domingo, 7 de março de 2010

Eclipse


O anel de fogo que toma o céu já não me engana mais. A noite me fez aprender a andar no escuro. Quando não há estrelas sobre nós e as nuvens insistem em cinza temo que seja o celeste espelhando a minha alma.

Eu apenas caminhava, sem muitas pretensões, sem rumos definidos, em um belo dia de sol. Dia inesquecível de um sol inolvidável. Mas, quando eu menos esperava, a lua cobriu o sol no único dia em que ele me pertenceu. E num eclipse surpresa que nem os astrônomos previam, a noite engoliu a minha manhã e fez compromisso com as trevas. Minha manhã, agora esposa pelo anel de fogo, atrelou-se ao eterno ocaso. Aquele que nada é, nem nascer, nem findar, mas sim uma encenação, um trote nas horas.

E agora, num revés de vampiro, fico como um morcego. Quem dera pudesse viver à luz do sol, no calor dos raios. Assim penso eu, imagino, sonho e fantasio. São os verbos que me permito conjulgar, além do óbvio voar. Morcego sem noite, pois meu céu é fajuto. É sol disfarçado de lua, é lua vestida de sol. É céu sem estrelas por perto, é nuvem carregada de dor. Morcego em eclipse, homem sem amor.