quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Andando de olhos vendados

Eu ando de olhos vendados.
Assim, sigo na direção que o vento sopra,
tropeçando nas pedras que aparecem,
mergulhando nas águas que me tragam,
jogado na areia pelas ondas que me rejeitam.

E sem nada ver,
tudo sinto.
E sinto maior e mais forte;
de olhos vendados
não sou seguro do norte
mas sou certo da partida.

Andando de olhos vendados
tudo é novo
e tudo é lembrança.
E não se finda a esperança
de um dia chegar em algum lugar.

Mas sem enxergar ...
será que já passei da chegada?
Não sei ...

Venha comigo na próxima jornada.
Serás meus olhos.
Serei teu coração.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Chagas e chuvas

A chuva cai tão forte ...
E as gotas que atravessam a minha janela
parecem as chagas criando-se na minha alma.
Não dão mínima trégua.
Só atingem e seguem o seu caminho.

A chuva cai tão forte ...
Queria ser como as gotas de chuva.
Se atiram das nuvens. Água suicida.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mira e atira

Parabéns por seus olhos analíticos!
Faça de tuas vistas mísseis
e mire em mim como alvo estático.
Assim é bem mais fácil acertar.

Venha com as tuas palavras ácidas.
Corroa cada laço -
até o aço pode ruir.

A distância entre nós cresce.
E a exatidão do teu extermínio?
Esta esmorece?
Não.

Parabéns! Teu tiro foi certeiro.
Já não sou um obstáculo
entre teus caminhos hipócritas.
Assim é bem mais fácil, não é?

Musa aleatória

Cada história tem uma musa.
Cada blusa, uma costura.
Cada costura, uma memória.

Onde passa a agulha não passa o carinho.
É pequeninho o buraco no pano.
Pior para a agulha que vem de fininho,
mas não fica no ninho.
Foi só desengano.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Teu silêncio, poeta

Queria que não fosse tão difícil decifrá-lo.
Queria ler o teu olhar e assim compreender a tua alma.
Mas és poeta.
Só posso ler o que escreve. Tua voz é grafia.
Tua palavra, poesia.
Teu silêncio é folha em branco.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ledo engano

Pensei não voltar a tê-la
compartilhando a minha mesa,
presenciando a minha matura.

E segui (teria outra opção?)
aguardando o teu perdão,
e o fim da tua amargura.

Vendo não chegar esta hora,
vi-me só do lado de fora
da tua porta trancada ás mil fechaduras.

Seria hora de desistir?
Mas qual caminho seguir
sem você na caminhadura?

Ledo engano.
Eu já começara
a trilhar este destino sem cura.

Mas até Zeus
revelou-se um dos meus
quando não soube ter distância da tua figura.

E para mim, pobre mortal,
sem ter o dom da metamorfose,
bastou o tempo, em sua dose ideal,
para mostrar que o amor
cose qualquer fissura.