segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Agora é a hora

Agora não me agoura.
Já é hora de começar.
Tire seus olhos de manobra
que querem me derrubar.

Veja bem, minha senhora,
é chegada, enfim, a hora
de botar as manguinha de fora.

Trate de entrar na dança,
como fez Chico na Valsinha,
pegue teu vestido
e vá para a ágora da cidade.

Agora é hora de dançar,
sem ontem ou amanhã.
Sem tantinhos a esperar.
Sem ponteiros a espreitar.

Sondheim! The Birthday Concert - PBS Great Performances

Ai, gente ... eu adoro Sondheim! Ele fez 80 anos esse ano e diversos concertos foram feitos em sua homenagem. Dois sairão em dvd. O da BBC e o da PBS.

Os vídeos abaixo são do concerto americano, com direito a Paul Gemignani regendo a Filarmônica de Nova York.

Patti LuPone - The Ladies Who Lunch


A Patti LuPone abraça a Elaine Strich no final porque a Elaine cantou essa música pela primeira vez na estreia de Company.

Já esse vídeo é o belíssimo dueto de Sunday in The Park With George, com os atores da montagem original Bernadette Peters e Mandy Patinkin.

Bernadette Peters e Mandy Patinkin - Move On


Ah ... não vejo a hora de comprar esses dvds!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Na minha gaveta

Hoje mais cedo
procurei numa gaveta
o verso antigo que compus na solidão.

Sim, tive medo
de rever nesta gaveta
a tua carta que quebrou meu coração.

A tua carta
tanto li que decorei.
Suas palavras
tanto li que eu chorei
demais.

Logo depois,
busquei o papel e a caneta.
E escrevi resposta a tua negação.
Mas, sem coragem,
escondi numa gaveta
esta saudade que é a minha maldição.

Hoje mais tarde
irei ao teu encontro.
E lhe darei esta carta que escrevi.
E é bom que leias,
pois naquela gaveta
ao lado das palavras nossas
guardei comigo um regalo assassino.
Se não me amas, não amarás ninguém.

Eis a nova carta,
onde nela eu assino
com minhas lágrimas,
teu sangue,
meu amor.

Agora morta, mas ainda presente.
Temos a mais perfeita relação.
Vives comigo, pois guardo na gaveta
as nossas cartas e o teu coração.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sentado na praça estava Henrique

Olhando o seu livro,
sentado na praça,
ali sem motivo,
vendo quem passa,

estava Henrique
e seu olhar distante
procurando quem lhe tire
de cima da estante.

Ainda olhando o mar
ou olhando o papel,
eis que alguém vai chegar
e colocá-lo no céu.

Um alguém sem certezas,
um alguém de mistérios.
Alguém que porá na mesa
os piores impropérios.

Como do nada surgiu,
do nada sumirá.
Esse alguém já sumiu
mas de mim não sairá.

Em poucos instantes
vi meu olhar sair do mar,
vi a lógica perder a constante.
Vi meu peito se desafogar.

Henrique é quem sou
e o livro era meu.
Aquele estranho que passou
mostrou-me quem era eu.

Sua evanescência,
sua não concretidade
descobriu na minha noite a carência,
fez do meu medo, vontade.

Agora me jogo no mar
sem o risco de derreter.
Agora me vejo chorar
e a minha lágrima é você.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Deliciosamente desconexa

Ai, menina,
tão deliciosamente desconexa!
Tua língua é tão complexa -
mas é nela que quero falar.
Quero saber o teu idioma,
do teu corpo ter diploma,
ter teu gosto e teu aroma,
ter a chave da tua cidade.

Ah, menina,
tão deliciosamente desconvexa!
Vê se em mim tu te anexa -
não quero mais te perder.
Fique perto da minha vista,
faz em mim uma revista,
deixa eu ser turista
e me guia pelo teu país.

Ah, menina,
tão deliciosamente circunflexa.
Atiro em ti a minha flecha -
de ti não quero sair.

Finca nova raiz neste chão.
Entrega a mim tua navalha,
eu te entrego o meu coração.
Rasga o meu peito em retalhos,
costura de volta em novo padrão.

Ah, menina,
tão deliciosamente desconexa.
O que sou nessa persona perplexa,
se não a brecha encontrada
para desarrumar o meu caminho?

Ah, menina,
tão deliciosamente desconexa.
Qual o sabor que fica depois do teu beijo de despedida?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Busca abortada

Busco respostas nos olhos
daquele que o espelho me diz que sou.
Pergunto então ao som que minha boca externa
mas meus ouvidos não decifram a minha voz.
Toco o meu corpo mas meu tato se perde
e não reconhece minha superfície.
Trago o ar para o meu nariz
mas não sinto o menor rastro de perfume.

Dentro de mim não me alcanço.
Desisto de descobrir-me.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010