terça-feira, 5 de outubro de 2010

Santa Oração

Conheço esses sons.
É a sua voz de cor complexa.
Tua palavra perde o tom,
perde o contraste e a matiz
em palavras desconexas.

São quebra-cabeças constituídos
no interior da sua garganta.
Canal do mel e do licor
que escorre dos olhos da santa.

E eu, tão fiel devoto,
da tua imagem não tenho lembranças.
Apenas um nome nas costas da foto
d'onde não é possível reconhecer as crianças.

O teu choro e o teu riso
confundem-se dentro de mim.
O teu gozo e o teu juízo
são as chagas da minha oração
que não chega a ti.

Meu poeta de Itabira

Ah, meu poeta de Itabira!
De mim tudo me tira,
em mim tudo coloca.

Poeta que finca no mundo
a alma deste homem disperso -
eu.
Ah, meu poeta de Itabira,
viver é acordar em cada verso teu.

Bianca

Bianca
da pele morena
e das palavras brancas
onde eu pinto os meus desejos;

Bianca
do olhar veloz -
minha íris arranca atroz
para te alcançar;

Bianca,
quando corres
meu coração estanca.
Não tenho pernas para seguir o teu desatino.

Bianca,
sois mulher -
eu sou menino.
Permita-me sonhar com o beijo teu.