No silêncio da vergonha
palavras são ditas.
Pois é quando o pudor adormece
que o proibido faz a festa.
Essas palavras ditas -
às vezes sussurradas,
às vezes aos gritos -
estão mais despidas que os nossos corpos.
Essas palavras, tão nuas,
tão sujas, tão nossas.,
são palavras vindas do mais puro desejo.
Palavras tão primitivas
quanto o mais puro desejo.
Não são ofensas, ordens,
elogios ou canções.
São os símbolos da nossa vulgaridade,
tão bela quanto a fé.
São palavras ditas para expressar nem sei o quê.
É um gozo verbal.
Palavras primitivas
de um sonho a dois.
Rabiscos que a língua faz
em corpos analfabetos, também primitivos,
também vulgares,
também santos,
também ditos.