Seriam os meus atos assim tão condenáveis?
Seriam os meus atos assim tão classificáveis?
Tens mesmo que martelar que o que faço
é isso, aquilo ou sabe lá o quê?
Tens mesmo que repetir, a cada passo meu,
que meus pés tem um peso tal e que marcam o chão
da maneira "xis"?
Pra que essa falácia infeliz?
Minhas ações, comuns e banais
como as de qualquer outro ser andante nesta vida,
minhas pobres ações,
nada de mais ao comparar com grandes feitos, bons ou maus,
porque logo as minhas ações escolheste para julgar?
Para quê expor aos sete cantos, sete ventos, sete mares,
cada única vez que cometo um dos sete pecados?
Para quê, se a ti nada interessa?
Ah, mas como me chateia ver-lhe lambendo os lábios
para discorrer sobre os meus hábitos e costumes.
Quanta bobagem num só abrir e fechar de boca.
Quanta dor me causas. Quanto antes,
não prefiro eu, palavras poucas a
palavras dúbias.
Portanto, querida,
não fales mais de mim.
Não é pedido ou ordem,
é ultimato.
Se queres minha presença, mesmo que muito pouco;
se querer meu alento, mesmo que muito seco;
se querer meu perfume, mesmo que muito parco;
se querer minhas vestes, mesmo que muito rotas,
trate de cumprir com o combinado.
Fale de mim o que nem eu saiba.
Para julgar-me, cala-te.
E se pensas em voltar ao mesmo caminho,
se a ti não carece o meu bem-querer,
não espere de mim nada mais que o desprezo.
Não fales de mim
e seremos felizes no silêncio.