Encarceraram o meu desejo.
Botaram-lhe sapatos de cimento
e o jogaram ao mar.
Afogado está o meu desejo.
Envolto em cordas,
amordaçado.
Meu desejo está sufocando,
implorando por respirar.
Quem salvará o meu desejo
de uma morte tão desnecessária?
Vítima inocente,
nem teve como se defender.
Foi pego de surpresa,
com palavras doces,
carinhos, gracejos,
e de um pulo ou dois
foi capturado e levado
encapuzado
à masmorra da censura.
Meu desejo foi mantido em silêncio obrigatório.
Só ouvia. Só obedecia.
Seu resgate tem dia e hora marcada.
Mas é tão longe que sustento.
Assim é pior do que saber a hora da morte.
Conhecer à tempos o momento
do próprio renascimento é angústia para o meu desejo.
É o Cristo, o meu desejo,
sacrificado por quem faz as regras.
Coitado, ele vai afundando ...
Veja!
Ele tenta, mas meu desejo precisa de beijos para salvar-se.
Quem dará afago e fogo ao meu desejo?
Quem irá desatá-lo dos nós das mordaças?
Quem quebrará o cimento que o pesa?
Quem salvará o meu desejo?
Quem o desejará?