quarta-feira, 2 de junho de 2010

Teus olhos, mulher

Como me decifras, mulher!
Não precisas andar comigo para saber por onde dei meus passos;
e por onde nem mesmo passo sabes que nunca fui.
Sou tão previsível assim?
Diria que sim, mas só para quem carrega olhos como os seus.

Como me decifras, mulher?
E como me explica de maneira tão real?
Viste até o que nego. Viste o que renego. E o que torno a negar.
Viste nas minhas afirmações as nuances das firmes ações
e das flácidas fantasias.

Pena que sou eu minha própria esfinge.
E quando me pergunto, não me decifro.
Acabo engolido pela minha fome de despedaçar-me.
E dilacerado, mulher, não precisas decifrar-me.
Conte-me mulher. Conte os meus pedaços.
Conte-me mulher, decifra e faça laços com minhas tripas e sensações.
Remonte-me um novo alguém.
Indecifrável, menos aos olhos teus.

Toque a verdade

Se a verdade fosse um instrumento, qual seria o seu som?

Fruta verde

Uma semente cai na terra por motivos mil.
Algumas viram alimento. Outras secam.
Outras brotam.
E, fazendo-se o broto, começa ali uma aposta com o tempo.
Alguns brotos vingam, outros não.
Podem ser pisados, arrancados, esquecidos.
Os que vingam vão crescendo, e nessa sucessão de acasos
viram árvores. E floreiam. E dão frutos.
Pequenos big-bangs de vida.
Vão crescendo, e verdes esperam madurar.
Porém, eis a história da fruta que não madurou. A fruta que permaneceu verde.
Insossa, ruim,
intragável fruta verde.
Não dá pra comer. Dessa fruta, quando verde, nem doce se faz.
Coitada ... Imatura ...
Ih, olha ali uma bem madura!

Tadinha da fruta verde. Morreu esquecida.