quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sonho estranho

Dormi agora e tive um sonho estranho.
Não sei direito se era eu ou um outro alguém,
mas eram meus os olhos que tudo viam.

Dentro desse sonho estranho estava você.
Lá estavas, coberto de mistérios;
vestias uma túnica azul turquesa.
Lembravas-me um oceano ...
E sei que de repente eu mergulhava na sua túnica.
E dentro de você eu afundava.
Não, não! Eu não estava me afogando.
Quanto mais fundo eu ia, melhor eu me sentia.
E descobria nas profundezas das tuas vestes
imensos monstros marinhos.
Monstros horrendos,
porém, apesar de feios, em nada me assustavam.
Sabe que os monstros carregavam milhares de fotografias minhas?
E eu via que quanto mais em você eu mergulhava,
mais eu me via e me reconhecia.

Ah, mas como era estranho esse sonho que eu tive!
Do nada eu saía do oceano (que era a sua túnica)
e lá estávamos tomando chá num campo verde,
mas tão verde ... Como era verde aquela mesa!
Pois é! O campo virava mesa.
E em cima da mesa estava uma carta.
Logo reconheci a sua letra no papel.
Sua letra tão linda ...
Só que eu percebia alguma coisa estranha naquelas palavras.
Elas pareciam encolhidas, como se quisessem fugir dos meus olhos.
Queria eu ter fugido daquelas palavras!
Era carta endereçada a uma outra mulher.
Quem seria esta que mereceu sua atenção?,
que roubou de mim sua caligrafia dedicada?
E logo ali, na mesa tão verde, você derrama o chá na carta.
E não era chá; eram minhas lágrimas saindo do bule de porcelana.
E foi tudo ficando confuso no meu sonho ...
As palavras da carta saíram correndo pelo campo verdejante
e sumiam.
Algumas palavras mergulhavam na sua túnica.
Mas eram as de menor importância como artigos e preposições.
Os adjetivos subiam nas árvores e os substantivos,
esses eu não sei ... acho que borraram com as minhas lágrimas de capim-limão.
Pois é! Eu chorava chá de capim-limão!

Nem sei bem como eu fui parar no alto de um prédio muito alto ...
Mas era bem alto aquele edifício. À minha volta só se via o céu.
E eu me jogava lá de cima com a carta numa mão
e um bule azul turquesa na outra.
E enquanto eu ia caindo, eu ouvia a sua voz.
Você me chamava e me chamava.
E eu acordei, enfim;
era você que me chamava a pé da cama,
ao pé do ouvido.
Lá estava você ao meu lado, na vida real,
com seu pijama azul turquesa e me beijando em bom-dia.
Trazia uma rosa e a mesinha do café da manhã.
Já te falei pra não usar o bule de porcelana!
Esse é pra quando tiver visitas!

E eu ficava tão feliz de te ter ao meu lado,
por poder te abraçar e ter acordado daquilo!

E eu te dizia:
Amor, dormi agora e tive um sonho estranho ...
Não me lembro muito bem ... sei que tinha um campo azul turquesa
e que eu mergulhava num oceano que era chá de capim limão.