eu olho o passado
e vejo os conselhos
desgastados, amarelos,
desbotados, que um dia
os mais velhos do que eu
me deram como garantia
de que os erros seus
não seriam os meus.
Hoje, perto da partida,
eu olho a chegada de tantos
e imagino as feridas,
ouço longe os prantos
que essas pobres crianças
acabarão por chorar
vendo morrer cada esperança
que já havia morrido
com os mais velhos do que eu.
Hoje, com pouco a sonhar,
eu olho para baixo
e vejo escorrer das minhas mãos,
tão enrugadas, os velhos trapos
que restaram da roupa e do perdão.
Morrerei nu,
sem sonhos para me cobrir,
sem esperanças para fazer levantar,
sem conselhos para deixar de herança.
Morrerei nu
e só
e enrugado.
Não mais que os mais velhos do que eu.