domingo, 2 de agosto de 2009

O espelho que há em mim

Qual a imagem refletida no espelho?
Meu reflexo mostra alguém que não sou eu.
Ou é?
Sou?

A imagem refletida no espelho mostra alguém.
Quem sou eu?
Sou a imagem refletida ou aquele que reflete?
Qual o lado direito é o direito?
O meu ou o refletido?

A imagem refletida no espelho mostra.

O reflexo revela aquilo que sempre esteve à mostra,
o que todos veem,
mas que eu não via.
O espelho fez questão de jogar a imagem de minha fronte
à minha frente.
O espelho me mostrou o que todos viam,
menos eu.
O espelho me mostrou.

Mas, pobre do espelho que nada sabe.
Dentro de mim há outro espelho
que reflete a imagem antes refletida,
revertendo o reflexo do já revelado.

O espelho dentro de mim
mostra o eu refletido de volta à mim.

O espelho dentro de mim me mostra novamente à mim,
revela mais uma vez
e volta a esconder o outro lado do lado direito.

A imagem refletida no espelho mostra alguém.
A imagem refletida no espelho dentro de mim mostra alguém
São estes o mesmo alguém?

Se Deus quiser

Se Deus quiser,
e assim me permitir,
hei de viver,
hei de plantar e
hei de colher
o que antes plantei.
Colherei o que preciso pra viver.

Se Deus quiser,
e assim me permitir,
hei de escrever,
hei de cantar e
hei de reler
o que antes escrevi.
Cantarei os versos para viver.

Se Deus quiser,
e assim me permitir,
hei de criar,
hei de fruir e
hei de fugir
do que antes criei.
Fruirei das criações que fiz pra viver.

Se Deus quiser,
e assim me permitir,
hei de amar,
hei de doer e
hei de adormecer
das dores de amor.

Se Deus quiser,
e assim me permitir,
quero só amar, plantar, criar,
cantar e escrever.
Se Deus quiser,
e assim me permitir,
ainda quero colher, fruir e reler o que preciso pra viver.

Se Deus doer,
e assim me fugir,
quero adormecer
e fim.

Esse tipo de coisa não se pergunta

Não se pergunta esse tipo de coisa.
Ai, ai, ai!,
que esse tipo de coisa não se pergunta.

A interrogação tem limites, rapaz.
A interrogação tem limites.

Não faça cara feia quando nego respostas, rapaz.
É que interrogações tem limites.
Já te falei que não se pergunta esse tipo de coisa, rapaz.
Ai, ai, ai!,
que esse tipo de coisa não se pergunta.

...

Se queres saber qual a razão de tanto cuidado com as interrogações, rapaz,
se queres mesmo saber,
pergunte ao limite das tuas respostas,
pergunte ao limite das tuas razões,
pergunte ao limite das tuas interrogações, rapaz,
pergunte.
E se o teu ser fizer cara feia com tal indagação,
é bem feito.
Já te falei que não se pergunta esse tipo de coisa, rapaz.
Ai, ai, ai!,
que esse tipo de coisa não se pergunta.