O corpo escondia o segredo,
meu corpo escondia.
Agora revelou-me coisas que eu não sentia,
que já sentia,
mas não sabia.
O que corre em meu corpo não é mais só sangue nas veias.
o que corre em meu corpo
ocorre quando estás por perto,
mesmo que o perto seja só
perto do meu pensamento.
O meu corpo mostrou o que já sabia.
O meu corpo despertou o que em mim adormecia.
A natureza, viva e esperta,
ativa e, agora, desperta,
faz crescer em mim um grito
que não é som,
mas sim movimento.
Se estou vestido é para cobrir este movimento vertical
e nada silencioso.
Esse grito do meu corpo
que busca não o céu,
mas sim um refúgio.
Um refúgio, mas não para calar-se.
Um refúgio para ecoar-se.
Meu corpo agora sem vestes ou segredos
quer gemer e soluçar a libertação dos seus medos.
Meu corpo agora sem pudores ou vergonhas
que vestir-se somente com o seu suor.
Meu corpo quer esse canto explosivo.
Meu corpo quer dançar a dança original
na coreografia germinada da semente da maçã.
Quero morder o teu pecado
e beber o sumo do teu sacrilégio.
Vem comigo calar o Deus
que quer punir o desejo.
Vem comigo calar o homem
que quer calar o meu corpo,
o teu corpo
e outros corpos cansados de laços e botões.
Canta e entoa.
Grita e ecoa.
Faz barulho,
cria o som, a música
e o movimento
da melodia do prazer.
Quero viver o infinito desta canção da carne.
Faz calor entre os nossos umbigos e,
fora eles, quem sou eu
se não o teu próprio corpo?
Quem poderá dizer das quatro mãos que correm este novo ser,
uno e indivisível,
uno e inseparável,
uno e inevitável,
quem poderá dizer das quatro mãos qual o par
que a cada um pertence?
Nossas mãos colhem,
nos calos do segredo exposto,
as flores plantadas no Jardim do Éden.
Não importa o tempo.
Não importam as estações.
Sou imortal na primavera
do instante do grito de amor.