A polícia chega cerca de 17 minutos após a chamada. Logo os oficiais passam aquela fita amarela em volta da casa. Sobem as escadas e, para os peritos, a cena deixa claro que o crime foi cometido entre às 21h e 22h do mesmo dia. É quase meia-noite agora e o detetive se aproxima do corpo. Um homem, por volta de 30 anos, altura mediana, moreno, está estirado na cama. O sangue que manchava a cama vinha de suas mãos - completamente sem dedos. Foram decepados, disse o detetive.
Alguns minutos depois as evidências são coletadas e levadas para análise. Ao lado do corpo foram encontrados um vestido, uma blusa branca (provavelmente da vítima) toda manchada de beijos vermelhos, alguns fios de cabelo comprido (provavelmente da dona do vestido) e um par de luvas. Os detetives tem a esperança de encontrar vestígios do assassino - seriam as luvas descuido ou afronta?
A casa está livre de pistas, nada leva ao criminoso, mas em compensação o corpo está coberto de impressões digitais. Todo, todo, todo coberto; da cabeças ao pés. (...) Na retirada do corpo, encontraram a carteira do falecido e uma carta embaixo do travesseiro. A carteira tinha dinheiro e os documentos, mas o seu documento de identidade tinha um buraco. Arrancaram a impressão digital do polegar da vítima. É claro que um fato desses faz rostos contorcerem em indagações. Indagações essas respondidas após a leitura da carta:
A quem encontrar essa carta que não se compadeça deste homem estirado sobre a cama. Este cafajeste roubou a minha vida. Me iludiu, disse que me amava e um dia me virou as costas para fugir com uma outra qualquer. Não se explicou e nem se despediu. Desde esse dia perdi a minha identidade. Vaguei sem rumo até descobrir que a vingança seria o meu único refúgio. Então juntei minhas poucas últimas forças e voltei até aqui, até a casa onde este homem me tomou como sua tantas e tantas vezes, para tentar reconstruir a minha identidade. Após matá-lo - e não descrevo tal manobra pois eu mesma não saberia dizê-la - me vi estúpida. De nada adiantou. Eu era ainda a mesma mulher sem rumo de antes. De depois dele. Então fiz a única vingança que ainda me era disponível. Dei a ele de mão beijada o que calhordamente já havia me roubado: a minha identidade. Enchi-o de impressões digitais minhas, enchi-o por todo o corpo. E para completar carreguei comigo a sua identidade. Não me bastavam os dedos. Não queria uma só lembrança de suas impressões.
Nem percam tempo me procurando. Uma mulher sem nome e sem identidade. Sem impressões, mas que ainda impressiona, não?
Gostaria de terminar essa carta com uma gargalhada. Pena que não fiquem bem no papel. Mas, ainda me resta uma última vingança. À meia-noite a casa explodirá e aí sim, nem saberão da minha existência e nada sobrará do canalha. Peço desculpas a vocês, mas na guerra (mesmo na guerra do amor) se perde inocentes.
Só deu tempo de todos olharem para os seus relógios de pulso, para o celular ou para o grande relógio acima da cama e verem os três ponteiros se alinharem no número XII.
Alguns minutos depois as evidências são coletadas e levadas para análise. Ao lado do corpo foram encontrados um vestido, uma blusa branca (provavelmente da vítima) toda manchada de beijos vermelhos, alguns fios de cabelo comprido (provavelmente da dona do vestido) e um par de luvas. Os detetives tem a esperança de encontrar vestígios do assassino - seriam as luvas descuido ou afronta?
A casa está livre de pistas, nada leva ao criminoso, mas em compensação o corpo está coberto de impressões digitais. Todo, todo, todo coberto; da cabeças ao pés. (...) Na retirada do corpo, encontraram a carteira do falecido e uma carta embaixo do travesseiro. A carteira tinha dinheiro e os documentos, mas o seu documento de identidade tinha um buraco. Arrancaram a impressão digital do polegar da vítima. É claro que um fato desses faz rostos contorcerem em indagações. Indagações essas respondidas após a leitura da carta:
A quem encontrar essa carta que não se compadeça deste homem estirado sobre a cama. Este cafajeste roubou a minha vida. Me iludiu, disse que me amava e um dia me virou as costas para fugir com uma outra qualquer. Não se explicou e nem se despediu. Desde esse dia perdi a minha identidade. Vaguei sem rumo até descobrir que a vingança seria o meu único refúgio. Então juntei minhas poucas últimas forças e voltei até aqui, até a casa onde este homem me tomou como sua tantas e tantas vezes, para tentar reconstruir a minha identidade. Após matá-lo - e não descrevo tal manobra pois eu mesma não saberia dizê-la - me vi estúpida. De nada adiantou. Eu era ainda a mesma mulher sem rumo de antes. De depois dele. Então fiz a única vingança que ainda me era disponível. Dei a ele de mão beijada o que calhordamente já havia me roubado: a minha identidade. Enchi-o de impressões digitais minhas, enchi-o por todo o corpo. E para completar carreguei comigo a sua identidade. Não me bastavam os dedos. Não queria uma só lembrança de suas impressões.
Nem percam tempo me procurando. Uma mulher sem nome e sem identidade. Sem impressões, mas que ainda impressiona, não?
Gostaria de terminar essa carta com uma gargalhada. Pena que não fiquem bem no papel. Mas, ainda me resta uma última vingança. À meia-noite a casa explodirá e aí sim, nem saberão da minha existência e nada sobrará do canalha. Peço desculpas a vocês, mas na guerra (mesmo na guerra do amor) se perde inocentes.
Só deu tempo de todos olharem para os seus relógios de pulso, para o celular ou para o grande relógio acima da cama e verem os três ponteiros se alinharem no número XII.