Falo, escrevo, rimo.
O verbo e o verso eu muito primo,
mas nem só de poema vive o homem.
Talvez com as palavras eu me esquivo
do que é preciso ser mais cativo:
a ação.
Ora, de que adianta ser poeta
se na hora que o espeto espeta
não é poesia e sim o passo a frente
que faz o corpo deixar de estar rente
à dor, ao sangue e à cicatriz?
Ora, que é preciso mover o corpo.
Usar as mãos além do esforço
de criar sobre o papel.
É preciso estar vivo fora do verso.
O poeta já é réu confesso
mas sua escrita não pode ser prisão.
Pois então eu me liberto.
O caderno continua aberto,
pronto para eu escrever.
Mas pronto eu também me ponho
transformando em ação o sonho,
transformando o verso em viver.