sentado na praça,
ali sem motivo,
vendo quem passa,
estava Henrique
e seu olhar distante
procurando quem lhe tire
de cima da estante.
Ainda olhando o mar
ou olhando o papel,
eis que alguém vai chegar
e colocá-lo no céu.
Um alguém sem certezas,
um alguém de mistérios.
Alguém que porá na mesa
os piores impropérios.
Como do nada surgiu,
do nada sumirá.
Esse alguém já sumiu
mas de mim não sairá.
Em poucos instantes
vi meu olhar sair do mar,
vi a lógica perder a constante.
Vi meu peito se desafogar.
Henrique é quem sou
e o livro era meu.
Aquele estranho que passou
mostrou-me quem era eu.
Sua evanescência,
sua não concretidade
descobriu na minha noite a carência,
fez do meu medo, vontade.
Agora me jogo no mar
sem o risco de derreter.
Agora me vejo chorar
e a minha lágrima é você.