sábado, 31 de dezembro de 2011

O carrasco sabe quando mostro os dentes

Faz falta penar as dores;
Foram muitos sorrisos
consecutivos
inconsequentes.

O carrasco sabe quando mostro os dentes
A sorte sabe as cartas que tenho na mão
O penhasco é o que fica após o chão
A morte é apenas o passo à frente

Faz falta penar as dores;
Foram muitos gritos
aprisionados
dentre os dentes.

A guilhotina sabe onde fica o pescoço
O nó sabe da forca o início
A jovem menina não sabe o que é vício
O homem velho já não sabe ser moço

Faz falta penar as dores;
mas o tempo é injusto e veloz
traz de volta o pior dos odores:
o perfume da morte, do amor, do algoz.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O sabor do teu doce amor

Meu doce amor,
sei que a distância é amarga.
Desculpe-me se não te trago uma flor.
Pétalas não apagam os rastros do tempo.

Meu doce amor,
sei que a distância te azeda.
Desculpe-me se não voltei com pressa.
Mais veloz são meu lábios que meus passos.

Meu doce amor,
sei que a distância às vezes salga.
Desculpe-me se peço tanta calma.
Lembre-se dos beijos trocados no Paço.

Meu doce amor,
sei o sabor que traz a distância.
Mas o paladar sobrevive à ânsia
e nosso amor não seca como as pétalas.

Ele vira fruto mordido sem pecado.
E as sementes caídas no solo arado
fazem renascer a cada estação
o sabor do teu doce amor.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Moça da taça de vinho

Moça da taça de vinho
me lembro dos teus talismãs
Lembro da da tua conversa,
tua fala dispersa,
teus lábios romã.

Moça da taça de vinho
quero teus olhos de mel.
Quero tua pele e tua alma,
tua fera sem calma,
tua fuga do céu.

Moça da taça de vinho
quero uma dose e um brinde,
um gole e um petisco.

Quero teu olhar e atenção,
mas não quero que diga que não.
Quero teu corpo e carinho,
quero é você, minha moça
da taça de vinho.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A moça da maré

Meu querido amigo,
o que te traz aqui
com este rosto antigo?
Onde está o sorriso
que te acompanhou
naquela última vez?

Não diz que ela voltou
e tirou de você
quem estava contigo ...
Onde está aquela moça
que o tirou da poça
e o fazia feliz?

Foi embora depois
que já não eram dois
pois voltou a primeira;
que não quis ser terceira,
que não quis ser parceira,
que não gosta de paz.

Meu querido amigo,
não faça besteira;
Não se afunde de novo.
Esse mar é profundo,
afogou o seu mundo
e sumiu com teu corpo.

Demorou tanto tempo
pra você se curar.
Pra emergir desse mar,
pra quebrar tua cela.

Meu querido amigo,
cuidado, olha o perigo,
com o mar não se brinca.
Olhe à tua volta
e veja onde fincas
o teu coração.

Meu querido amigo
clamo, ouça o alarde,
sabes bem como é.
Mais cedo ou mais tarde,
ela muda com a lua
e some com a maré.

Não fique a ver navios.
Vem que eu te auxilio
voltar á terra firme.
Meu querido amigo,
não é nenhum crime;
chore o seu mar.

Tudo agora é segredo

Não quero saber.
Tudo agora é segredo.
Não interessa o motivo;
estás fora do enredo.

Jamais te contarei.
Ficarão sempre escondidos
sob os véus e os escombros
os poemas perdidos
e as conversas de alfazema.

Essa história é só minha.
Cada momento pertence
àquele que o viveu.

Portanto não peça que eu repense.
Já é o fim da linha.
O segredo é só meu.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Frutas, divã e fim da sessão

Meu amor foi pro divã.
Contou suas questões,
seus pecados e maçãs.
Chorou suas pitangas
e falou das semanas
que passou sem pulsar.

Ah, meu amor.
Quanto custa essa sessão?
Fale comigo da tua vida;
Eu não cobro um tostão!

Largue esses ouvidos robóticos.
Abrace os meus lábios vividos.
Atenha-se ao tempo lógico.
Desate-se dos tempos perdidos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Feliz aniversário, Woody Allen

Ah, o que será de mim sem Woody Allen. Meu velhinho favorito, por favor, viva bastante ainda!
Feliz aniversário, meu querido.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Poesia cárcere

Por prestar atenção nas tuas palavras
Por questionar se teu verbo é fato ou fachada
Por buscar a essência do teu discurso
Por bater na porta mesmo que aberta

Tu me taxas de poeta
e exige que eu redija o meu destino.

Pois bem,
de vingança eu te faço minha musa.
Se preso estou neste trajeto,
perto estás, mas por trás de minha blusa.

E enquanto o teu dedo me acusa
Minha poesia te encarcera.
Tua liberdade tem rima e verso
No meu peito, a tua cela.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Au revoir, Auf Weidersehen

O sol nasce e eu deveria acordar com ele.
Mas eu estou de pé desde o seu último levante.
Pois antes que ele me pegue de olhos abertos
vou deitar. E embora o sono me faça dormir,
meus sonhos continuarão despertos.

O sono ao lado, o sono em mim

O meu amor dorme ao meu lado.
Seu sono pesado não atrapalha o meu dever.
Sou um poeta insone e meu serviço não tem hora ou lugar.

O meu amor sonha aqui pertinho.
E espero que não seja pesadelo o seu silêncio.

Dormindo eu penso e escrevo em pensamento.
Acordo já com poemas e canções.

E quando durmo ao lado do meu amor
não sei o que causo.

A minha vigília não fecha os olhos.
Meus sonhos são todos acordados.
E também meus pesadelos.

Eu tenho um amigo

Eu tenho um amigo que é muito misterioso.
Cada passo seu é um segredo.
Cada fala uma charada.
E me pergunto se meu amigo
é aprendiz de esfinge.

Eu tenho um amigo que às vezes some.
Cada passo seu não deixa rastro.
Cada fala parece um sussurro.
E me pergunto se meu amigo
de propósito se esconde.

Eu tenho um amigo que é poeta.
Cada passo seu é um verso.
Cada fala uma entrelinha.
E me pergunto se meu amigo
me escreve ou me lê.

Sous les ciel de Paris

Dos telhados de Paris
dá pra ver a Torre Eiffel.
Nem de todos os telhados,
é claro.

Dos telhados de Paris
eu vejo outros telhados,
vejo as ruas,
vejo as praças.

No inverno
eu vejo a neve
nos telhados de Paris.

Eu vi.
E me lembro muito bem.
E lembro do quanto eu me diverti
numa sacada de um telhado em Paris.

Ai, saudades do frio e da fumaça,
do queijo, do papo e da cumplicidade.
Irmã querida,
nossa queda na rua e na neve ...
Eu lembro e sorrio.
Eu lembro e choro.
Eu lembro e sinto o frio
daquela noite onde todos estávamos felizes.

Ah, os telhados de Paris ...
Que saudade!

domingo, 13 de novembro de 2011

Judy - O Fim do Arco-íris


Para mim, assistir um espetáculo com o selo Möeller e Botelho é garantia de que coisa boa vem pela frente. A qualidade do trabalho dessa dupla e sua equipe é de levantar o chapéu. Mas, eles nunca caem no fácil. A cada novo projeto eles mostram que estão prontos para a ousadia. Eu me pegava pensando: Avenida Q e seu politicamente incorreto vai assustar o público?; Gypsy, com referências tão americanas vai dar certo aqui?; José Mayer para o protagonista de Um Violinista no Telhado? E no fim cada peça era um sucesso maior que o outro.

Quando eles anunciaram a montagem de Judy - O Fim do Arco-íris no Brasil eu fiquei em polvorosa! Pesquisei e vi cenas da montagem em Londres. A atriz dava um show de performance. Que desafio de fazer um espetáculo digno de Miss Garland. E ainda tem o público que não a conhece ou reconhece a figura mas não conhece a história de vida dela.

Não faz mal. Peter Quilter escreveu uma peça bem amarrada, com personagens firmes no enredo e diálogos primorosos. As cenas de Judy são um turbilhão de emoções.


Igor Rickli faz Mickey Deans e defende o seu personagem enquanto muitos na plateia queriam vê-lo o mais longe possível de Judy. Ele nos tira de nosso lugar de julgadores e traz a dúvida. Talvez ele tenha feito por amor?

Gracindo Júnior foi a grande surpresa da noite. Não que seu talento e capacidade estivessem em questionamento. Mas não imaginei que num palco onde Judy Garland estivesse outro personagem poderia brilhar. O seu Anthony é lindo! A luz e a cor que a vida de Judy tanto precisava. O amor incondicional dos seus fãs estava ali naqueles gestos gentis, olhar sincero e taça de vinho tinto.

Claudia Netto. Seu nome deveria bastar. Escrever sobre a sua performance é difícil. Se usarmos todos os adjetivos que denominem a perfeição, ainda não seremos dignos de classificar o seu trabalho. Que entrega! Se jogar nessa cova dos leões é para quem pode. Interpretar Judy Garland não é tarefa fácil. E ela faz isso com uma força única. Seu corpo e sua voz desenham Dorothy, a Vicky Lester, a Hannah Brown, a Manuela ... a Frances Ethel Gumm. E sua redenção na canção final é a certeza de que estamos em frente a uma estrela (representada e representadora).

Charles Möeller e Claudio Botelho. Será que ainda há o que dizer sobre o que vocês fazem sobre um palco? Muito obrigado. É sempre um arrebatamento assistir ao que vocês fazem. E esse agradecimento vai também para toda a equipe de vocês. Cenógrafos, figurinistas, técnicos e aos músicos! Sempre de primeira qualidade e essenciais para o gênero.

E ficam os meus emocionado relato e fervorosa indicação. Siga a estrada de tijolos amarelos e corra para o Teatro Fashion Mall. Judy - O Fim do Arco-íris está em cartaz quinta às 18h – R$ 80,00 sexta às 21h30 – R$ 80,00 sábado às 21h, domingo às 20h – R$ 100,00 Temporada: 11 novembro de 2011 a 12 de fevereiro de 2012 Teatro Fashion Mall (21) 2422-9800/3322-2495, terça a domingo, das 15h às 20h.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Andando de olhos vendados

Eu ando de olhos vendados.
Assim, sigo na direção que o vento sopra,
tropeçando nas pedras que aparecem,
mergulhando nas águas que me tragam,
jogado na areia pelas ondas que me rejeitam.

E sem nada ver,
tudo sinto.
E sinto maior e mais forte;
de olhos vendados
não sou seguro do norte
mas sou certo da partida.

Andando de olhos vendados
tudo é novo
e tudo é lembrança.
E não se finda a esperança
de um dia chegar em algum lugar.

Mas sem enxergar ...
será que já passei da chegada?
Não sei ...

Venha comigo na próxima jornada.
Serás meus olhos.
Serei teu coração.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Chagas e chuvas

A chuva cai tão forte ...
E as gotas que atravessam a minha janela
parecem as chagas criando-se na minha alma.
Não dão mínima trégua.
Só atingem e seguem o seu caminho.

A chuva cai tão forte ...
Queria ser como as gotas de chuva.
Se atiram das nuvens. Água suicida.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Mira e atira

Parabéns por seus olhos analíticos!
Faça de tuas vistas mísseis
e mire em mim como alvo estático.
Assim é bem mais fácil acertar.

Venha com as tuas palavras ácidas.
Corroa cada laço -
até o aço pode ruir.

A distância entre nós cresce.
E a exatidão do teu extermínio?
Esta esmorece?
Não.

Parabéns! Teu tiro foi certeiro.
Já não sou um obstáculo
entre teus caminhos hipócritas.
Assim é bem mais fácil, não é?

Musa aleatória

Cada história tem uma musa.
Cada blusa, uma costura.
Cada costura, uma memória.

Onde passa a agulha não passa o carinho.
É pequeninho o buraco no pano.
Pior para a agulha que vem de fininho,
mas não fica no ninho.
Foi só desengano.


terça-feira, 11 de outubro de 2011

Teu silêncio, poeta

Queria que não fosse tão difícil decifrá-lo.
Queria ler o teu olhar e assim compreender a tua alma.
Mas és poeta.
Só posso ler o que escreve. Tua voz é grafia.
Tua palavra, poesia.
Teu silêncio é folha em branco.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ledo engano

Pensei não voltar a tê-la
compartilhando a minha mesa,
presenciando a minha matura.

E segui (teria outra opção?)
aguardando o teu perdão,
e o fim da tua amargura.

Vendo não chegar esta hora,
vi-me só do lado de fora
da tua porta trancada ás mil fechaduras.

Seria hora de desistir?
Mas qual caminho seguir
sem você na caminhadura?

Ledo engano.
Eu já começara
a trilhar este destino sem cura.

Mas até Zeus
revelou-se um dos meus
quando não soube ter distância da tua figura.

E para mim, pobre mortal,
sem ter o dom da metamorfose,
bastou o tempo, em sua dose ideal,
para mostrar que o amor
cose qualquer fissura.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Meu querido pintor

Meu querido,
continue a tua procura
que eu sou mesmo camuflado.

Enquanto buscas minha figura
eu me escondo nos teus quadros.

Meu querido,
qual a palheta que escolheste?
Quais matizes? Quais texturas?

Quais as cores e pincéis
pintarão os teus papéis?
Como a moldura irá vestir
o modelo que se desnuda?
Qual será a assinatura
nesta tela deflorada?

Meu querido,
finalize a tua pintura
que eu sou obra inacabada.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O amor é surdo

Sinceridade é para os fortes.
E eu sou fraco.
Guarde as verdades para ti.
Não me ataque com o que não me compete saber.
Nem tudo o que é fato é prato que eu possa digerir.
Respeite minha covardia.
Só mostre-me os dias que o meu calendário suportar.
Só mande as cartas que não me façam chorar.
Prefiro nadar na superfície do que dizes
do que me afogar nas profundezas do que fazes.
Só seja sincera quando eu não puder ouvir.

sábado, 24 de setembro de 2011

Velha viagem

Hoje, já velho,
eu olho o passado
e vejo os conselhos
desgastados, amarelos,
desbotados, que um dia
os mais velhos do que eu
me deram como garantia
de que os erros seus
não seriam os meus.

Hoje, perto da partida,
eu olho a chegada de tantos
e imagino as feridas,
ouço longe os prantos
que essas pobres crianças
acabarão por chorar
vendo morrer cada esperança
que já havia morrido
com os mais velhos do que eu.

Hoje, com pouco a sonhar,
eu olho para baixo
e vejo escorrer das minhas mãos,
tão enrugadas, os velhos trapos
que restaram da roupa e do perdão.

Morrerei nu,
sem sonhos para me cobrir,
sem esperanças para fazer levantar,
sem conselhos para deixar de herança.

Morrerei nu
e só
e enrugado.
Não mais que os mais velhos do que eu.

sábado, 10 de setembro de 2011

Ada

Ada, eu te tomo num giro.
O último suspiro ficou pra depois.
Ada, não se prenda aos lírios.
A última lágrima se despede dos teus cílios.

Ada, enfim as amarras vão se partir.
O início de um horizonte à sombra da nova terra.
Ada, a mim tu te agarras, mas é finda a guerra.
Espera que iremos sorrir.

Ada, minha pequena,
meu doce austríaco, minha salada alemã.
Teus traços típicos se adequarão aos trópicos.

Ada, não sê obscena,
mas é afrodisíaco o sabor da maçã.
Teu canto lírico se tornará exótico.

Ada, futura morena,
o teu novo zodíaco é estrela xamã.
Será onírico o céu utópico?

Ada, eu caio em silêncio,
eu paro e eu penso
e descubro que não sei.

Ada, este destino imposto.
Ele é de teu gosto?
Eu nem te perguntei.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Pensas que me engana?

Pensas que me engana?
Sei que quando és solícita
queres mesmo é estar implícita
nos meus passos e projetos.

Pensas que me engana?
Sei que, mesmo nunca explícita,
tuas ações são ilícitas -
reflexo dos teus olhos irrequietos.

Pensas que me engana?
Sei o quanto te excita
saber o que se agita
debaixo do meu teto.

Pensas que me engana?
Sei o tanto que te irrita
tudo aquilo que limita
conhecer o meu secreto.

Pensas que me engana?
Sei bem, embora omitas,
o endereço da guarita
d'onde vigias meu trajeto.

Pensas que me engana?
Pois saiba que é restrita
cada verso que habitas
dentro dos meus sonetos.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Alheia aos meus problemas

Desculpe atrapalhar.
Chegar e já incomodar.
Eu sei que és alheia
ao que te rodeia
e não é tu.

Mas nem tudo é azul
fora do teu mundo cor-de-rosa.

E vou alongando a prosa
ciente de que estás impaciente.
E tenho medo, pois tenho amizade
mas se me tens - eu sou descrente.

Trazer sua atenção
é difícil se não lhe traz diversão.
Pena que não aprecias o sadismo.
Meus problemas lhe trariam riso.

Desculpa atrapalhar.
Mas é que eu preciso de ti -
mesmo você com seus esquemas.
Eu preciso de ti -
mesmo distante dos meus dilemas.
Eu preciso de ti -
mesmo que esboçada nos meus poemas.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

À digníssima guardiã das chaves

Coitada da dona da porta.
Acha que porque possui as paredes
é dona dos limites.

Coitada da dona da chave.
Sonhou destrancar o segredo,
mas o desejo atropela obstáculos.

Coitada da dona da casa.
Tentou ser autoridade
com animas anarquistas.

Coitada. Ela é dona de coisas.

domingo, 21 de agosto de 2011

Indigna

Não te mandarei flores,
nem te comprarei chocolates
ou te farei um jantar.

Não te mandarei cartas,
nem te farei sonetos
ou te jurarei no altar.

Não te darei jóias,
nem te levarei em viagens
ou te convidarei pra dançar.

Não te possuirei em silêncio,
nem te domarei aos sussurros
ou te ater, ou dominar.

Não és digna de meu esforço.
Mas nem espere de mim o desprezo.
Teu lugar em mim nem chega a esboço;
das tuas armadilhas eu saio ileso.

Poeta e puro é o depravado no escuro

é engraçado vê-lo vulgar,
te ouvir xingar no telefone ...
vc parece estar além disso.
como se possuísse algum tipo de pureza,
por ser poeta.

mas logo vejo que você não presta.
de pureza nada tens;
depravado é o que tu és.
usas poesia como charme
para mulheres teres aos pés.

Luz, câmera, sertão

Fui fazer uma viagem,
lá pra bandas do nordeste.
Participar de uma filmagem:
"Um iânqui cabra da peste".

Depois de desembarcar,
fui parar no Cariri.
E o diretor já questionou:
"Are you from daqui?".

Eu disse que não, meu senhor,
sou do Rio de Janeiro.
Mas no meio do sertão,
carioca é estrangeiro.

Faltou água, faltou luz;
só não faltou calor.
A produção faliu, 'cabou.
Nem buscaram o diretor.

E o cara dos state
no início até chiou.
Mas não deu dez minutos,
logo se apaixonou ...

Mister William Goldenstein,
foi namorar Mariazinha,
filha de um pobre capataz,
e irmã do Zé Sardinha.

O pior é que deram certo,
e Mariazinha foi ouvindo.
E de tanto escutar,
quis gritar o seu destino.

Largou pai, largou irmão,
e largou o marido gringo.
Trabalhou, juntou milão,
e disse: Tchau, que já vou indo.

Ela fez as suas malas,
juntou trapo e dicionário.
Depois de aprender inglês
foi treinar o vocabulário.

E quem diria que Mariazinha,
filha de Joana dos açúdes,
ia pegar avião
e chegar em Hollywood.

Conheceu uns produtores
e vendeu o seu roteiro.
Convenceu os domadores
a investir um bom dinheiro.

E 'zinha mudou de nome,
pra melhor se aproximar
do sotaque lá dos home,
Jane Lee passou chamar.

Fez o filme e no elenco
só tinha artista bom.
Só estrela de calibre
pra chamar a atenção.

E o filme estreou
e fez o maior sucesso.
Jane Lee barbarizou
e sua obra fez progresso.

Ganhou prêmio e fez fortuna.
E ficou reconhecida.
Sua mesa ficou farta,
esqueceu da outra vida.

Mas o ouro na estante
não reluz no coração.
E Jane Lee quis ser Maria
e voltar para o sertão.

Quando anunciou a partida
os estúdios emburraram.
Reclamara da saída e diziam
que os contratos não deixavam.

Mas 'zinha nem ligou
e pegou o seu avião.
Mas a vida traz surpresas;
às vezes boas; ás vezes, não.

O avião explodiu no ar,
caiu no mar, matou Maria.
Fez o mundo do cinema chorar
e L.A. decretou luto de um dia.

Os produtores (após enxugar as lágrimas)
fizeram roteiro da vida dela.
Pobre Maria, nem o corpo acharam no mar,
já estava incorporada por outra nas telas.

O filme ficou pronto e era o dia da première.
Com os ingressos todos vendidos
para o filme da tal mulher.

Estavam todos bem vestidos
e tudo se apagou.
O nordeste foi escolhido
como palco deste show.

O projetor iluminou
a grande alvura do telão.
E devolveu, por uma noite,
Mariazinha pro Sertão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

(des)Hidratação involuntária

Boa noite, lágrimas.
Faz tempo que não vens ...
Toca a minha face, lágrima.
Mas não afoga ainda mais o meu coração.

Cubra-me, lágrimas.
Risca a minha bochecha
e marca o caminho molhado da dor.

Chegam aos meus lábios.
Lástima serem as lágrimas
e não o teu beijo.

Boa noite, lágrimas.
Faz tempo que não choro assim.
Toca a minha face, lágrima.
Mas não estilhaça o que sobrou de mim.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Pequenos amantes

Minha petite pequena
Sou teu pequeno little
Corro pra ti, morena
mas queres nada comigo

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Gênesis, capítulo 01 - versículo 03

Sou testemunha da tua criação.
Sou fiel antes mesmo de firmar sobre a pedra tua igreja.
Batizei-me antes mesmo de dizerem amém.

Não sabes a honra que tenho em presenciar os teus milagres.
Em ver os pássaros quebrarem a casca e saírem dos ovos,
e ganharem penas e voar. Voar para além dos horizontes ainda não limitados
pelos tristes olhos humanos.

E bebo da água dos rios antes de brotarem na nascente.
Estou ao teu lado antes dos anjos soarem trombetas.
Acompanho fazeres do barro, palavra.
E ilumino-me com o teu talento
antes do verbo ser feito.
E quando o fazes,
mostra-te divino.

domingo, 14 de agosto de 2011

Longe das canetas

Perdi minhas canetas.
Queimei os meus papéis.
Tranquei meus cadernos
juntos com os meus anéis.

Disfarço-me de iletrado
e mascaro a minha poesia.
Tornei-me despoemado;
hoje ando de cabeça erguida.

E por desfazer-me do teclado
não escrevo e nem mais crio.
E sinto-me longe do pecado
mas não mais longe do vinho.

E sofro sendo este novo ser;
ser que nada externiza.
O corpo quer esconder
mas a alma insiste e eterniza.

Voltarei para a vida pregressa!
Volto a beber o leite da letrada teta.
Volto às palavras em pressa.
Reencontrei as minhas canetas.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Tempo contradiz seu contratempo

Depois? Mas não era agora?
Vai que esgota o tempo
e vamos embora?
O que será de nós dois?

Vê se te esmera
que a espera não vigora.
Para entrar dei um dos bois,
mas dou a boiada pra não ficar de fora.

Não quero demora.
Tenho medo do que sois
e do que foste outrora.
Vai que acaba o nosso tempo?

Pois que o tédio aflora
e põe a vida na penhora.
A paciência já se opôs
e quer dar fim à sua labora.

Já sou uma senhora
e não sonho com chuva de arroz.
Vai que é o fim dos tempos
e não se foge e sem se devora.

Vai que é este o fim da história
e o tempo diz que é a sua hora?
Pois se não der pra fazer agora
talvez se possa deixar pra depois.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Falso remorso

tenho remorso,
causo desgosto,
mas faço o que posso.

esse mês de agosto
começou insosso
mas ainda aposto.

são minhas fichas em jogo,
e sei que é o meu rosto
que se arrisca ao tapa.

e uma noite na Lapa
traz seus perigos;
mas deles eu gosto.

já não trago comigo
a vergonha na cara
nem as armas à postos.

se causo destroços,
são consequência dos atos,
dos braços e beijos.

não considero um estrago
o que são estilhaços
do nosso desejo.

eu mesmo despejo,
eu mesmo ameaço,
eu mesmo obedeço.

o mesmo alvoroço
eu logo desfaço
e tudo renova.

já somos de novo
desconhecidos e
livres de esforços.

o falso remorso
se revela vencido
pelo cansaço.

o falso remorso
se mostra vestido
mas de pés descalços.

o falso remorso
acaba despido
e de olhos incautos.

o falso remorso
causou desgosto
e manchou o retrato.

nem mesmo a Lapa
perdoa um estrago
feito em agosto.

sábado, 6 de agosto de 2011

Divina virilha

Se Deus é a tua virilha,
sou devoto desta fé.
Chego sempre com a vela acesa,
subo de joelhos a escadaria,
adoro as tuas proezas
e comungo das tuas orgias.

Batizo-me nos teus líquidos,
confesso-me no teu gritar.
Pago o teu sacrifício
mas cobro o teu olhar misericordioso.

Teu terço e suas dores
são contas pra se rezar.
Teu berço padece de amores,
mas em teu leito não sobra lugar.

Faço o sinal em respeito
e rogo a quem te deseja (como eu)
que não pense mal
quando entro depressa em tua igreja;
Se tua virilha é Deus,
quero ser fiel na tua catedral.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A Valsa Paternal

Papai,
eu não te mereço.
Eu nem te conheço,
talvez nem ninguém.

Papai,
não te desmereço.
E guardo o apreço
que a mim me convém.

Papai,
verei se apareço
em teu novo endereço
no ano que vem.

Papai,
eu quase me esqueço
que já envelheço.
Não sou mais neném.

Papai,
não me reconheço,
virei do avesso.
Virei um outrem.

Papai,
após um tropeço
ganhei adereço:
um título além.

Papai,
não sabes o preço
que custa um berço ...
tá pra mais de cem.

Papai,
eu sei que me queixo
mas abaixo o queixo
e peço por bem.

Papai, por favor,
não vá embora,
pois eu, agora,
sou um pai também.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Certos usos da maçã

Serpente sabida,
do saber bifurcado,
da maçã oferecida
fez do fruto o pecado.

Rainha ultrapassada
quis de volta sua glória,
da maçã envenenada
fez do fruto uma história.

Com sua flecha apontada
e seu filho à revelia,
da maçã posicionada
fez do fruto pontaria.

Deitado descansava
um cientista encafifado,
da maçã que despencava
fez do fruto um legado.

A receita açucarada
a revestiu com um sabor,
da maçã cristalizada
fez do fruto o amor.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Espera encadernada

O teu silêncio me perturba.
O teu sumiço desconserta.
Porquê esconder atrás da juba
o quê o teu rugido descoberta?

As tuas palavras fazem falta.
Só uma imagem não sacia.
Ter seu nome em minha pauta
nada cala a agonia.

Não há razão pra se esconder.
Já sei que agora tens juízo.
Se por acaso aparecer,
saberás que te preciso.

Quando vens me consolar?
Tua distância é um castigo.
Quero tanto confessar
que teu sumir é desabrigo.

Tua morada desconheço,
e esperá-lo é sacrifício.
Mas se me der teu endereço,
me desfaço dos meus vícios.

Quando calas tua voz,
fica muda a minha alma.
Quando ages como algoz,
agoniza a minha calma.

Busco então em cada estrada
algum resquício dos teus passos.
Mas não há marcas de passada
quando vais de pés descalços.

Passo em frente ao meu espelho
e o reflexo espalha
aos sete ventos o conselho:
tua ida é uma navalha.

Retalhou minha juventude,
apressou os meus grisalhos.
Corvos rondam - e não se ilude,
já não temem o espantalho.

Resta a dúvida que grita
de onde não possuo escolta
enquanto não responde à aflita
que anseia tanto a tua volta.

E como a esposa viúva de guerra
que crê 'inda estar vivo seu amado homem.
Sei que ainda respiras sobre esta terra
enquanto eu não esquecer o teu nome.

Ai, que a vida 'inda te guia
de volta ao nosso antigo lar.
Ai, que a vida não trairia
a quem só soube te cuidar.

Crendo em Deus eu oro uma prece.
Jurando ao Diabo, eu não viro a face.
Aquele que o traz, logo carece
ter minha fé, meu sangue e carne.

Só me resta dormir e sonhar teu retorno.
Já é hora de ir e acabar com este inferno.
O raiar do novo dia traz junto o adorno
que enfeita teu rosto nas folhas do caderno.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Com laço e fita

Qual o momento decente
para se aceitar um presente?

Qual a hora do dia
é possível fazer cortesia?

Quando não é pecado
poder fazer-lhe um agrado?

Estar ou não à altura
é razão para perder a compostura?

A questão é o presente em si
ou a mão que o oferta a ti?

Para não sofrer com desenganos,
ofertarei o mesmo daqui a trinta anos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sonâmbulo

Queria esquecer os compromissos
e me jogar ao vício que é ter você.
Queria me atirar do precipício
e ter como abismo o glacê
desse teu beijo doce,
desse corpo quente,
desses cachos mouros,
dessa pele ardente.
Queria estar presente nos teus sonhos,
caminhar contigo na calçada
e esquecer as antigas moradas,
cujos muros me separam de você.
Queria estar fora dos versos
e dentro do teus lábios,
já estou disperso nos perigos
nada sábios que não o seu calor.
Afoguei-me em tua saliva,
afundei-me em teu carinho,
já não quero mais anseio.
Quero soltar os arreios desse coração
sem juízo, que só trouxe prejuízo para a nossa paixão.
Quero correr solto no teu campo,
ser livre e selvagem nos teus seios,
ser água e alimento e, entretanto,
respirar o ar do teu suspiro.
Por isso, imploro ao pé do ouvido:
aguarde cada segundo da distância;
irei compensar a nossa ânsia
com mil beijos apaixonados.
E aí me entrego ao vício, ao precipício
e crio novo compromisso.
Dessa vez,
sonhando acordado.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Samba do Vassalo

Vassalo vê se não vacila,
vê se não te esquiva
de cumprir o dever.

Vassalo vê se não te esquece
que eu sou teu mestre
e podes padecer.

Vassalo vê se tu te manca
ou desço a tamanca
e você vai chorar.

Vassalo sei que no fundo gostas
que eu lhe talhe as costas
e te faça sangrar.

Vassalo faça direitinho
e eu te dou carinho
e te alimento bem.

Vassalo eu já vou embora,
vê se não me amola
quero o seu amém.

Vassalo saia em reverência,
que a minha paciência
já acabou também.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Canção Viperina

Eu sou uma víbora!
Serpente malígna
Peçonha inoculante
Cascavel que ameaça
Naja hipnotizante
Eu sou uma víbora
De pele transmutante
Ágil e ardilosa
Com presas perfurantes
Eu sou uma víbora
E vou te picar
E vais cair no meu solo
Tremendo até sufocar
Eu sou uma víbora
Uma cobra fatal
Cuidado com minha lígua
Bifurcada e má
Eu sou uma víbora
Entocada e atroz
Eu rastejo e nado
Pulo e tiro a voz
Gritas e não te escutam
Já estás sem razão
Eu sou uma víbora
Raiz da tentação
Se a maçã não morder
Eu mordo a tua mão
E em poucos minutos
Paraliso o teu coração
Eu sou uma víbora
Já não vais me encontrar
Já troquei de pele
Tenho outra escamação
Eu sou uma víbora
Adeus, refeição.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Meu perfil

Quando me olhas de perfil
não me percebes por inteiro.
O que vês é apenas um pedaço,
uma brecha no espaço
entre mim e o teu olhar.

Quando me olhas de perfil
só percebes um dos lados.
O que vês é apenas a metade,
uma parte covarde
que se esconde do outro par.

Quando me olhas no perfil
há apenas o que permito.
O que vês é menos verdade do que mito.
São partes de mim, escolhidas a dedo,
para que me admires e esqueça o medo
de haver detritos entre os meus retratos.
Há delito em omitir os fatos?
Não, se eu saio bem nas fotos.

sábado, 16 de julho de 2011

A Princesa Aurora

Cinco horas de uma manhã gelada.
Eu, guerreiro sem espada ou montaria,
visto a armadura fria e faço guarda
em frente a morada da minha princesa.

Enquanto não nasce o sol,
faço as minhas pálpebras de represa
até que o calor seja um lençol
e cubra as vergonhas de minha emoção.

Até que fuja de sua masmorra,
indefesa e carente frente o amor e a paixão,
esperando quem lhe socorra,
a donzela esperada a tempos em dor.

E me ponho aos seus pés,
juro fiel meu amor,
ofereço meus navios, com velas e convés,
e imploro à princesa pedir-me o que queira.

Ela move os seus lábios
e diz de uma vez: prisioneira,
guerreiro, não serei outra vez. Os sábios
livros me deram o poder que faltava.

Sou livre e rasteira,
sou lenha, sou lava.
Minha terra outro não semeia,
sou eu quem planta, sou eu quem lavra.
Rompo rimas e desejos,
rompo celas e o grilhão.
E se quiseres meu amor,
serás tu prisioneiro
em meu coração.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Beleza real

Para Camila Rial, que me tomou a iniciativa de me tornar um LEX.
Esta poesia é sua homenagem.

Hoje tem festa no palácio.
Um banquete para os escolhidos
citados no prefácio
do livro proibido.

Hoje tem baile no castelo.
Entre tantos convidados
não sei se te revelo
com quem deves ter cuidado.

Mas se queres meu conselho,
fique longe da rainha.
Ela indaga o seu espelho
e suas perguntas são mesquinhas.

Com a pele branca como a neve
e a cor do sangue em seus lábios,
a rainha se atreve
a questionar todos os sábios:

Se no seu reino oscila
beleza em potencial
que destrone a rainha Camila
e a dinastia dos Rial.

Mas como bem imaginas
tal perigo é fobia vã.
Camila, mais que rainha, é Diva -
presenteia a rival com uma doce maçã.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Olha, menina

Olha, menina ...
Eu sou uma farsa.
Mas, agora, sou eu quem
rechaça toda a minha alegoria.

Olha, menina,
hoje dou fim à toda mentira
e à toda trapaça.
Dispo-me das minhas fantasias,
outrora brilhantes,
hoje cheias de traças,
e me meto dentro de uma veste
que não é de pano,
mas sim de fumaça.

E enevoado, menina,
eu me ponho a dispersar
na primeira ventania.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

À espera de Morfeu

À Marina Moreira, que merece essa dedicação.
Tardia, mas de todo o coração.

Fazemos loucuras na madrugada.
Ele invade meus sonhos
como se eu fosse sua amante.
Ele enfeita os meus sonhos
como se eu fosse sua estante.
Ele brinca com os meus sonhos
como se eu fosse o seu infante.
Ele entra nos meus sonhos
como se eu fosse confiante.

Mas eu acordo e
quebro o nosso acordo.
E eu me recordo
que sonhar é mais gostoso.

Fecho os olhos
e espero pelos braços dele
à minha volta.

Fechos os olhos
e espero o beijo dele
nas minhas pálpebras.

Fecho os olhos
e espero que ele te entregue a mim
nos meus delírios oníricos.

Fecho os olhos
e, soando ridículo,
rezo para a hora passar devagar.

Quero esse sonho mais vezes
pois temo sua distância da realidade.
Sonho exercitando o meu desejo,
pois fechei os olhos para a minha vontade.

domingo, 3 de julho de 2011

Quero um coração

Quero um coração impermeável.
Um que possa ser envolvido,
mas jamais penetrado.

Quero um coração indelével.
Um que possa ser marcado,
mas jamais esquecido.

Quero um coração indivisível.
Um que possa estar companheiro,
mas jamais espatifado.

Quero um coração imóvel.
Um que possa ser habitado,
mas jamais abduzido.

Quero um coração insolúvel.
Um que possa ficar entranhado,
mas jamais absorvido.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viver sem saber

Não sei o que é isso dentro de mim.
E escrever tem sido companhia das lágrimas.
Parece um soco no estômago
e o punho faz uma viagem sem fim
onde cada estação é uma lástima.

Não sei o porquê de nada,
nem o porquê disso tudo.
Sei sorrir, mas é pose fingida,
é carta marcada no meu jogo sujo.

Conte-me seus problemas e eu escondo os meus.
Abafo os meus dilemas e atento estou aos seus.
É mais fácil dessa maneira - covarde -
mas não tenho a coragem verdadeira
que tanto sei transparecer.

Essa força que eu vos passo,
e com tanta facilidade,
que vos entrego em palavras,
sorrisos e abraços
é a força que eu busco,
é o traço que falta
para acertar o meu caminhar.

Não sei como mudar
e minhas tentativas são passos lentos.
E nas horas em que não aguento
minha vontade é esfumaçar.
Sumir e sabe lá quando voltar.
Mas não posso morrer por poucas horas e reviver um novo alguém.
É esta persona errada, errônea e errante que deve ir além de si mesmo
e encontrar dentro do meu desespero a centelha que acenda o fogaréu.

E sendo artista,
um dos meus tratamentos é observar.
Sendo poeta, meu remédio é escrever.
Sendo ator, minha cura é o palco.
Sendo gente, meu refúgio é o teu carinho.

Não sei o que é isso dentro de mim.
Nem reconheço o que está fora de mim.
E eu mesmo não sei quem sou.
Vou me encontrando a cada verso,
corando a cada aplauso,
mas sem isso eu me disperso.
Vou vivendo em meio aos sons,
e procurando entre os nós
os laços que me prenderão.
Vou indo sem saber,
até um dia aprender
que viver é exatamente
redescobrir.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pálpebras perpétuas

Coitado!
Está apaixonado.
Está aprisionado nos olhos de uma mulher.
Vendado.
Quer tanto que nem sabe o quanto quer.
Vendido.
Está fora do mercado,
e é sempre consumido na hora que ela requer.
Sumido.
Agora chora escondido e não sabe mais quem é.
Perdido.
Espera encontrar-se nas vontades da Salomé.
Achado.
Três semanas depois.
Morreu afogado nas lágrimas que ela fez escorrer.
Velado.
Duas coroas de flores, um círculo de amigos e era hora de rezar.
Ido.
E mesmo morto jaz aqui aquela que o fez cair.
Bandida.
Roubou o coração de quem só quis sentir.
Partida.
Ela junta na mala o seu savoir-faire
Coitado!
Qual o próximo desavisado será prisioneiro nos olhos dessa mulher?

sábado, 4 de junho de 2011

Dor sem perdão

Quem nos faz sofrer deveria ser deportado para a Sibéria.
Deveria saborear a miséria aquela que quebra um coração.
Deveria passar pela cólera, ser julgada como escória;
não devia ter perdão.

Quem nos faz sofrer deveria sem dó ou piedade
ter que beber da própria maldade, sendo esquecida,
sendo banida de toda ou qualquer compaixão.

Quem nos faz sofrer deveria perder a língua,
ficar à míngua, criar uma íngua, perder o paladar.
Deveria se afogar nas minhas lágrimas,
se perder nas minhas lástimas,
sufocar na minha perda de ar.

Quem nos faz sofrer deveria se tornar analfabeto para nunca mais ler uma carta de amor.
Deveria perder o direito de ser amado,
a não ser por mim.
Ah, maldita! De todos os males que caírem sobre ti,
nenhum mais me irrita do que serem ínfimos perto da minha dor de vê-la partir.
Partir para longe mim,
partir o meu coração.

Quem nos faz sofrer?
Quem menos queríamos perder.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sabores sem respostas

Qual o sabor do fruto proibido?
Qual o perigo se desfruto do pecado?
Será que é Deus quem prepara o meu castigo?
Ou estará meu destino nas mãos do Diabo?

Qual o sabor do beijo esquecido?
Qual o perigo de sair na tempestade?
Será que me afogo no mar embravecido?
Ou estarei seguro pela lei da gravidade?

Qual o sabor do prato que se come frio?
Qual o perigo de se usar o microondas?
Será que com pressa eu me arrepio?
Ou estaria evitando que respondas?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Malícia no País das Maravilhas

Alice, quem foi que te disse
que essa meninice ainda te dá valor?
Deixe de babaquice, esquece essa meiguice
e vem mostrar o teu amor.

Dispa-se, Alice, te toda a beatice,
que eu não quero essa chatice
na hora de enrijecer.

Ice sua sandice,
vista-se com a minha tolice;
me namora no anoitecer.

Alice, quem foi que te disse
que essa criancice ainda ia durar?
Deixe de canalhice, que eu não quero ser vice
nessa arte de amar.

Colírio altitude

Caro amigo de olhos aéreos,
teu olhar vagueia em horizontes vermelhos.
Será que são tão sérios
esses problemas escondidos na toca do coelho?

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Em cartaz: "Um Violinista no Telhado". Mazel'Tov!


Ontem, quarta-feira, dia 18 de maio de 2011, assisti à pré-estreia de "Um Violinista no Telhado" no Teatro Oi Casa Grande.

O que vem das mãos da dupla Möeller/Botelho nós aprendemos a não temer. Só ansiar. Sempre que o anunciam o próximo trabalho, lá estou eu em busca de novidades; quase que diariamente. Saber que montariam "Um Violinista no Telhado" não foi diferente. Acompanhei cada informação, cada foto, cada boato, cada vídeo ... A data da estreia vinha chegando e meu coração batendo mais forte, ao ritmo da trilha de Jerry Bock e Sheldon Harnick.

Criei o hábito de me embeber da história de um musical antes de ir assistí-lo (até onde vão as minhas possibilidades, é claro): foi assim com Gypsy (ouvi as versões originais da Broadway, Londres e México, os revivals, assisti o filme com Rosalind Russel e o filme pra tv com Bette Midler, e por aí vai ...), com Nine (o filme de 2009) e tantos outros.
Com "Um Violinista ..." não poderia ser de outra maneira: reassisti o filme que já tinha assistido tantas vezes, busquei tudo o que pude sobre ele, li nos livros sobre a Broadway que tenho ... fui imergindo na belíssima história e na música que traz esse espetáculo.

E eis que sou abençoado por estar no lugar certo e na hora certa e ganho um ingresso para assistir à pré-estreia de "Um Violinista no Telhado". Ter a oportunidade de fazer parte da primeira plateia foi uma emoção à parte.

Pois bem, o que é José Mayer, gente? Como Tevye (seu personagem no musical) diz que vivendo na tradição o homem sabe quem é e o que Deus espera que ele faça, Zé Mayer sabe quem é e o que o público espera que ele faça. O ator domina o palco e o público com toque de mestre. Somos o seu Deus e os seus fiéis. Inegável dizer que para o grande público a escolha dele para protagonista de um musical gerou surpresa. Mas que bela surpresa! Uma voz belíssima!

Soraya Ravenle compõe a sua Golda com uma verdade que nos faz amá-la e compreendê-la mesmo quando não concordamos com os seus posicionamentos. As meninas que fazem as três filhas mais velhas estão lindamente interpretadas por Rachel Rennhack, Malu Rodrigues (uma das vozes mais lindas do espetáculo) e Julia Bernat (que emociona com o seu olhar, vale a pena acompanhá-la em cena mesmo quando não faz parte da ação central).

Os outros atores (são mais de 40 em cena!) são de talento e profissionalismo indiscutível. Serei injusto com os outros mas irei destacar algumas alegrias particulares: Ada Chaseliov, Marya Bravo, Cristiana Pompeo e Kelzy Ecard. Mulheres que adoro ver no palco! E que show à parte é a cena do sonho de Tevye!!! Eu é que não me meto com Fruma Sarah ...

E para completar a fofolice da peça, que mimo o menino que fez o violinistinha!

Toda a equipe técnica está impecável: maquiagem, cenário, figurino, orquestra e efeitos especiais (UAU!).

As versões de Claudio Botelho traduzem todo o sentimento do espetáculo, em especial "Tradição", "Ah, Se Eu Fosse Rico", "O Sonho de Tevye", "Você Me Ama?", "Longe do Meu Lugar" e "Longe do Meu Lugar" ... ok ... todas, gente ... eu amo mesmo, fazer o quê?

A direção de Charles Möeller faz Anatevka parecer um lugar que todos conhecemos, mesmo que seja dentro de nós. E eu não queria mais sair de lá quando acabou. Lágrimas me acompanharam praticamente nas quase três horas de espetáculo. Passou tão rápido ... Mas meu trem partirá para essa vila muitas e muitas vezes. Voltarei à Anatevka quantas vezes eu puder!

Bem ... como nem tudo é perfeito, chegou a hora das ressalvas ... Fica a dica, produção do espetáculo: é ultra necessária a implantação de lenços de papel junto ao programa (que está lindo, aliás).

Mazel'Tov e corram para o teatro!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Coração sitiado

Parece que agora que não me tens,
é quando mais sou seu.

Agora que não me podes,
é que sugas mais o que é meu.

Foste embora no mundo,
e é outro colo que te consola,
é outro prato que te sustenta,
é outro corpo que te namora,
é outro corpo que te frequenta.

Ah como anseio ...
Possuí-la, degluti-la,
começa-la, defini-la,
protegê-la, despi-la.

Tomar o fruto de tuas oliveiras
pisá-lo em tua glória;
ofertá-lo à padroeira
e bebê-lo em expiatória.

És meu pecado e minha benção.
Minha certeza e negação.

E se minha paixão é proletária,
tu, és latifundiária em meu coração.

terça-feira, 17 de maio de 2011

But he is Woody Allen!


Can we say that he is handsome?
Well I don't think so ...

Can we say that he is hot?
I'm sure I cannot ...

Can we say that his eyes make us cry,
that his hair drives us wilde
or that he is filled with style?

No.

But he is genious,
he is gorgeous,
he is Woody Allen.

domingo, 15 de maio de 2011

Para inspirar ...

Agora que estou fazendo curso de sapateado só quero saber disso!!!

Este vídeo é do ensaio aberto que houve para a imprensa nova-iorquina do revival na Broadway do musical Anything Goes, de Cole Porter.

Estrelando a estupenda Sutton Foster, o elenco conta ainda com a participação de Joel Grey.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Musa em dia de chuva

Levemente molhada pelas primeiras gotas de chuva,
te vejo levar-me para a tua vida atráves desse beijo roubado
na frente do seu portão.
Puxo teu corpo para perto do meu.
Não posso proteger-te das tempestades,
mas serei aquele que só deixará a chuva rolar sua face abaixo.
Ó, mulher amada! Sonhei com tuas formas repousando entre os meus braços por diversas noites.
Hoje, enfim, possuí teus olhos verdes, sua boca pequena, teu cabelo claro,
tua pele morena de sol.
Arco-íris nasce em meu horizonte.
É teu sorriso e a chuva na minha noite amanhecida.
Eternizada na cumplicidade que o nosso encontro enamora.
Mora em mim, musa inspiradora.
Ultrapassando os teus portões, é à mim que tu invades.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amor de beata

Ah, amor de beata não quero não.
Ajoelhar no milho a cada pecado?
Fiz nada de errado, nem careço perdão.

Eu faço é pipoca com meu desatino.
Lambuzo teu corpo com mel
e faxino teus olhos das teias da religião.

Se queres oração, rogo a ti esta prece:
Senhor que estais no céu,
retrata esta beata em moça coerente.
Que tenha a sua fé, mas não arraste correntes.
Que na hora em que a carne peca
o Senhor esteja em sua soneca
e não castigue a paixão da gente.
Tolerância e paciência
para todas as horas
(que seja agora ou no vai e vem).
E que não nos encha de penitências,
Amém.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Pra quê sentido se estou aquecido?

Não faça pouco das suas meias palavras.
Elas esquentam o pé da minha alma.
Me deixam quentinho ...
sinto a lava tomando o meu corpo.

Quente fico mas perto do pecado,
mas dele não me desfaço tampouco.
Desvirtuado mas aquecido
pelo calor do teu recado,
pelo sabor que tens despido,
me refaço a cada caco de vidro pisado.
Mas saio ileso,
pois meias palavras protegem os pés.
Minha alma hoje não irá sangrar.

Ao amigo poeta

Ao poeta Yke Leon

Ah, meu amigo poeta ...
tudo o que em mim desperta a tua poesia ...
enche-me de inveja, enche-me de alegria
ler cada verso, (e lendo-os) desnudar a fantasia
e ver nu o teu talento.

Ah, mas que eu não me agüento
quando pensas que é jóia a minha bijuteria.
Se há acerto nas minhas palavras
foi um ganho de loteria.
Foi pura sorte que essa minha folia
encontrou abrigo na tua leitura.

Ah, meu poeta amigo ...
desfaço-me de minha armadura
e vejo em nossa arte aquilo o que a vida emoldura:
a beleza, que nada mais é do que arquitetura das emoções.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Olho grande

pitanga caída no pé do pé de pitanga
tomei um suco de manga
mas desejava uma taça de vinho

mulher pelada sobre a minha cama
sei que tu me amas
mas queria mesmo é a mulher do vizinho

Nó e laço para o fim do cansaço

Não sei o que faço.
Não tenho forças.

Preparo um laço,
me enrosco na forca.

O nó eu desfaço,
e minha vida parca
seguirá distorcida,
seguirá em pedaços,
no caminho destes passos tortos,
dos meus sonhos falsos,
dos meus dias porcos,
das minhas noites sonsas,
do meu sono calmo.

E acordo com olhos lassos,
e o nó da forca eu refaço.
Na dúvida, eu vou lá e o reforço,
já não há fuga e nele me enlaço.

Valeu o esforço,
acabou o cansaço.
Já não estou mais a postos,
agora repouso.
Descanso no meio dos mortos.

Follow the yellow brick road

Vento e terra,
poeira e trovoada.
Num piscar de olhos caio com minha casa sobre uma estrada.
Um caminho de tijolos amarelos que levam a um castelo
de esmeralda de um verde tão belo
que chega a fazer o olho doer.

Nem percebo que minha casa matou uma bruxa.
Bem, descubro que cometi um assassinato.
Logo me cubro com o véu de um falso luto.
E me nego a seguir o tal traçado.

Sou levado a buscar o meu retorno.
E seguir a estrada, e a seguir adiante.
Vou em busca de um homem sábio,
um mago. Que me fará encontrar meu lar aconchegante.

Não posso negar que este lugar é de fato fascinante.
É tanta beleza e é tudo um encanto.
E até me espanto quando um espantalho
corre e me assusta dançando e entoando um canto.

Este pobre ser de palha,
este falso homem, inflamável,
busca um cérebro para pensar e ser gente,
pensar e ser um homem enfim inegável.

Seguimos agora em par
e logo um novo ser nos arrebata.
Metálico e estático, sem nem piscar,
ali está o homem feito de lata.

Com um pouco de óleo nas juntas,
um mexe e mexe que tudo range,
o homem de lata se desconjunta,
e sem coração, coitado, se constrange.

E também canta e também dança,
e um trio formamos, e além do libreto
fazemos a curva, e lá vem a bonança:
mais um acompanha, seremos quarteto.

É o leão, que ruge,
mas nem chega a dar medo.
Homem de lata não se enferruje!
Iremos em busca do homem dos segredos.

Saímos nós, para o Mago maior:
o Senhor de Oz, que nos trará as respostas.
E no castelo de esmeralda chegamos,
com a esperança de viver melhor.
Mas a verdade nos bate à porta ...

O Mago é tão frágil quanto nós,
mas tem sua esperteza na manga.
Dá respostas a todos, o homem de Oz,
está tudo bem, ninguém se zanga.

Minha fada madrinha, reaparece
e faz em mim a verdadeira magia.
"Bata os sapatos" ela diz para mim,
dou adeus aos amigos, e mesmo num só dia
tudo se passando, a alma entristece
de dar adeus e voltar para aquela velha vida vazia.

Adeus, tijolos amarelos,
adeus, magia e cores,
vou para a minha vida em sépia.
Sim, eu até queria voltar para Oz,
mas quando virá outro furacão?

As bruxas e feitiçarias não acontecem
na minha vida em sépia.
Aqui sou eu minha bruxa e minha fada,
meu leão, minha lata e meu espantalho.
Sou a magia e estrada.
Sou a menina da via dourada,
da vida sofrida,
sou tanto e nada,
quase nada.
Vivendo em função da fantasia ...
além do arco-íris espero encontrar a minha felicidade,
minha riqueza e minha alforria.

Além do agora

Seja da forma que for,
(com veneno ou com licor)
da vida já foi-se a cor, agora
basta esperar o tormento.

Já não há o que fazer,
(se vou esperar, se vou correr),
da vida já foi-se o querer, agora
basta esperar o momento.

Já não há pra onde ir,
(transcender, ficar aqui),
da vida já foi-se o existir, agora
bastar esperar o renascimento.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nos braços de Morfeu

Ah, Morfeu, me abrace bem forte
e não me solte.
Quero adormecer sem preocupação,
sem despertador,
sem pijama (esta noite fez calor).

Ah, Morfeu, me amarra
e crava em mim a tua garra.
Me faz escrava do teu feitiço.
Quero um chá de sumiço,
quero o teu mel, teu sal e teu sangue.

Deus protetor dos pesadelos,
não permita que eu acorde em plena vigília.
Quero que meus olhos permaneçam novelos
enrolados, fazendo meu ser minha própria ilha.

Ah, Morfeu, me abrace bem forte
e nunca, nunca, me solte.

Maria Moleza

Maria Moleza, tadinha,
tá na dúvida se deve ter certezas.

E fica miúda, escondida debaixo da mesa,
não se sabe se de medo
ou em busca da linha
que, fora do carretel,
se embolou na sua vida
e a distancia do céu.

Maria Moleza, coitada,
tem a inconstância como sua beleza.

E em minha ignorância,
nem aos pés de vossa grandeza,
peço que assim permaneças
e não faça trapalhadas.
Não se endureça, minha doce Maria,
cada dia mais mole,
cada dia mais fria,
cuidado que o sol enrijece,
cuidado que a lua umidece,
cuidado que o tempo te estraga,
cuidado Maria Moleza:
sendo ti tua própria riqueza,
se teu navio naufraga,
morrerás - com toda certeza.

domingo, 27 de março de 2011

Fim do dia

E sinto a vida se esvaindo em meu peito.
E vou ficando oco, e o que ouço
são os ecos dos meus defeitos.

Quem dera já o tivesse feito.
Mas não. Continuo a seguir de pé,
despertando a cada manhã
para suportar esta vã caminhada.

Quisera eu anoitecer o meu destino.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Grato pela consideração

Não posso reclamar da sua honestidade.
Disse a mim as palavras duras, porém tuas.
E se minha existência te atrapalha,
peço que perdoe esta minha inabilidade.

Tenho atitudes falhas,
e minhas falas nuas
impregnadas de infantilidade
são verdadeiras e loucas.

E são poucas e nada boas
as trilhas que me vejo em frente.
Tão perigosas, sinto-me rente
aos cabelos da morte.

Visto-me então com uma veste sagrada -
os novelos de lágrimas teceram-a em mim.
Dentro de mim já não há mais nada.
Em volta de mim, a terra e o jardim.

sexta-feira, 18 de março de 2011

#Dia 18 - 25 Songs, 25 Days

Amo Gilberto Gil, mas raramente o ouço. Um crime, não? Esse jogo veio em boa hora. Fiquemos com Gil:

quinta-feira, 17 de março de 2011

quarta-feira, 16 de março de 2011

#Dia 16 - 25 Songs, 25 Days

Quando assisti Notre Dame de Paris pela primeira vez tive uma explosão de emoções. A beleza desta obra é ímpar, das melodias às interpretações às coreografias, enfim, tudo. E a cena final é lindamente triste. E já chorei algumas vezes assistindo-a. Mas posto esse vídeo em homenagem às primeiras lágrimas, inesperadas, vindas da surpresa e do contentamento de estar diante de uma coisa tão especial.

terça-feira, 15 de março de 2011

#Dia 15 - 25 Songs, 25 Days

Eu realmente amo singing along ... Escolher uma tá difícil ...

Mas, se temos que escolher ... Se não tem jeito ... Bem, apesar de amar o Sondheim, as músicas que eu mais gosto de sing along são as de Kander & Ebb. Cabaret, Chicago ... não importa ... eu simplesmente amo aquele clima.

E dentre todas, hoje vou optar por Two Ladies. Ainda aprendo a cantar e vou fazer o M.C. no palco! Aguarde e confie!

segunda-feira, 14 de março de 2011

sábado, 12 de março de 2011

#Dia 12 - 25 Songs, 25 Days

A última música que ouvi??? Bem, eu já a conhecia, mas, pesquisando sobre a nova montagem de Anything Goes na Broadway, me deparei com essa nova intérprete da música título e sua força no palco. O vídeo é apenas um ensaio, mas percebe-se que ela arrasará em todo o espetáculo, assim como o faz na canção que dá nome ao musical.

Com vocês, interpretando uma das mais famosas canções de Cole Porter, Sutton Foster:

sexta-feira, 11 de março de 2011

#Dia 11 - 25 Songs, 25 Days

Cada dia é mais difícil que o outro ... Uma canção do meu filme favorito ... Gente ...

Bem, eu queria muito poder colocar mais de uma, porque eu não tenho só um filme favorito. Defini como filme favorito um que eu coloque no dvd e não pule nenhum capítulo. Um que eu goste de ver do início ao fim e que me emocione (enquadrando aqui todas as emoções possíveis que o filme queira nos passar).

Tive que ir até o ano de 1936 para escolher Nonsense Song (uma brincadeira de Chaplin, misturando várias língas sobre a música de Léo Daniderff) do filme Tempos Modernos:

quinta-feira, 10 de março de 2011

#Dia 10 - 25 Songs, 25 Days

Gente, eu realmente não sei qual é a minha banda favorita ... Sei que temos milhões de bandas amadas eu poderia citar entre as que gosto The Beatles, Legião Urbana, Mamonas Assassinas, Queen, sei lá ...

Mas nenhuma dessas pode ser chamada de favorita. Então optei por colocar um vídeo com o elenco de Glee. Acho que é o mais perto de uma coisa favorita que eu posso chamar de banda ...

Performance do elenco de Glee
Time Warp (da trilha-sonora de The Rock Horror Picture Show)

Enquanto espero o chá

Peço uma xícara de chá. Olho pela janela. É tudo verde lá fora. Minto, há pinceladas de outras cores em flores e pássaros. Mas a maior parte é verde.
Sinto-me mergulhado nessa imensidão de tons de verde. Aliás, no verde porque é o que vejo agora. Estou afogado na sua ausência. Só mudo de oceano para oceano e quando emerjo é para buscar o ar que me falta de tanto afundar no mar de lágrimas que você me faz derramar. Lágrimas geladas.
Chega o meu chá. Obrigado, eu digo. Bebo e queimo os lábios. Esqueço que logo quando chega, o chá, ainda está fervendo. Tem coisas que ansiamos, mas é preciso esperar. Esperar para não se queimar.
Enquanto o meu chá esfria eu lembro de quão gélido era o seu carinho. E como me mantinhas por perto não para estar comigo, mas para ter-me contigo. Seu sachê na xícara, esperando sugar toda a essência para a água.
Meu chá está sem açúcar. Não quero mais essa vida morna. Cansei dessas tardes com você e seus chás. Eu detesto chá, na verdade. Desde que você partiu eu mantive as suas manias em mim. Não faz mais sentido por o bule no fogo se já não estais mais aqui.
Olho para a janela e no verde reencontro o velho pomar, que você deixou morrer. Adeus, querida. Leve as suas ervas contigo. Em pouco tempo estarei aqui, sentado na minha janela. Um copo de suco que não preciso esperar para beber. Saúde!

quarta-feira, 9 de março de 2011

#Dia 09 - 25 Songs, 25 Days

Uma canção que me deixe esperançoso ...

Essa canção faz parte do musical de Stephen Sondheim Into the Woods. É linda e muito emocionante.

Em um momento onde todos se sentem sozinhos, é preciso lembrar de perdoar, ouvir, abraçar, ou seja, na verdade No One is Alone.

A versão da montagem original:


Com a sempre magnífica Bernadette Peters:

terça-feira, 8 de março de 2011

#Dia 08 - 25 Songs, 25 Days

Gente, lembrar do primeiro amor? Vou ter que confessar que eu também tinha um cd de Sandy & Junior ... Então a música que me veio à mente é essa:

Shame on me. Shame on me.

segunda-feira, 7 de março de 2011

#Dia 07 - 25 Songs, 25 Days

No último verão eu estava desesperadamente louco esperando a estreia de Nine. E um dos números mais esperados (claro, além dos da Marion Perfeita Cotillard - que eu já sabia que cantava bem ...) era o da Penélope Cruz, e eu adorei!

Fiquei apaixonado!


Nem precisamos falar que minha namorada não ficou muito feliz com o meu olhar direcionado para o talento de Penélope ...

domingo, 6 de março de 2011

#Dia 06 - 25 Songs, 25 Days

Aqui vai uma canção que serve para todos os amigos!

Essa é a que eu falei no post anterior, a do início do segundo ato de Gypsy:


*Ok, Sondheim de novo ...a culpa é minha se ele fala de tudo?

sábado, 5 de março de 2011

#Dia 05 - 25 Songs, 25 Days

Agora sim, pegaram pesado. Músicas ficarem presas na minha cabeça? Quem convive comigo sabe o que é isso.

Não há dúvidas que essa canção faz parte de um musical. Poderia colocar alguma de Kander & Ebb, já que toda a obra deles tem um quê de "Sai de mim, Liza".

Ou, claro, de Sondheim. Quase coloquei uma de Gypsy, que toca logo no início do segundo do ato. Mas, ele tinha uma carta na manga. A canção que fecha o primeiro ato de A Little Night Music grudou na minha cabeça desde a primeira vez que eu escutei:



Eu gosto tanto que vou botar outra versão!!!


A letra aqui.

sexta-feira, 4 de março de 2011

#Dia 04 - 25 Songs, 25 Days

Uma música que me deixa calmo? São tantas ...

Mas a escolhida é mais pela voz do que pela canção. Claudette Soares tem uma voz que me dá uma paz, sabe?

Ei-la, então, numa versão bossa-nova de uma clássico da Disney:

quinta-feira, 3 de março de 2011

#Dia 03 - 25 Songs, 25 Days

Demorei a perceber que essa seria a música de hoje. Pelo menos eu sabia que a escolhida só podia ser de Stephen Sondheim, não sei porque mas essa certeza eu tinha.

Eis aqui, com a maravilhosa Bernadette Peters, do musical Into the Woods, Children Will Listen:



Careful the things you say
Children will listen
Careful the things you do
Children will see and learn
Children may not obey, but children will listen
Children will look to you for which way to turn
To learn what to be
Careful before you say "Listen to me"
Children will listen

Careful the wish you make
Wishes are children
Careful the path they take
Wishes come true, not free
Careful the spell you cast
Not just on children
Sometimes the spell may last
Past what you can see
And turn against you
Careful the tale you tell
That is the spell
Children will listen

Guide them then step away
Children will glisten
Tample with what is true
And children will turn
If just to be free
Careful before you say "Listen to me"
Children will listen

Perceba-me de novo

Sinto que não me queres por perto.
E teu desprezo faz-me sentir um ser repugnante.
Logo nós, dupla infalível ...
Será que agora é cada um na sua?

Busco saber se este é o teu decreto
ou se ainda terei o prazer do teu instante.
Ah, essa dor indescritível ...
Sinto-me noite, escura e sem lua.

Caminho em passos sóbrios,
lágrimas nos olhos
esperando-a me querer como antes.

Queria crer que é tão óbvio
e que verás com novos olhos
o velho caminho que segue adiante.

quarta-feira, 2 de março de 2011

#Dia 02 - 25 Songs, 25 Days

Bem ... a minha última ex-namorada foi a minha primeira, rs. Nós namoramos em 2005 e permanecemos juntos quase dois meses. Três anos depois (e outra namorada, pra não parecer que sou obsessivo) nós voltamos, mas, só para dar o real ponto final que o nosso relacionamento pedia. Hoje somos amigos, e bons amigos, diga-se de passagem.

Eu poderia citar muitas canções aqui, bossa-nova (por causa de um filme que vimos juntos), Sondheim (que conhecemos juntos - mesmo que hoje ela não dê a mínima pra ele) ou Chico Buarque. E será uma composição dele que trago hoje. Não Anos Dourados ou Retrato em Branco e Preto, que muito bem se encaixariam aqui como lembranças de um amor que passou. Mas a escolhida é a canção que (mesmo não tendo nada a ver) ia me dando forças para superar a dor do primeiro amor.


Com vocês, o bom e velho Chico:


"Amanhã vai ser outro dia"

terça-feira, 1 de março de 2011

#Dia 01 - 25 Songs, 25 Days

Encontrar uma música da infância é bem difícil. Definir até quando foi a infância e lembrar qual a música me remete a tal época não é uma tarefa simples.

Garimpando a memória, fui de frente a lembrança de abrir um cd que, se não me engano, veio de brinde da perfumaria O Boticário só com músicas da MPB. E a canção que eu ouvia e ouvia e quis aprender e achava linda e que me encantou foi Pela Luz dos Olhos Teus, de Tom Jobim.

Aqui, a versão que eu escutava, com Tom e Miúcha:

25 Songs, 25 Days


Descobri esta brincadeira no Varal Fult. Lá vocês podem conhecer melhor a origem dela.
Legal, não?

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Resoluções pós-21

Passei muito tempo querendo saber quem eu era. Já não me acho tão interessante assim, digno de tal descoberta.
Agora busco saber como funciono. Fazendo as coisas andarem já estará de bom tamanho.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Tamara

Te mira, Tamara.
Tomara que te esmere.
Rememore, Tamara:
quem com o ferro fere ...

Tá na hora, Tamara.
Cara a cara é que te quero.
O amor incinero, Tamara,
me retiro e lá te espero.

Vem, vam'bora, Tamara
quebra o muro da mentira.
Furo os olhos, Tamara,
cego eu vejo a minha ira.

Tu não me adoras, Tamara.
Queres só que eu te cure.
Sou eu quem chora, Tamara,
não tenho quem me segure.

Do alto me atiro, Tamara.
Quebro e sou pó. O nada eu viro.
Inspiro esse pó, Tamara.
É o fim da história. Em mim eu me insiro.