quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Meus pés sobre a escuridão

Pé ante pé,
saio pelas ruas à procura de minha sombra.
Mas é noite, e nem a lua
minha rua ilumina.

Como encontrar essa parte tão disforme e obscura de mim
se não tenho claridade para confrontar-me?
Terei que esperar amanhecer para encontrar a minha sombra?

Caminho sem saber por onde;
sem saber se onde piso é grama,
asfalto ou um rio onde correm as suas lágrimas.
Caminho e esbarro em meus medos.
Caminho e não me canso.
As pernas que me levam são minhas,
já acostumadas ao rumo dos segredos.

Ainda sem parar,
pé após pé,
vejo uma luz bem no fim do horizonte.
Não sei se é o fim do limbo,
o início de um paraíso,
ou a chama de um inferno anunciado.

A minha luz vai crescendo e tomando a via,
tomando as formas e me engolindo.
Sumo e na luz total ainda não tenho sombra.
Não me encontrava nas trevas
e agora me perdi na imensidão branca da luz.
Talvez não seja o externo, mas sim os meus olhos
que nunca tenham aprendido a enxergar além das maçãs.

Pés sobre pés:
estou num mar de homens.
Perdidos, cegos e
errantes.
Juntos, caminhamos pela via
(escura ou clara?) -
já não faz diferença.

Nosso caminho é o eterno perder-se.