quinta-feira, 30 de julho de 2009
A máscara que não há
Não admito que me sejas, assim, tão transparente.
Cadê teu passo em falso?
Cadê tua escapulida?
Não me enrole com a tua sinceridade.
Não é possível que nem traças hajam na sua tapeçaria.
Por que me és tão benevolente?
Tão fiel? Tão complacente?
Tua pureza me fere como um punhal
que atravessa as costelas
e atinge os órgãos, fazendo questão de ferir
por dentro e por fora.
Tua pureza me faz cicatrizes.
A integridade nos teus olhos,
somada à decência do teu respirar,
é ofensa para os meus sentidos.
Quando passo a mão por teus cabelos,
quando passeio os dedos por teu rosto,
procuro urgentemente fazer cair a tua máscara.
Mas disfarçaste bem como escondes tua face real,
o teu ser roto,
que tem de haver.
Qualé a sua que quis ser tão,
mas tão, correta?
Me fazendo penar à espera do teu deslize?
Me fazendo sofrer por antecipação ao teu pecado?
É assim que me deixas:
inseguro pela amplitude,
pela magnitude do teu agir.
Revela-te imperfeita
e minh'alma descansará à tua presença.
terça-feira, 28 de julho de 2009
Coisas bonitas
segunda-feira, 27 de julho de 2009
Um, dois, três
Concederás a mim a honra de tomá-la numa valsa?
Dança comigo, dança?
Acompanho a tua presença desde que pisastes no salão.
Ah, como és bela!
Dança comigo, dança?
Se me prometeres ser meu par por esta noite,
eu te prometo ser o teu pela eternidade.
Dança comigo, dança?
É só me dar a mão.
Depois nos abraçaremos
e seguiremos enfeitiçados pela orquestra.
Dança comigo, dança?
Dança comigo e te farei flutuar pelo salão.
Meu amor é a tua garantia.
Dança comigo, dança?
Entrega-me esta dança,
entregue-se nesta dança.
E, se acaso me quiseres,
descobrirás que a ti já me entreguei faz tempo.
Faz tempo que danço na melodia dos teus passos.
Dança comigo, dança?
É só me dar a mão.
Valsa comigo nesta noite.
É um, dois, três,
um, dois, três,
um, dois, três,
...
Só sei que tudo fui
mas em mim nada se dilui.
De toda filosofia,
só sei que tudo fui.
Tive quinze mil lutos.
Sou a fêmea de Brutus.
Só a mim não traí.
Busquei vidas passadas,
percorri muitas estradas,
e por elas cheguei aqui.
Sem nome ou identidade,
descobri-me de verdade quando
enfim me perdi.
Se nesse cálice não bebes,
é nele que me afogarei.
Se desse prato não comes,
nele me saciarei.
Quando de mim sentires asco,
não se preocupe, lavarei-me
no rio que corre em ti.
E se a correnteza me levar,
é o destino que se cumpre,
deixe-me ir.
Pra onde quer que eu vá,
em segurança estarei.
Não há medo em minhas entranhas,
eu mesmo me estripei.
Minha vísceras são estrelas.
Meus sentidos, animais.
Meus cabelos foram negros,
agora não são mais.
E se em nova terra piso,
nela firmarei meu novo lar.
Finco estacas neste solo
e demarco-o como meu.
Viverei do teu desejo.
O que carregas no bolso
pode valer o teu prazer.
E não tenha cautela quanto às fantasias.
Vim de lendas e mistérios.
Satisfaço a qualquer um.
Para homens e mulheres
perguntei: "O que queres?"
A resposta era: "a ti".
domingo, 26 de julho de 2009
O opositor
a hora de a mão ser o algoz,
o juiz,
o salvador ou o carrasco.
Mas não é fácil e simples como parece.
A mão tem medo.
Os dedos estão letárgicos diante da obrigação.
O indicador aponta para um horizonte sem rumo.
Meus dedos tremem.
Principalmente o indicador.
O dedo inquisidor se retrai diante de seu dever.
Vamos lá!
Julgue agora,
julgue em riste,
qual será o próximo governante.
O indicador ainda tremula.
Há ainda uma solução!;
uma ideia a se pensar:
por que não usamos o polegar?
Pequeno, porém forte.
É com ele que voto na próxima eleição.
É polegar na tela e CONFIRMA (na tecla verde).
É com o polegar que voto.
O polegar opositor.
sexta-feira, 24 de julho de 2009
4 meses ...
Bonecas Também Morrem
terça-feira, 21 de julho de 2009
(Macabra) Valsa Lenta
Quero o teu sangue quente escorrendo
por meus lábios.
À noite, caminharei pelo teu jardim.
Abrirei a tua janela, deitarei sobre ti em tua cama
e afastarei seu cabelo do seu pescoço.
As veias saltarão e clamarão pela minha mordida.
É a tua jugular que me chama.
Assim, neste deleite noturno, soturno
macabro,
farei em teu sangue
a morada da minha eternidade.
E você fará, em meus caninos,
uma festa rubra e densa,
uma valsa lenta
dançada pelos nossos fluidos.
Tua jugular ainda me chama.
E clama, ainda, por mordidas em todas as veias.
Todo o seu corpo é meu por esta noite.
E faremos um bacanal vermelho
cor de sangue nos seus lençóis.
Dali viajaremos mil e tantos anos para o passado.
Dali tirarás teu passaporte para o não-efêmero.
Por esta noite já basta.
Teu sangue saciou a minha sede de ti,
a minha fome de ti.
Durma e descanse
nos resquícios de meus delírios.
Cubro-te com uma manta forte,
para que o vento frio
não te gele os pesadelos.
Saio pela janela aberta, cortinas esvoaçantes,
e flutuo pelo jardim feito pétala, outrora seca,
agora renovada.
Perto do fim, mesmo saciado,
sou sugado de volta aos teus aposentos.
É a tua jugular que me chama.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Aliás, meus caros amigos
domingo, 19 de julho de 2009
Por que fazes isso comigo?
Me beija a nuca,
me morde a orelha,
passeia em mim com sua língua
e depois foge
me deixando à míngua.
Qual o prazer que sentes em me atiçar?
O que é isso que te faz lamber os lábios e depois correr?
És tão ágil em ascender-me em brasas
quanto és para congelar-me com teu olhar.
Pare de jogos e trapaças.
Não me faça mais cair nas armadilhas da tua sedução.
Não sou brinquedo, não. Eu não sou.
Sou homem, tenho carne, e não pelúcia.
Não brinque comigo, querida.
O jogo pode virar.
Um dia te beijarei na nuca,
te morderei a orelha e
passearei em ti com minha língua.
E quando eu parar, virar as costas sem
nem dar adeus, você me perguntará:
- Por que fazes isso comigo?
Porque eu não resisto a você, mas tenho bom senso
sábado, 18 de julho de 2009
Adivinha o que é
É um presente ou uma ameaça?
Devo apreciar o que tens nas mãos
ou esperar o anúncio da desgraça?
Se for um presente, o que seria?
Perfume, bombons ou lingerie?
Uma carta de amor, uma jóia de valor
ou um buquê de flor é o que trazes para mim?
E se for uma ameaça?
Seria uma arma de fogo, ou seria um punhal,
para ferir meu ser?
Ou um veneno letal,
cuja dose fatal me fará fenecer?
Diga!
O que é que me escondes atrás de você?
Diga!
É sinal de esperança?
Uma pequena lembrança?
Uma fria vingança?
[enfim ele mostra]
É uma aliança
quinta-feira, 16 de julho de 2009
Labirinto
Procuro, em vão, a finitude do teu imaginário.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Com ou sem açúcar?
- Quer com açúcar, amor?
Já não podia mais dizer que éramos felizes. Pelo menos eu não era - ou não sou (?).
Lá se vão 27 anos de casamento. O amor virou um bom dia na hora do café. A paixão virou a obrigação marital. Nossos beijos perderam a beleza e hoje recebem o mesmo lustra-móveis que a mesa de centro da nossa sala idealizada. Como conseguimos nos tornar dois seres que convivem - só convivem? Como viramos isso? Como deixamos de ser aquilo?
O tango que doutrora dançamos virou um bolero arrastado.
Os passeios viraram exposição pública.
O casamento se revelou instituição.
Virou-se pra mim e disse:
-Amor! Vai querer com açúcar ou não?
Não sei se foram os anos juntos... A aproximação excessiva...
O contato diário fez-me perceber-te comum. Fez-me perceber-me ordinário.
Virou-se pra mim e disse:
- Daqui a pouco eu termino o café e você ainda não disse se quer açúcar ou não.
Fiz que sim com a cabeça.
O que viramos? Procuro tantas respostas. Será que elas não existem? Ou estariam aí as respostas, e nossas perguntas é que estão mal feitas?
Desde que nos casamos viríamos a descobrir muitas coisas. A aprender muitas coisas juntos.
Viramos mais companheiros, mais compreensivos. Em 10 anos de casamento éramos mais maduros, viramos mais amigos. Aos 20 anos tivemos um affair com a nostalgia e rememoramos nossa paixão adolescente. O fogo perdido voltou e viramos namorados, como antigamente.
Virou-se pra mim e disse:
- Quanto de açúcar, amor?
Enfim, virei e disse:
- O de sempre, querida. O de sempre.
Ella Fitzgerald - Miss Otis Regrets (Cole Porter)
sábado, 11 de julho de 2009
Mais um dia / Pedido oblíquo
novamente, a fachada que tanto contemplei.
Mais um dia e entrarei em tua morada.
Visitante ou invasor? Jamais saberei.
Quero conhecer o lugar onde te escondes.
Descobrir porque entre estes muros te sentes segura.
Saber o que há por trás das paredes e janelas
donde frestas vejo luz em noite escura.
Permita-me ser teu confidente.
Conte-me seus segredos e mistérios.
Conte-me suas verdades e delírios.
Conte-me das viajens nunca feitas.
Conte-me da vontade de ter filhos.
Desnude as arestas da vergonha e
lance-me um olhar, mesmo que escondido.
Mostre quem está vestindo o véu de sombras
que me impede de ver teu sorriso estarrecido.
Desmanche os nós da corda que circunda o teu balanço.
Desenlace-os para que eu possa, enfim, reconhecer-te.
Remexa tuas entranhas e expele o dragão
que quis adormecer-te.
Por favor, atenda-me!
Atenda-me mesmo que seja uma única vez.
Atenda o susurro desta voz que a ti grita, que a ti clama e
que a ti derrama o sentimento real e idealizado
de quem toda noite vê feixe de luz pelas frestas da tua janela.
Não. Não posso mais contentar-me com tua sombra desenhada no chão.
Não posso mais basear-me nos sonhos e fantasias que nasceram de ignorar-me.
Não posso mais segurar-me em teus arremedos de atenção.
Preciso urgentemente segurar-te pela mão, acariciar o teu contorno,
beijar-te, e ter o prazer de te dar prazer.
Permita-me;
Deixe-me;
Conte-me;
Atenda-me, enfim.
Dê-me mais um.
Só mais um dia.
Mais um dia e entrarei em tua morada.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Avenida Q
Assisti no último domingo, dia 05 de julho, no Teatro Clara Nunes.
Ai ai ... EU AMO MUSICAIS mesmo ...
Princeton, um jovem recém-formado procura um apartamento para alugar em Nova York e encontra na Avenida Q uma vizinhança agradável, tanto ao seu orçamento quanto aos novos amigos! Lá ele conhece a trupe de "fracassados" e acaba mexendo na vida de todos eles.
Vale muito a pena assistir! No Rio, fica só até o dia 26 de julho! Corre!
Foi uma emoção assistir ao vivo! Ali na minha frente!!! Aliás ... eu poderia jurar que a Cláudia Netto olhou diretamente para mim no início da peça!!! Foi sim! Minha namorada confirmou que ela e a Renata Ricci se comunicaram visualmente conosco! rs Sonha rapaz ...
Hold your dick, and double click!
http://www.avenidaq.com.br/
terça-feira, 7 de julho de 2009
Old Friends
Pior do que um amigo nos magoar é magoarmos um amigo. Isso é horrível, ainda mais para mim. Principalmente quando não era essa a reação que esperávamos. Por mutas circunstâncias podemos entristecer uma pessoa querida. Às vezes sem percebermos.
Deixo aqui essa bela canção de Stephen Sondheim como um pedido de desculpas de amigos para amigos. De mim pra você!
Sondheim compôs essa música para o musical da Broadway "Merrily We Roll Along". Aqui ela é interpretada por George Hearn, Carol Burnett, John Barrowman, Ruthie Henshall and Bronson Pinchot no Broadway Revival "Putting it Together".
Old Friends
(Stephen Sondheim)
Hey, old friend
Are you okay, old friend?
What do you say, old friend
Are we or are we unique?
Time goes by, everything else keeps changing
You and I we get continued next week.
Most friends fade
Or they don't make the grade
New ones are quickly made
Quickly they're no longer new
But us old friend what's to discuss old friend?
Here's to us,
Who's like us?
Damn few.
Hey, old friend
How do we stay old friends
No-one can say, old friends
How an old friendship survive
One day chums, having a laugh a minute
One day comes and they're a part of your lives
Most friends fade
Or they don't make the grade
New ones are quickly made
Quickly they're no longer new
But us old friend what's to discuss old friend?
Here's to us,
Who's like us?
Damn few.
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Agora que entrei na ondas das imagens, não poderia deixar de colocar uma bem-humorada no final!
sexta-feira, 3 de julho de 2009
03 de julho de 2004
Pois é ... Há 5 anos ...
Neste dia, conheci essa pessoa mui especial que é a Themis! O engraçado é que desde o início já tínhamos uma forte ligação de intimidade e identificação. E não seja como muitos por aí que pensam besteira. Nossa ligação fraternal. Quase mãe e filho!
Nos conhecemos numa situação inusitada. Eu e Priscila, depois de termos nossos uniformes rasgados pelas carteiras da ETE Henrique Lage, fomos no sábado, dia 03 de julho, ao auditório da escola, onde estava sendo realizada uma assembléia. Lá, eu e Pri fomos ao microfone e expomos nossa indignação perante o sucateamento da escola. Themis era uma das mediadoras da assembléia e, após nossa fala, veio até nós para conversarmos. Dali em diante meu amigo, a coisa não prestou.
Eu, Ruan e Priscila fomos estreitando os laços com a "moça do cineclube".
Mas, contar todas as nossas aventuras "daria um blog"...
Deixo aqui então uma homenagem à ela. A deusa grega da Justiça. O exemplo máximo que eu tenho de virtudes. A que demonstra com seus erros o que não devo fazer. A que me fez ver que eu tenho a força sem precisar mudar meu nome pra He-Man. Me ensinou a assistir filmes. Me apresentou pessoas que hoje são verdadeiros ícones de educação, sabedoria e elegância para mim.
Graças à Themis sou menos pior do que eu era. Aprendi muito com essa amiga, quase mãe.
Sou e serei eternamente grato a esta amiga que tanto prezo. Ela sabe.
Obrigado por compartilhar comigo e permitir que eu faça parte da sua vida! Obrigado pelas oportunidades e pelos aprendizados constantes e enriquecedores.
Pois bem ... para que este post não se torne uma (super) babação de ovo e puxa-saquismo de terceiro grau ... deixo claro e sacramentado aqui o quanto eu te amo Theminhas!!!
Feliz bodas de madeira (aproveita e dá três batidinhas! hehehe).
Um dia feliz!
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Em crise existencial .............
Fique então com as palavras de quem merece ser lido: William Shakespeare.
Laurence Olivier, em "Hamlet" (1948)
(Hamlet, Ato III, Cena I)
Julgamento Final
Mas se é assim, e não tem jeito, peço-te um simples favor:
Não me julgue pela marca de minha mala,
mas sim pela bagagem que carrego.
Não me julgue por meu tamanho,
mas sim pela proximidade da minha cabeça com as nuvens.
Não me julgue pela minha largura,
mas sim pelo número de pessoas que consigo abraçar.
Não me julgue pelos meus sapatos,
mas sim pelas pegadas que deixei.
Não me julgue pelas dívidas,
mas sim pelas promessas cumpridas.
Não me julgue pelos cabelos emaranhados,
mas sim pelo grisalho que se mostra aparente.
Não me julgue pelo meu nome,
mas sim por como sou chamado.
Não me julgue pelos seus amigos,
mas sim pelos meus.
Não me julgue pelas minhas rugas,
mas sim pelas expressões que as marcaram em meu rosto.
Não me julgue pelos dogmas,
mas sim pelas transgressões.
Não me julgue por meus farrapos,
mas sim por meus retalhos.
Não me julgue por meus defeitos,
mas sim pelos meus efeitos.
Não me julgue pela cor da minha pele,
mas sim pela cor onde dança minha alma.
Não me julgue pelos meus sonhos,
mas sim pelo que me faz acordar.
Não me julgue por julgar,
mas sim pelo que você é.
Não julgue os meus olhos,
mas sim o que posso enxergar.
Não julgue minhas lágrimas,
mas sim o que me faz chorar.
Não julgue minhas gargalhadas,
mas sim o sorriso que esboço quando dizes que me ama.
Tente não julgar,
mas sim sentir-me.
Querido amigo Mundo
Venho aqui pedir que estenda a sua mão.
Estou com muitas dúvidas
e quero que alivies a minha tensão.
Quero viver de amores,
é possível, amigo Mundo?
Oh, jovem sonhador! Claro que não.
Ponha o amor na balança e verás: ele pesa menos que um saco de feijão.
Querido amigo Mundo,
posso viver de dor?
Veja só! ... tão óbvio que não.
Ou queres ser julgado pela sua condição?
Ah, amigo Mundo,
deixa eu viver de poesia?
Faz me rir ... Viver de poesia? Nem pensar!
Vá fazer alguma coisa que te faça faturar.
E se eu viver de riso e abraço,
irei, então, te agradar?
Não seja estúpido, moleque atrevido.
Riso e abraço? Se disser beijinho, eu faço estardalhaço ...
Poxa, amigo mundo ...
Só me disseste "não"!
Deste sorte, pois te dei atenção.
Quando chamam-me, o Mundo,
geralmente nem respondo.