terça-feira, 27 de agosto de 2013

Sou, em um ato

A arte pulsa e jorra da fonte do desejo.
Meu complexo de édipo se amamenta da coxia.
Os três sinais são anjos anunciadores.
Meu pai é o som que vem da platéia.
Eu sou um movimento e uma palavra,
sou um corpo e um sentimento,
sou tantos que nem me aguento
de estar apenas um.

A arte pulsa e jorra desejo da minha fronte.
Caem as máscaras.
Visto as que convém.
Quem me chama pelo nome
esquece que estou muito além.
Eu sou um movimento e uma palavra,
sou texto, imagem e som.
Sou um corpo e um sentimento,
sou do palco e este é meu dom.

 A arte pulsa e jorra do meu corpo.
O palco é meu desejo.
A coxia meu unguento.
Sou ator, cria de dores;
sou ator, banco de amores;
sou ator, irmão dos atores.

sábado, 24 de agosto de 2013

Narcolepsia programada

São despertos os infantes
de seus sonhos imorais?
Se espertos os infantes
não despertam nunca mais.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

De que adianta ser poeta

Falo, escrevo, rimo.
O verbo e o verso eu muito primo,
mas nem só de poema vive o homem.

Talvez com as palavras eu me esquivo
do que é preciso ser mais cativo:
a ação.

Ora, de que adianta ser poeta
se na hora que o espeto espeta
não é poesia e sim o passo a frente
que faz o corpo deixar de estar rente
à dor, ao sangue e à cicatriz?

Ora, que é preciso mover o corpo.
Usar as mãos além do esforço
de criar sobre o papel.

É preciso estar vivo fora do verso.
O poeta já é réu confesso
mas sua escrita não pode ser prisão.

Pois então eu me liberto.
O caderno continua aberto,
pronto para eu escrever.

Mas pronto eu também me ponho
transformando em ação o sonho,
transformando o verso em viver.