Guardo a pele que vesti durante o dia.
Daqui pra diante já não serve mais.
O ar envolve o meu corpo e me dirijo ao picadeiro.
Respiro fundo e aguardo a chuva encanada.
Como que atingido por forças magistrais,
fico refém das cascatas.
E me lavo e me renovo.
E vejo correr sob os meus pés
os resquícios do meu eu anterior.
A poeira de um dia findo e irrevivível.
Adeus.
Passo pelo meu corpo,
como que um ungüento,
num momento de purificação,
o que faz espuma e perfuma
o nascimento de um novo agir.
Mais leve, mais macio.
E a água leva embora esse escudo areado.
E quando a cascata é cessada,
sou vulnerável novamente aos perigos.
E me enxugo, e me acaricio, dando adeus
aos úmidos segundos passados.
E já árido, sigo ao inverso deste início:
me visto.