sexta-feira, 25 de julho de 2014

Diz o luto

Bateu o portão. Saiu. Deixou.
Sumiu na esquina. Partiu. Acabou.
Horas e mágoas e livros.
Anos e lingeries.
Dissolvidos.

Rompeu a veia. Rasgou. Jorrou.
Caiu por terra. Quebrou. Findou.
Cacos e pontos e dor.
Lacunas e pó.
Dilacerados.

Cortou os olhos. Sangrou. Cegou.
Abriu os pulsos. Escorreu. Esvaziou.
Caminhos e rios e pedras.
Flores e só.
Dissolutos.

sábado, 5 de julho de 2014

O Livro da Pele

A palavra constante
que tatua a pele nua
não é marcada com lápis,
não é marcada com giz.
A palavra constante
que tatua a pele nua
é marcada com língua e unha
com suor, com lágrima, com saliva.

A lástima da qual ninguém se esquiva
é que nada apaga a palavra constante.
Uma vez sobreposta, jamais eliminada.

A página na qual tudo se publica
é a que revela a palavra constante.
Uma vez lida, jamais silenciada.

A palavra constante, marcada, sangrada,
vestiu a pele nua de significados e significantes.
Cobriu a epiderme de vogais, de consoantes,
 de pontos,
de vírgulas, de indagações.
A leitura da pela, outrora nua,
é obrigatória. É escolar. É secular.