domingo, 15 de julho de 2012

Necessidade

Eu não preciso de você no mês quem vem.
Sabe lá Deus se verei setembro chegar.
Eu não preciso de você daqui a duas semanas.
Não estreei o meu calendário.

Nem preciso de você daqui a meia-hora.
Minha necessidade de ti é no cerne do agora.

Espero que não precises de mim em breve.
Talvez só vá me achar perdido no obituário.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Éramos dois

Éramos dois. E tudo à nossa volta era par. Duas cadeiras, uma de frente para a outra e nos sentamos. Duas taças de vinho. Duas taças de vinho. Duas taças de vinho e abrimos a segunda garrafa. Duas rolhas na bancada da varanda, dois corpos sobre o tapete da sala. 

Agora tudo se multiplica. São dedos, são lábios. São línguas, são pernas, grutas e cavernas. São gritos, são unhas, posições e travessuras. Eu sinto que dentro de você eu sou mais eu. Éramos dois, somos um.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sozinho

Eu estava sozinho. O fim de tarde fazia o breu invadir os meus aposentos. Tomei um banho e a toalha secava o meu corpo e as minhas lágrimas. Eu estava sozinho. Muito sozinho.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Ele disse que me amava

Nunca mais confio em alguém. Ele disse que me amava. Ele disse. ... Bem, ele não disse com todas as palavras, mas fez tudo o que um homem apaixonado faria. Ele me trouxe flores, me levou ao cinema, fomos jantar, fomos dançar. Ele trouxe flores, trocamos um beijo. Fomos jantar, fomos dançar, ele me trouxe em casa. Ele me trouxe flores, trocamos um beijo, fomos jantar, fomos para a cama. Ele me trouxe beijos, me trouxe carinhos, ele me trouxe orgasmos. Ele me trouxe flores. Ele sumiu.
Ele ligou, ele pediu desculpas, ele me trouxe flores, fomos jantar, fomos dançar, fomos para a cama. Trocamos beijos. Ele sumiu.
Ele ligou, ele pediu desculpas. Ele sumiu.
Ele ligou, ele trouxe flores, me deu um beijo. Fomos jantar, fomos pra cama. Ele ligou. Fomos dançar, trocamos beijos, fomos pra cama. Ele ligou. Ele deu adeus. Ele amava outra mulher.
Nunca mais confio em mim.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Ama-me a mim mesma

Ela buscava nele o amor que por si mesma não sentia. Quanto mais ele a olhava com desejo, mais ela se sentia mulher. Quanto mais ele lhe dava flores, mais ela se sentia mulher. Cada "eu te amo" que ele falava fazia ela se amar. Coitado, ela não o amava. Usava-o como instrumento de amor próprio. Como um espelho reverso que reflete o que o outro vê, e faz do virtual a realidade. Pobre homem não amado. Ama e faz da mulher amada mais amada por ela mesma.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Para vós

Dizem que o mundo é pequeno.
Deve ser por isso que pessoas grandes se encontram nele.

Eu me esbarrei com gente enorme.
Gente com corações gigantescos,
talentos nababescos,
perfume de negresco.

Essa gente tão tamanha
enche o meu dia de grandezas.
E encontro em mim
belezas que não sabia enxergar.

Essas minhas pequenezas precisaram
de olhos sábios e gentis
para observar entre os meus gestos febris
aquilo que os fazem me amar.

Essa gente de muita alteza
faz sombra sobre a minha cabeça
e afasta o efervecer dos conflitos e agruras.

A mão dessa gente grande me afaga,
me cura e remedia para o dia de amanhã.

Estávamos tão distantes há pouco tempo,
e hoje, já nem lembro desse momento passado.
Vivo esse resquício de tarde, eterna memória:
canto bacante, alma alimentada, olhos serenos.

Há tanta grandeza em nosso mundo!
E dizem que o mundo é tão pequeno ...