelho-me diante do meu Deus de porcelana
e grito, em dor, a lástima do meu sacrifício.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

À la Miss Blanche DuBois

A vida é feita de quê?

A minha vida é feita de fantasias.
Escolhi o meu mundo
e este é feito de coisas belas e positivas.
A magia do meu mundo acoberta a realidade.
Minhas vestes são claras e leves.
Meus adereços adornam a minha pele alva e rosada.
Ah!, mas são todas bijuterias e peças de brechó.
Mas assim me visto e me aprumo.
O charme de uma mulher é o seu poder de ilusão.
E a minha mágica jaz nestes pertences.
São pertences simples, eu sei;
mesmo assim não concordo quando me chamam de pobre.
Sou rica pois tenho elegância, sou feminina,
sei aproveitar as coisas boas e guardo num cofre as minhas lembranças.
Sou muito rica, meu rapaz.

Por favor, meu jovem, elogie-me quando eu passar por ti.
Fale bem do meu perfume, do meu vestido,
da minha tiara e do meu chapéu.
Faça a gentileza de me acompanhar até a praça
e lá me ofereça um refrigerante.
Mas não tente se aproveitar da minha delicadeza.
Não que eu não tenha desejo, mas é que uma moça
deve tomar conta de sua reputação.

As pessoas são invejosas.
Elas inventam mentiras só porque
não entro em suas jogadas sujas e vãs.
Ah, meu querido!, salve-me desse esgoto onde vim parar.
Só te peço que não me leve muito para perto da luz -
é que a idade em mim avança;
sei que já não tenho 16 anos e a mulher deve
saber usar a sua beleza com inteligência.
Ainda não sei como me perdi nessas ruas escuras.
Como sou grata a ti por me levar em direção ao jardim.
E, seja você quem for, saiba que
eu sempre dependi da bondade de estranhos.

Humilhando - Vol. 04

Voltamos à nossa série de humilhação pianística!
Hoje trazemos a fabulosa Valentina Igoshina. Esta russa de 31 anos interpreta Chopin com uma leveza e beleza inomináveis. Aprecie esta belíssima obra: Fantasie Impromptu em Dó Sustenido, Op. 66.


Chopin compôs esta Fantasia em 1834 e a dedicou a Julian Fontana, um amigo muito próximo e querido. Reza a lenda que, para não ouvir comentários maldosos, Chopin pediu que esta Fantasia não fosse publicada até a sua morte devido à sua semelhança com a Sonata ao Luar de Beethoven.

sábado, 26 de setembro de 2009

6 meses - Parte II de II

No próprio dia 18 de março, marcamos de nos encontrar no próximo domingo, lá na minha casa.
Eu acordei mais cedo do que o necessário, mas algo me dizia que ela não apareceria. Sei lá ... uma coisa dentro de mim, sabe (aquilo o que eu chamo de minha síndrome de Chico Xavier). E logo ela ligou - ou eu liguei, não lembro - dizendo que não poderia vir. A mãe dela iria trabalhar naquela manhã e ela teria que ficar com o irmão. Fazer o quê, ... é a vida ... Fiquei lá ... na minha ... esperando tempo passar. E marcamos então de nos vermos no dia 24 de março, no Rio. Marcamos no Paço Imperial.
Eu cheguei um pouco mais cedo do que o combinado. Dei umas voltinhas por lá, fiquei um pouco na Arlequim. Fui lá em cima no acervo do Paço. Desci novamente e já estava ficando preocupado, achando que teríamos que adiar mais uma vez o nosso encontro. Subi novamente para o segundo andar do Paço e lá estava ela. Disse que também chegara cedo e que não me vira por ali. Estranho - pensei e dei um beijo desengonçado em seu rosto. Descemos - eu completamente nervoso - e fomos até o Odeon para ver um filme. Nada que pudéssemos assistir - filmes já começados. Então sugeri que fôssemos para Botafogo, no Estação. Pegamos o metrô e eu ainda um pouco distante, geograficamente falando, dela. Acabamos indo para o Espaço de Cinema, compramos ingressos para o filme "Palavra (En)Cantada", mas ainda tínhamos uma hora e pouco até o filme começar.
Sentamos ali no hall numa espécie de pufe muito grande e nos abraçamos enfim. Nossos rostos foram se aproximando num movimento estranho e no beijamos com vontade. Um beijo demorado, como se ali estivéssemos recuperando os meses perdidos, os longos domingos em que sentávamos em sofás separados. Ficamos no beijando durante quase todo o tempo de espera até o filme. Entramos na sala de cinema e assistimos o filme - na medida do possível para um casal de namorados (recém feitos) num cinema. Um documentário sobre as letras das músicas brasileiras que embalou muito apropriadamente os nossos beijos e carinhos.
Dali fomos embora - agora geograficamente muito próximos - e felizes.

6 meses se passaram e voltamos ao mesmo cinema. Nossos carinhos, que agora se extendem das poltronas vermelhas do cinema até uma cama bagunçada pela manhã, são mais intensos mas permanecem belos aos olhos de qualquer casal de namorados. Nos amamos mais do que nunca, sem perder jamais o brilho do nosso primeiro encontro.
Nós, dois primos um pouco distantes, que nos esbarrávamos em momentos familiares, hoje somos um par, uma dupla, um casal de apaixonados e esperamos os próximos aniversários, os próximos cinemas com suas poltronas vermelhas, os próximos domingos, as próximas camas bagunçadas, os próximos beijos demorados que ainda esperam recuperar o tempo perdido em sofás separados.