quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Prato feito

Deu a hora
Fui à rua
O preço estava bom
Fiz meu prato
Sentei
Iniciei a refeição

Algumas mesas à frente
Também almoçando
Um gato, um lindo, um gostoso
Alvoroço
Fome ou tesão?

E me encarava
Mastigava
Engolia
Eu gelava
Disfarçava
Mas queria

Sabe, eu não tenho tato
Enfiava a cara no prato
Escondendo o ato que desejava de fato

Um gole de suco
O guardanapo
Sobremesa, senhora?
Não, obrigada

Levanto
Lavo as mãos
Pago a conta
Ele não me segue

É preciso andar pra fazer a digestão

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Inspiração

Não consigo fazer poemas
sem olhar o teu sorriso
Quem diria que tudo o que preciso
é essa extensão de dentes
maxilar siso
canino molar
e a língua, claro, pra molhar os lábios
os que dizem as palavras que eu quero ouvir.

Que diziam.
Não! Sua voz não está calada.
Está distante. E se algo diz
é para outro ouvido
que talvez julgas ser mais
interessante.

E agora minhas folhas seguem em branco.
Às vezes molham se caem lágrimas.
Às vezes secam o meu rosto.
Às vezes lixo.

E me pergunto:
esse que agora te dá outra atenção,
outro beijo, outro abraço,
outro gozo, outro prato...
dá ele também poema?