Peço uma xícara de chá. Olho pela janela. É tudo verde lá fora. Minto, há pinceladas de outras cores em flores e pássaros. Mas a maior parte é verde.
Sinto-me mergulhado nessa imensidão de tons de verde. Aliás, no verde porque é o que vejo agora. Estou afogado na sua ausência. Só mudo de oceano para oceano e quando emerjo é para buscar o ar que me falta de tanto afundar no mar de lágrimas que você me faz derramar. Lágrimas geladas.
Chega o meu chá. Obrigado, eu digo. Bebo e queimo os lábios. Esqueço que logo quando chega, o chá, ainda está fervendo. Tem coisas que ansiamos, mas é preciso esperar. Esperar para não se queimar.
Enquanto o meu chá esfria eu lembro de quão gélido era o seu carinho. E como me mantinhas por perto não para estar comigo, mas para ter-me contigo. Seu sachê na xícara, esperando sugar toda a essência para a água.
Meu chá está sem açúcar. Não quero mais essa vida morna. Cansei dessas tardes com você e seus chás. Eu detesto chá, na verdade. Desde que você partiu eu mantive as suas manias em mim. Não faz mais sentido por o bule no fogo se já não estais mais aqui.
Olho para a janela e no verde reencontro o velho pomar, que você deixou morrer. Adeus, querida. Leve as suas ervas contigo. Em pouco tempo estarei aqui, sentado na minha janela. Um copo de suco que não preciso esperar para beber. Saúde!