terça-feira, 2 de agosto de 2011

Espera encadernada

O teu silêncio me perturba.
O teu sumiço desconserta.
Porquê esconder atrás da juba
o quê o teu rugido descoberta?

As tuas palavras fazem falta.
Só uma imagem não sacia.
Ter seu nome em minha pauta
nada cala a agonia.

Não há razão pra se esconder.
Já sei que agora tens juízo.
Se por acaso aparecer,
saberás que te preciso.

Quando vens me consolar?
Tua distância é um castigo.
Quero tanto confessar
que teu sumir é desabrigo.

Tua morada desconheço,
e esperá-lo é sacrifício.
Mas se me der teu endereço,
me desfaço dos meus vícios.

Quando calas tua voz,
fica muda a minha alma.
Quando ages como algoz,
agoniza a minha calma.

Busco então em cada estrada
algum resquício dos teus passos.
Mas não há marcas de passada
quando vais de pés descalços.

Passo em frente ao meu espelho
e o reflexo espalha
aos sete ventos o conselho:
tua ida é uma navalha.

Retalhou minha juventude,
apressou os meus grisalhos.
Corvos rondam - e não se ilude,
já não temem o espantalho.

Resta a dúvida que grita
de onde não possuo escolta
enquanto não responde à aflita
que anseia tanto a tua volta.

E como a esposa viúva de guerra
que crê 'inda estar vivo seu amado homem.
Sei que ainda respiras sobre esta terra
enquanto eu não esquecer o teu nome.

Ai, que a vida 'inda te guia
de volta ao nosso antigo lar.
Ai, que a vida não trairia
a quem só soube te cuidar.

Crendo em Deus eu oro uma prece.
Jurando ao Diabo, eu não viro a face.
Aquele que o traz, logo carece
ter minha fé, meu sangue e carne.

Só me resta dormir e sonhar teu retorno.
Já é hora de ir e acabar com este inferno.
O raiar do novo dia traz junto o adorno
que enfeita teu rosto nas folhas do caderno.