domingo, 27 de junho de 2010

Acorde, mortal

São tão belos os sonhos na vida.
São belas as flores, as árvores,
os rios, os pássaros,
as moças, os rapazes,
os velhos, as crianças,
os montes, as colinas,
os mares e o céu.

Mas os sonhos só são belos quando estamos de olhos fechados.

Abra os olhos, mortal infeliz,
e verás que, dos teus sonhos,
a beleza não põe a mesa
e que a andorinha, sozinha ou em multirão,
cisca e voa sem razão.
O verão quando chega nos teus dias
é apenas mormaço e suor. Nada mais.

Abra os olhos e enxergue o que os teus sonhos o impedem de ver.
O colorido acaba. Morre.
Nem preto-e-branco são os as razões do despertar.
É o metal. Sim. O vil.

Ouça o som das canetas, das máquinas registradoras,
das moedas, do papel.
Ouça a risada dos banqueiros, estrangeiros,
trambiqueiros. Dos milionários.

Ouça a criança que bate no vidro,
o sem teto que pede um abrigo -
o ladrão pra tirar uma vida
primeiro roubou foi comida.

Ouça o corre-corre nos corredores,
a disputa no meio da calçada.
É dinheiro, dinheiro,
dinheiro, dinheiro,
dinheiro.

A força que move o mundo não é Deus,
ou outro mito vazio e disforme.
Não é o amor, ou qualquer outra mentira sem nome.
É o capital que gira o mundo mais do que a força das rotações ou translações.

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