terça-feira, 29 de setembro de 2009

À la Miss Blanche DuBois

A vida é feita de quê?

A minha vida é feita de fantasias.
Escolhi o meu mundo
e este é feito de coisas belas e positivas.
A magia do meu mundo acoberta a realidade.
Minhas vestes são claras e leves.
Meus adereços adornam a minha pele alva e rosada.
Ah!, mas são todas bijuterias e peças de brechó.
Mas assim me visto e me aprumo.
O charme de uma mulher é o seu poder de ilusão.
E a minha mágica jaz nestes pertences.
São pertences simples, eu sei;
mesmo assim não concordo quando me chamam de pobre.
Sou rica pois tenho elegância, sou feminina,
sei aproveitar as coisas boas e guardo num cofre as minhas lembranças.
Sou muito rica, meu rapaz.

Por favor, meu jovem, elogie-me quando eu passar por ti.
Fale bem do meu perfume, do meu vestido,
da minha tiara e do meu chapéu.
Faça a gentileza de me acompanhar até a praça
e lá me ofereça um refrigerante.
Mas não tente se aproveitar da minha delicadeza.
Não que eu não tenha desejo, mas é que uma moça
deve tomar conta de sua reputação.

As pessoas são invejosas.
Elas inventam mentiras só porque
não entro em suas jogadas sujas e vãs.
Ah, meu querido!, salve-me desse esgoto onde vim parar.
Só te peço que não me leve muito para perto da luz -
é que a idade em mim avança;
sei que já não tenho 16 anos e a mulher deve
saber usar a sua beleza com inteligência.
Ainda não sei como me perdi nessas ruas escuras.
Como sou grata a ti por me levar em direção ao jardim.
E, seja você quem for, saiba que
eu sempre dependi da bondade de estranhos.

Humilhando - Vol. 04

Voltamos à nossa série de humilhação pianística!
Hoje trazemos a fabulosa Valentina Igoshina. Esta russa de 31 anos interpreta Chopin com uma leveza e beleza inomináveis. Aprecie esta belíssima obra: Fantasie Impromptu em Dó Sustenido, Op. 66.


Chopin compôs esta Fantasia em 1834 e a dedicou a Julian Fontana, um amigo muito próximo e querido. Reza a lenda que, para não ouvir comentários maldosos, Chopin pediu que esta Fantasia não fosse publicada até a sua morte devido à sua semelhança com a Sonata ao Luar de Beethoven.

sábado, 26 de setembro de 2009

6 meses - Parte II de II

No próprio dia 18 de março, marcamos de nos encontrar no próximo domingo, lá na minha casa.
Eu acordei mais cedo do que o necessário, mas algo me dizia que ela não apareceria. Sei lá ... uma coisa dentro de mim, sabe (aquilo o que eu chamo de minha síndrome de Chico Xavier). E logo ela ligou - ou eu liguei, não lembro - dizendo que não poderia vir. A mãe dela iria trabalhar naquela manhã e ela teria que ficar com o irmão. Fazer o quê, ... é a vida ... Fiquei lá ... na minha ... esperando tempo passar. E marcamos então de nos vermos no dia 24 de março, no Rio. Marcamos no Paço Imperial.
Eu cheguei um pouco mais cedo do que o combinado. Dei umas voltinhas por lá, fiquei um pouco na Arlequim. Fui lá em cima no acervo do Paço. Desci novamente e já estava ficando preocupado, achando que teríamos que adiar mais uma vez o nosso encontro. Subi novamente para o segundo andar do Paço e lá estava ela. Disse que também chegara cedo e que não me vira por ali. Estranho - pensei e dei um beijo desengonçado em seu rosto. Descemos - eu completamente nervoso - e fomos até o Odeon para ver um filme. Nada que pudéssemos assistir - filmes já começados. Então sugeri que fôssemos para Botafogo, no Estação. Pegamos o metrô e eu ainda um pouco distante, geograficamente falando, dela. Acabamos indo para o Espaço de Cinema, compramos ingressos para o filme "Palavra (En)Cantada", mas ainda tínhamos uma hora e pouco até o filme começar.
Sentamos ali no hall numa espécie de pufe muito grande e nos abraçamos enfim. Nossos rostos foram se aproximando num movimento estranho e no beijamos com vontade. Um beijo demorado, como se ali estivéssemos recuperando os meses perdidos, os longos domingos em que sentávamos em sofás separados. Ficamos no beijando durante quase todo o tempo de espera até o filme. Entramos na sala de cinema e assistimos o filme - na medida do possível para um casal de namorados (recém feitos) num cinema. Um documentário sobre as letras das músicas brasileiras que embalou muito apropriadamente os nossos beijos e carinhos.
Dali fomos embora - agora geograficamente muito próximos - e felizes.

6 meses se passaram e voltamos ao mesmo cinema. Nossos carinhos, que agora se extendem das poltronas vermelhas do cinema até uma cama bagunçada pela manhã, são mais intensos mas permanecem belos aos olhos de qualquer casal de namorados. Nos amamos mais do que nunca, sem perder jamais o brilho do nosso primeiro encontro.
Nós, dois primos um pouco distantes, que nos esbarrávamos em momentos familiares, hoje somos um par, uma dupla, um casal de apaixonados e esperamos os próximos aniversários, os próximos cinemas com suas poltronas vermelhas, os próximos domingos, as próximas camas bagunçadas, os próximos beijos demorados que ainda esperam recuperar o tempo perdido em sofás separados.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sonho estranho

Dormi agora e tive um sonho estranho.
Não sei direito se era eu ou um outro alguém,
mas eram meus os olhos que tudo viam.

Dentro desse sonho estranho estava você.
Lá estavas, coberto de mistérios;
vestias uma túnica azul turquesa.
Lembravas-me um oceano ...
E sei que de repente eu mergulhava na sua túnica.
E dentro de você eu afundava.
Não, não! Eu não estava me afogando.
Quanto mais fundo eu ia, melhor eu me sentia.
E descobria nas profundezas das tuas vestes
imensos monstros marinhos.
Monstros horrendos,
porém, apesar de feios, em nada me assustavam.
Sabe que os monstros carregavam milhares de fotografias minhas?
E eu via que quanto mais em você eu mergulhava,
mais eu me via e me reconhecia.

Ah, mas como era estranho esse sonho que eu tive!
Do nada eu saía do oceano (que era a sua túnica)
e lá estávamos tomando chá num campo verde,
mas tão verde ... Como era verde aquela mesa!
Pois é! O campo virava mesa.
E em cima da mesa estava uma carta.
Logo reconheci a sua letra no papel.
Sua letra tão linda ...
Só que eu percebia alguma coisa estranha naquelas palavras.
Elas pareciam encolhidas, como se quisessem fugir dos meus olhos.
Queria eu ter fugido daquelas palavras!
Era carta endereçada a uma outra mulher.
Quem seria esta que mereceu sua atenção?,
que roubou de mim sua caligrafia dedicada?
E logo ali, na mesa tão verde, você derrama o chá na carta.
E não era chá; eram minhas lágrimas saindo do bule de porcelana.
E foi tudo ficando confuso no meu sonho ...
As palavras da carta saíram correndo pelo campo verdejante
e sumiam.
Algumas palavras mergulhavam na sua túnica.
Mas eram as de menor importância como artigos e preposições.
Os adjetivos subiam nas árvores e os substantivos,
esses eu não sei ... acho que borraram com as minhas lágrimas de capim-limão.
Pois é! Eu chorava chá de capim-limão!

Nem sei bem como eu fui parar no alto de um prédio muito alto ...
Mas era bem alto aquele edifício. À minha volta só se via o céu.
E eu me jogava lá de cima com a carta numa mão
e um bule azul turquesa na outra.
E enquanto eu ia caindo, eu ouvia a sua voz.
Você me chamava e me chamava.
E eu acordei, enfim;
era você que me chamava a pé da cama,
ao pé do ouvido.
Lá estava você ao meu lado, na vida real,
com seu pijama azul turquesa e me beijando em bom-dia.
Trazia uma rosa e a mesinha do café da manhã.
Já te falei pra não usar o bule de porcelana!
Esse é pra quando tiver visitas!

E eu ficava tão feliz de te ter ao meu lado,
por poder te abraçar e ter acordado daquilo!

E eu te dizia:
Amor, dormi agora e tive um sonho estranho ...
Não me lembro muito bem ... sei que tinha um campo azul turquesa
e que eu mergulhava num oceano que era chá de capim limão.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Fome / Falta de Amor

A fome e a falta de amor;
Sensação e sentimento.
Como fugir de tais tormentos? - eis a questão!
Ambas arrebatam e,
de excesso, matam.
Causa nunca constante,
consequência devastante:
um vazio infinito
que em nada é bonito
pois o corpo fenece
a alma padece
e a carne, jazendo putrefata,
traz, na face estupefata,
o semblante faminto,
sedento, esperando o alimento
quer seja o pão, quer seja o carinho.

Ah, mas que destes males eu não morro.
Nem de fome ou falta de amor.
Destes dois tenho distância!

Por isso, quando a ti me dirijo
e digo, com sinceridade, o que digo a você,
não tome por maldade (o que é desejo)
a minha pura vontade de te comer.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

6 meses - Parte I de II

Fazia tempo que ela frequentava a minha casa aos domingos. Sempre víamos um filme, tocávamos piano, conversávamos ... Aos poucos fui percebendo que aqueles domingos eram muito pouco. Eu queria estar com ela todos os dias, mais tempo, mais perto. O fato dela ser minha prima de terceiro grau não era um problema para mim. Mas, como dizer pra ela que quero mais do que a sua companhia amiga nos domingos? Eu mesmo, que sentava em sofá que não o dela, me vi perdido ao tentar ficar ao seu lado. Mas, a hesitação teria um fim.
Depois de tanto tempo, no dia 08 de março, mais um domingo, mas não como os outros, tudo iria mudar. Não fizemos nada de concreto neste dia, mas deixamos claro, um para o outro, mesmo que inconscientemente, que sentíamos mais do que amizade ou vontade de ver filme e tocar piano juntos. Neste domingo tão marcante, ela chegou e eu vi que seria difícil resistir à tentação de me jogar em cima dela. Mas, hesitei mais uma vez. Não sabia qual seria a reação dela. Tinha medo de perder o pouco contato que tínhamos.
Neste domingo tão especial, não havia como eu sentar longe dela. Fiquei na poltrona ao lado do seu lugar no sofá. Tentava ficar o mais próximo possível de sua boca. Mas essa não era uma tarefa muito fácil. rs Quando estávamos no piano, ela cantando e eu acompanhando, nos olhamos em alguns momentos como se nossos olhos já confessassem o amor tão belo que dali se realizaria.
Quando ela foi embora, e fui levá-la no ponto de ônibus, tive a esperança de beijá-la, mas fui covarde mais uma vez.
Desde deste domingo confuso, não tive mais fuga desse sentimento tão arrebatador. Eu estava apaixonado. Esperei o próximo domingo, mas ela não poderia vir. Então, no dia 18 de março, quando eu estava na casa de uma amiga, entrei msn e vi a janelinha dela subir. Cliquei na tal janelinha e começamos a conversar. Eu declarei as minha saudades e, num leve tom de brincadeira (mais um artifício covarde, para ter para onde escapar, caso a resposta fosse violenta), disse que achava estranho o que eu estava sentindo e perguntei o que ela achava que fosse. Ela me respondeu: vc está gostando de mim. Eu disse que sim. E ela respondeu: eu tbm.

Aquele eu tbm fez esse blog se encher de poesias, contos, música e elocubrações. Encontrei a minha musa maior. A mulher que eu amo tanto e que me surpreende sempre. Cada dia mais linda, cada dia mais cativante, cada dia mais ela mesma, sem perder a espontaneidade. Agradeçam a ela por este blog, pelo o que aqui eu escrevo e pelo sorriso no meu rosto, pelos pensamentos felizes, pela vontade do amanhã chegar logo e estarmos juntos outra vez.

Antes ela frequentava minha casa aos domingos. Agora reside - e vive dona - no meu coração.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A filha de Pandora

Incendeia!
Abre a boca e diz que me quer.
Incendeia!
Abre a boca e me beija onde quiser!

Tuas palavras, teus toques,
combustível na minha carne inflamável,
flamejaram o meu ser fragilizado.

Nem adianta correr em direção aos primeiros socorros.
Faz-me rir - esse cuidado tu nunca tiveste.
Não se preocupou, nem no primeiro momento,
que o fogo que arte em ti pudesse me tomar por inteiro,
fazer borbulhar o meu sangue e
transformar em cinzas o meu juízo.

Teu destino era esse.
Pegar o meu pobre corpo e fazê-lo de pira.
Incendeia!
Taca fogo no que resta de mim!
Quero arder nas chamas do teu beijo,
nas labaredas do teu abraço,
no calor do teu sexo.

Incendeia!
Abre a boca e me chama pra dentro do teu vulcão.
Estou pronto para nadar na lava que dele jorrará.
Sacrifico-me ao teu poder, Deusa Pyrrha,
filha de Pandora;
pode me queimar.

Incendeia!
E se de mim algo sobrar,
se alguma parte de mim permanecer intacta,
sem queimaduras, sem lesões ou cicatrizes,
de nada terá valido tal aventura.
Mergulhei no teu fogo para sair marcado.

Incendeia!
Abre a boca e diz que me ama.
Incendeia!
Cala a boca e me leva pra cama.

Incendeia!
Incendeia!
Incendeia!
E deixa queimar ...

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Promessa

Em teu leito de morte
fizeste um último pedido.
Era esse tão difícil
que queria eu ter morrido.

Foste embora dessa vida, e nem assim
me libertei de tua presença infeliz.
Fui obrigada a cumprir, após tua morte,
a promessa que te fiz.

Mas minha palavra é coisa escrita;
tem valor aquilo o que digo.
E se foi este o teu pedido,
o último, que fizeste comigo,
ali, no teu leito de morte,
saibas que tens sorte,
pois sou mulher de confiança.
E se foi essa a tua herança,
dela farei fortuna.

Morri quando fiz este pacto contigo.
O que me pediste foi de fel e mesquinho.
Mas não se nega o último pedido de quem está pra morrer.
Me fez jurar que pra sempre te amaria,
e, ainda pior,
que do outro esqueceria.

Maquiavélico!
Me fez prometer nunca amar outro homem.
Aquele que ainda vive,
e que sempre viverá em mim,
jaz inerte e imortal nas minhas vísceras.
Morri quando prometi amar um homem morto.

Eu irei ao pó,
assim como você,
marido errante.
Ele irá estrela
no meu céu de amante.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Pétalas que o vento leva

O vento sopra o meu jardim.
Nele tudo baila ao som da brisa.
Tudo se reverencia ao vento.
Apenas as árvores ficam imóveis,
com seus troncos imponentes,
mostrando que a idade as fazem nobres.

As flores, na sua reverência,
sacrificam pétalas.
Elas saem voando, em direção ao infinito,
sem hora pra voltar
e sem esperança de chegar em lugar algum.
Essas pétalas virgens,
que não tivemos o prazer de colher o perfume,
partiram para fazer do vento
carruagem e sarcófago.
Elas vão voando,
passeando pelo mundo até o vento desistir de dançar com elas.

Quando o vento enfim encontrar outro rumo
e resolver seduzir outras flores,
as pétalas das flores do meu jardim
jazerão em novo solo.
Lá secarão até virarem pó.
Com alguma sorte, viverão secas em diário de menina.

Porém, se o destino de tal pétala é ser eterna,
ela ao vento faz cortejo, mas não há de fugir com ele.
A pétala imortal é a que permanece na flor
e vira presente de amor em buquê dado com paixão.
A pétala fica viva na lembrança da pessoa amada.
Essa o vento não leva;
jamais.

sábado, 5 de setembro de 2009

Imensamente

Hoje, na aula, ele passou a mão nos seus cabelos. Você nada fez; nada fez a ele. Mas em mim você fez rachaduras. Cada vez que ele passava a mão por seus cabelos meu coração sangrava laminado. Sim, eram as lâminas da tua beleza rascante que a todos seduz.
Mesmo sentindo ódio por ele, sou obrigado a perdoá-lo. É natural que o homem sucumba aos teus encantos. Nossas mãos clamam os seus cabelos como se eles fossem um mar cheio de sereias que cantam e levam o pobre pescador às profundezas de sua perdição. E, além de perdoá-lo, eu o admiro. Ele passou a mão nos seus cabelos. E eu que nem isso!? Pois só de pronunciar o teu nome meus lábios tremem em calafrios, como se um nome sagrado eu tivesse dito em vão. Esse teu nome santo de Deusa. Deusa à que esse teu servo não é digno de sacrificar-se. Mas sou capaz de entregar-me às tuas vontades. Ouso querer ser-te necessário. Quem sabe assim me permitas fazer parte dos teus caminhos.
Hoje, quando ele passou a mão nos seus cabelos, quando senti um imenso ódio e uma imensa dor, descobri que para mim não há mais fuga. Eu te amo imensamente e tudo o que eu quero é te abraçar, te beijar e passar a mão nos seus cabelos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

És belo, és forte, és risonho e límpido

Sei que todo mundo já viu, já ouviu, já fofocou, mas não resisti! Posto aqui o vídeo da cantora Vanusa cantando, em março deste ano, o Hino Nacional Brasileiro sob efeito de calmantes (segundo a mesma, que se defendeu nesta terça, desmitificando a hipótese de estar sobre o efeito de álcool ou drogas ilícitas).

Com o sucesso do vídeo, criaram o site Vanusator que faz uma versão risonha e límpida da sua canção favorita!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Hoje eu to de Chico!

Começo hoje uma seção homenageando a genialidade do compositor Chico Buarque de Hollanda.

O que mais admiro em seu trabalho é a sua versatilidade. Nesse sentido, sou apaixonado pelo trabalho dele e de Stephen Sondheim. Agora, de tempos em tempos estaremos de Chico, apreciando a sua arte.

Olhos nos Olhos
Intérprete: Maria
Bethânia


Tatuagem
Intérprete:
Elis Regina


Atrás da Porta
Intérprete:
Elis Regina


Palavra de Mulher
Intérprete:
Alessandra Maestrini


Basta um Dia
Intérprete:
Bibi Ferreira


Umas e Outras
Intérprete: Clara Nunes


É bom ou não é?

Olha essa voz!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

1 ano de DesConstruções

Só posso agradecer a todos vocês. Qualquer coisa escrita aqui ainda será pouco para demonstrar a minha gratidão. Obrigado pelas DesConstruções durante esses 365 dias!

E que venham muito mais!

Se ainda me amas

Hoje, ao acordar,
te perguntei se ainda me amas.

Teu silêncio foi fatal.

Tuas pálpebras se quer se moveram,
não vi hesitação em teu olhar.
A frieza do teu silêncio congelou minhas fantasias.
Meus sonhos caíram cobertos de neve no tapete
e rolaram para cima do chão gelado.
Esqueci de acender a lareira esta noite.

Tentei penetrar-te com o meu olhar.
Minha dor era agora minha arma
e eu quis te ferir.
Perguntei se me amas
e nada disseste.
Teu corpo não se enroscou no meu
e nem tremeu de cólera.
Teu silêncio foi fatal.
Te fitava na esperança de uma reação.
Acordei pra quê?
Fui despertado mas não acordei do pesadelo.
Me amas ou não?
Vai me expulsar da tua cama
ou me puxar pra dentro dos teus seios?

De repente, rompes o silêncio.
Você se levanta e vai direto pro banheiro.
Será que achou minha inanição fruto do desespero
ou já me fez passado na tua história?
Quando saíste, veio em minha direção,
olhou fundo nos meus olhos - vasculhando-me e encontrando um eu
que eu mesmo desconheço - e me perguntou:
- Ainda me amas?

Após o nosso beijo,
durante nosso amor nos lençóis,
banhados pelo sol de primavera,
pensei comigo e decidi:
nunca mais te faço perguntas
enquanto dormes.

Partida certa

Desce até o jardim.
Vim até aqui implorar-lhe o beijo de despedida.
Venha até a mim
e me dê a certeza que é hora da partida.

Pela janela do teu quarto sinto o teu movimento e
presencio a tua vontade de não me ver.
Pelo visto, fui tomado pelo teu esquecimento,
fui banido do teu bem-querer.

Não desceste até o jardim.
Não faz mal, Estela, não faz mal.
Agora que não me queres,
me tornaste o teu igual.

Agora parto em fuga das tuas ideias.
Parto pra nunca mais te ver.
Parto e vou-me contente.
Parto pra não ser você.

Igual somos no mesmo desejo.
Tu não me queres,
e eu não quero mais te querer.

Somos iguais no mesmo desejo.
A mim não vieste,
ao jardim não desceste.
É minha hora de partir.