quinta-feira, 8 de abril de 2010

José, para onde?



Fugi.
Não quero enfrentar.
Quero sumir;
para então me encontrar.
Será?
Será que me encontro?
Ou este é mais um conto-fantasia
fingindo que noite é dia
para sol no céu haver?

Fingir;
outra forma de fuga.
Não se sabe para onde ruma,
e, no chão, o pé que pisa
nem mesmo realiza
que são de areia movediça
as tábuas sob este solado.

Fugir
das fugas e das mentiras.
Mas verdades são sofridas
e elas não quero ver.

Crescer,
para parar de fugir.
Crescer,
para parar de fingir.
Crescer?
Eu quero sumir.

Toma tino, criança.
Tenha esperança, menino.
Veja o caminho à frente
e siga.
Não fuja mais do sofrimento.
Não vês? - sofres mais no fingimento,
e com ele faz sofrer.

Não vês?
Fingindo, vais mais longe de si mesmo.

Siga,
mas de olhos bem abertos.
Sem fingir, fugir,
sem planos de sumir.
Vá que o caminho é certo.
Mas o que há nele
não posso prever.

Incertos somos todos,
vá certo disto.
Dúvidas são como o resto,
sinta. Mas não se deixe levar.
Vá em verdade,
melhor caminho, não há.

Tempestade

Cai a chuva
e logo é temporal.
Não tivemos tempo;
molharam as roupas do varal.

Tempestade, tempestade,
com seus raios e trovões,
faz de mim, um céu escuro,
luz e fogo com os teus clarões.

As gotas - tão pesadas -
caem como bombas.
Mísseis planejados?
Não sei.
Minha pólis devastada
já não posso responder.
Meu chão não tem fronteira
pra reter o temporal.

Alaga minhas vias,
faz correr nas minhas ruas
o mar de sofridão.
Lágrimas caídas dos olhos de lua,
maré sobre faces,
desaguou coração.

A chuva parou.
Logo secarão as roupas do varal.
Mas não secará a dor encharcada
de sangue e de lágrimas
que a tempestade trouxe ao meu céu escuridão.