Não precisas de inimigos outros.
Teu nêmesis é o teu reflexo,
é a tua sombra, é o teu ser.
Ofereces a ti mesmo as armadilhas,
e cais. És pego como um tolo.
Mas tolo não és.
Ou melhor, talvez tolo sejas ...
Mas inocente, não.
Ah, como és consciente das arapucas
que preparas para ti mesmo!
E como é cômico, e como é trágico,
vê-lo cair na cova que preparaste.
E como numa divisão (ou multiplicação) de corpos -
és tu deitado, caído, derrotado -
é teu o corpo na cova e és tu,
com a pá, jogando terra sobre o caixão.
Fazes o teu início majestoso,
os meandros confusos e quebradiços
e terminas com tudo, com o sopro
da tua boca malcriada.
Cuidado contigo mesmo.
Não olhe para os lados ou para trás.
Olhe para dentro e enfrente o teu próprio algoz: Tu.
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