Como se grita socorro na terra dos surdos?
Como se faz milagre onde não se tem fé?
Quem acude o faminto onde não se tem pão?
Quem abraça o outro quando não sabe quem se é?
É a terra dos perdidos, dos dispersos,
dos abatidos.
É o mar de distâncias, de percalços,
de suicídios.
É o céu de pecados, de desgostos,
dos desvalidos.
É o fogo que queima, que corrói,
que faz sentido.
Como se grita socorro na terra dos surdos?
As orelhas queimadas, os olhos afogados,
a língua corroída, o abraço desconhecido.
É a árvore dos solitários. O fruto cai.
A folha seca. A flor não cheira.
A raiz, só, aprofunda. Aprofunda.
Afunda.
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