quinta-feira, 28 de abril de 2011

Amor de beata

Ah, amor de beata não quero não.
Ajoelhar no milho a cada pecado?
Fiz nada de errado, nem careço perdão.

Eu faço é pipoca com meu desatino.
Lambuzo teu corpo com mel
e faxino teus olhos das teias da religião.

Se queres oração, rogo a ti esta prece:
Senhor que estais no céu,
retrata esta beata em moça coerente.
Que tenha a sua fé, mas não arraste correntes.
Que na hora em que a carne peca
o Senhor esteja em sua soneca
e não castigue a paixão da gente.
Tolerância e paciência
para todas as horas
(que seja agora ou no vai e vem).
E que não nos encha de penitências,
Amém.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Pra quê sentido se estou aquecido?

Não faça pouco das suas meias palavras.
Elas esquentam o pé da minha alma.
Me deixam quentinho ...
sinto a lava tomando o meu corpo.

Quente fico mas perto do pecado,
mas dele não me desfaço tampouco.
Desvirtuado mas aquecido
pelo calor do teu recado,
pelo sabor que tens despido,
me refaço a cada caco de vidro pisado.
Mas saio ileso,
pois meias palavras protegem os pés.
Minha alma hoje não irá sangrar.

Ao amigo poeta

Ao poeta Yke Leon

Ah, meu amigo poeta ...
tudo o que em mim desperta a tua poesia ...
enche-me de inveja, enche-me de alegria
ler cada verso, (e lendo-os) desnudar a fantasia
e ver nu o teu talento.

Ah, mas que eu não me agüento
quando pensas que é jóia a minha bijuteria.
Se há acerto nas minhas palavras
foi um ganho de loteria.
Foi pura sorte que essa minha folia
encontrou abrigo na tua leitura.

Ah, meu poeta amigo ...
desfaço-me de minha armadura
e vejo em nossa arte aquilo o que a vida emoldura:
a beleza, que nada mais é do que arquitetura das emoções.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Olho grande

pitanga caída no pé do pé de pitanga
tomei um suco de manga
mas desejava uma taça de vinho

mulher pelada sobre a minha cama
sei que tu me amas
mas queria mesmo é a mulher do vizinho

Nó e laço para o fim do cansaço

Não sei o que faço.
Não tenho forças.

Preparo um laço,
me enrosco na forca.

O nó eu desfaço,
e minha vida parca
seguirá distorcida,
seguirá em pedaços,
no caminho destes passos tortos,
dos meus sonhos falsos,
dos meus dias porcos,
das minhas noites sonsas,
do meu sono calmo.

E acordo com olhos lassos,
e o nó da forca eu refaço.
Na dúvida, eu vou lá e o reforço,
já não há fuga e nele me enlaço.

Valeu o esforço,
acabou o cansaço.
Já não estou mais a postos,
agora repouso.
Descanso no meio dos mortos.

Follow the yellow brick road

Vento e terra,
poeira e trovoada.
Num piscar de olhos caio com minha casa sobre uma estrada.
Um caminho de tijolos amarelos que levam a um castelo
de esmeralda de um verde tão belo
que chega a fazer o olho doer.

Nem percebo que minha casa matou uma bruxa.
Bem, descubro que cometi um assassinato.
Logo me cubro com o véu de um falso luto.
E me nego a seguir o tal traçado.

Sou levado a buscar o meu retorno.
E seguir a estrada, e a seguir adiante.
Vou em busca de um homem sábio,
um mago. Que me fará encontrar meu lar aconchegante.

Não posso negar que este lugar é de fato fascinante.
É tanta beleza e é tudo um encanto.
E até me espanto quando um espantalho
corre e me assusta dançando e entoando um canto.

Este pobre ser de palha,
este falso homem, inflamável,
busca um cérebro para pensar e ser gente,
pensar e ser um homem enfim inegável.

Seguimos agora em par
e logo um novo ser nos arrebata.
Metálico e estático, sem nem piscar,
ali está o homem feito de lata.

Com um pouco de óleo nas juntas,
um mexe e mexe que tudo range,
o homem de lata se desconjunta,
e sem coração, coitado, se constrange.

E também canta e também dança,
e um trio formamos, e além do libreto
fazemos a curva, e lá vem a bonança:
mais um acompanha, seremos quarteto.

É o leão, que ruge,
mas nem chega a dar medo.
Homem de lata não se enferruje!
Iremos em busca do homem dos segredos.

Saímos nós, para o Mago maior:
o Senhor de Oz, que nos trará as respostas.
E no castelo de esmeralda chegamos,
com a esperança de viver melhor.
Mas a verdade nos bate à porta ...

O Mago é tão frágil quanto nós,
mas tem sua esperteza na manga.
Dá respostas a todos, o homem de Oz,
está tudo bem, ninguém se zanga.

Minha fada madrinha, reaparece
e faz em mim a verdadeira magia.
"Bata os sapatos" ela diz para mim,
dou adeus aos amigos, e mesmo num só dia
tudo se passando, a alma entristece
de dar adeus e voltar para aquela velha vida vazia.

Adeus, tijolos amarelos,
adeus, magia e cores,
vou para a minha vida em sépia.
Sim, eu até queria voltar para Oz,
mas quando virá outro furacão?

As bruxas e feitiçarias não acontecem
na minha vida em sépia.
Aqui sou eu minha bruxa e minha fada,
meu leão, minha lata e meu espantalho.
Sou a magia e estrada.
Sou a menina da via dourada,
da vida sofrida,
sou tanto e nada,
quase nada.
Vivendo em função da fantasia ...
além do arco-íris espero encontrar a minha felicidade,
minha riqueza e minha alforria.

Além do agora

Seja da forma que for,
(com veneno ou com licor)
da vida já foi-se a cor, agora
basta esperar o tormento.

Já não há o que fazer,
(se vou esperar, se vou correr),
da vida já foi-se o querer, agora
basta esperar o momento.

Já não há pra onde ir,
(transcender, ficar aqui),
da vida já foi-se o existir, agora
bastar esperar o renascimento.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nos braços de Morfeu

Ah, Morfeu, me abrace bem forte
e não me solte.
Quero adormecer sem preocupação,
sem despertador,
sem pijama (esta noite fez calor).

Ah, Morfeu, me amarra
e crava em mim a tua garra.
Me faz escrava do teu feitiço.
Quero um chá de sumiço,
quero o teu mel, teu sal e teu sangue.

Deus protetor dos pesadelos,
não permita que eu acorde em plena vigília.
Quero que meus olhos permaneçam novelos
enrolados, fazendo meu ser minha própria ilha.

Ah, Morfeu, me abrace bem forte
e nunca, nunca, me solte.

Maria Moleza

Maria Moleza, tadinha,
tá na dúvida se deve ter certezas.

E fica miúda, escondida debaixo da mesa,
não se sabe se de medo
ou em busca da linha
que, fora do carretel,
se embolou na sua vida
e a distancia do céu.

Maria Moleza, coitada,
tem a inconstância como sua beleza.

E em minha ignorância,
nem aos pés de vossa grandeza,
peço que assim permaneças
e não faça trapalhadas.
Não se endureça, minha doce Maria,
cada dia mais mole,
cada dia mais fria,
cuidado que o sol enrijece,
cuidado que a lua umidece,
cuidado que o tempo te estraga,
cuidado Maria Moleza:
sendo ti tua própria riqueza,
se teu navio naufraga,
morrerás - com toda certeza.