terça-feira, 19 de abril de 2011

Olho grande

pitanga caída no pé do pé de pitanga
tomei um suco de manga
mas desejava uma taça de vinho

mulher pelada sobre a minha cama
sei que tu me amas
mas queria mesmo é a mulher do vizinho

Nó e laço para o fim do cansaço

Não sei o que faço.
Não tenho forças.

Preparo um laço,
me enrosco na forca.

O nó eu desfaço,
e minha vida parca
seguirá distorcida,
seguirá em pedaços,
no caminho destes passos tortos,
dos meus sonhos falsos,
dos meus dias porcos,
das minhas noites sonsas,
do meu sono calmo.

E acordo com olhos lassos,
e o nó da forca eu refaço.
Na dúvida, eu vou lá e o reforço,
já não há fuga e nele me enlaço.

Valeu o esforço,
acabou o cansaço.
Já não estou mais a postos,
agora repouso.
Descanso no meio dos mortos.

Follow the yellow brick road

Vento e terra,
poeira e trovoada.
Num piscar de olhos caio com minha casa sobre uma estrada.
Um caminho de tijolos amarelos que levam a um castelo
de esmeralda de um verde tão belo
que chega a fazer o olho doer.

Nem percebo que minha casa matou uma bruxa.
Bem, descubro que cometi um assassinato.
Logo me cubro com o véu de um falso luto.
E me nego a seguir o tal traçado.

Sou levado a buscar o meu retorno.
E seguir a estrada, e a seguir adiante.
Vou em busca de um homem sábio,
um mago. Que me fará encontrar meu lar aconchegante.

Não posso negar que este lugar é de fato fascinante.
É tanta beleza e é tudo um encanto.
E até me espanto quando um espantalho
corre e me assusta dançando e entoando um canto.

Este pobre ser de palha,
este falso homem, inflamável,
busca um cérebro para pensar e ser gente,
pensar e ser um homem enfim inegável.

Seguimos agora em par
e logo um novo ser nos arrebata.
Metálico e estático, sem nem piscar,
ali está o homem feito de lata.

Com um pouco de óleo nas juntas,
um mexe e mexe que tudo range,
o homem de lata se desconjunta,
e sem coração, coitado, se constrange.

E também canta e também dança,
e um trio formamos, e além do libreto
fazemos a curva, e lá vem a bonança:
mais um acompanha, seremos quarteto.

É o leão, que ruge,
mas nem chega a dar medo.
Homem de lata não se enferruje!
Iremos em busca do homem dos segredos.

Saímos nós, para o Mago maior:
o Senhor de Oz, que nos trará as respostas.
E no castelo de esmeralda chegamos,
com a esperança de viver melhor.
Mas a verdade nos bate à porta ...

O Mago é tão frágil quanto nós,
mas tem sua esperteza na manga.
Dá respostas a todos, o homem de Oz,
está tudo bem, ninguém se zanga.

Minha fada madrinha, reaparece
e faz em mim a verdadeira magia.
"Bata os sapatos" ela diz para mim,
dou adeus aos amigos, e mesmo num só dia
tudo se passando, a alma entristece
de dar adeus e voltar para aquela velha vida vazia.

Adeus, tijolos amarelos,
adeus, magia e cores,
vou para a minha vida em sépia.
Sim, eu até queria voltar para Oz,
mas quando virá outro furacão?

As bruxas e feitiçarias não acontecem
na minha vida em sépia.
Aqui sou eu minha bruxa e minha fada,
meu leão, minha lata e meu espantalho.
Sou a magia e estrada.
Sou a menina da via dourada,
da vida sofrida,
sou tanto e nada,
quase nada.
Vivendo em função da fantasia ...
além do arco-íris espero encontrar a minha felicidade,
minha riqueza e minha alforria.

Além do agora

Seja da forma que for,
(com veneno ou com licor)
da vida já foi-se a cor, agora
basta esperar o tormento.

Já não há o que fazer,
(se vou esperar, se vou correr),
da vida já foi-se o querer, agora
basta esperar o momento.

Já não há pra onde ir,
(transcender, ficar aqui),
da vida já foi-se o existir, agora
bastar esperar o renascimento.