sábado, 11 de julho de 2009

Mais um dia / Pedido oblíquo

Passo pelo portão de sua casa e vejo,
novamente, a fachada que tanto contemplei.
Mais um dia e entrarei em tua morada.
Visitante ou invasor? Jamais saberei.

Quero conhecer o lugar onde te escondes.
Descobrir porque entre estes muros te sentes segura.
Saber o que há por trás das paredes e janelas
donde frestas vejo luz em noite escura.

Permita-me ser teu confidente.
Conte-me seus segredos e mistérios.
Conte-me suas verdades e delírios.
Conte-me das viajens nunca feitas.
Conte-me da vontade de ter filhos.

Desnude as arestas da vergonha e
lance-me um olhar, mesmo que escondido.
Mostre quem está vestindo o véu de sombras
que me impede de ver teu sorriso estarrecido.

Desmanche os nós da corda que circunda o teu balanço.
Desenlace-os para que eu possa, enfim, reconhecer-te.
Remexa tuas entranhas e expele o dragão
que quis adormecer-te.

Por favor, atenda-me!
Atenda-me mesmo que seja uma única vez.
Atenda o susurro desta voz que a ti grita, que a ti clama e
que a ti derrama o sentimento real e idealizado
de quem toda noite vê feixe de luz pelas frestas da tua janela.

Não. Não posso mais contentar-me com tua sombra desenhada no chão.
Não posso mais basear-me nos sonhos e fantasias que nasceram de ignorar-me.
Não posso mais segurar-me em teus arremedos de atenção.
Preciso urgentemente segurar-te pela mão, acariciar o teu contorno,
beijar-te, e ter o prazer de te dar prazer.

Permita-me;
Deixe-me;
Conte-me;
Atenda-me, enfim.

Dê-me mais um.
Só mais um dia.

Mais um dia e entrarei em tua morada.