sexta-feira, 23 de março de 2018

Quem foi musa nunca perde a majestade?

Te vi e me perguntei,
será que ainda sei escrever por ti?

O que me inspiraria em quem
de tudo eu sabia e hoje não faço ideia dos caminhos?
Sozinhos perante o passado,
passo dado frente o futuro.
Presente revela que estamos em lados opostos de um muro.
Eu te vejo e estás aqui. A um toque de distância.
Mas qual a relevância desse contato?
Fato é: quem diria!, de você eu tudo sabia
e hoje não faço ideia dos meus poemas.
Perdi a mão após perder você?
Perdi você após perder a poesia?
Quem diria! Quem foi musa virou forma escusa de inspiração.

O poeta sobrevive ao não.

Um comentário:

Isadora Cecatto disse...

Hoje eu revisitei meu blog antigo. Já desativei há anos, mas ele segue lá, disponível pra mim mesma. Tem comentários seus em praticamente todos os posts. Sempre a mesma coisa: grifos que só você sabia fazer, injeções de ânimo, incentivos mil. Você sempre fazia com que eu me sentisse uma escritora renomada e lida por multidões.

Quando eu soube que você partiu, não entendi nada. Eu andava pela Rua Pacheco Leão, no Jardim Botânico, quando recebi a mensagem de uma amiga em um grupo de whatsapp. Uma amiga que eu sequer sabia que te conhecia. Eu e você não nos falávamos há anos. Nunca chegamos a tomar aquele café ou fazer aquele trabalho especial juntos. Fora aquele encontro com você e Lorena num ponto de ônibus aleatório, nunca chegamos a passar pro mundo real a amizade virtual - essa cujo valor só hoje, quase dois anos depois de você ter ido embora, consigo mensurar.

Tenho sentido vontade de te escrever. Ou de escrever sobre você. Tenho pensado no quão autocentrada já fui nessa vida e no quanto isso me fez desperdiçar a oportunidade de desfrutar de relações como a nossa poderia ter sido.

Você diria que tudo bem. Citaria alguma peculiaridade no meu jeito de escrever o que acabei de escrever, sutilezas que nunca te escapavam sobre a minha escrita. Repetiria que, se eu me auto-intitulo uma "escritora de gaveta", você e todos os meus leitores só podiam desejar ser "meu pijama velho". Quase dei esse nome a um outro blog, poucos anos atrás, quando você ainda andava por aí. Nunca te falei. Lamento um tanto, agora, não ter pegado o celular pra escrever um oi.

Hoje eu senti sua falta, meu amigo. Talvez não faça nenhum sentido te escrever aqui, mas foi o que consegui. Do meu plano pro seu plano, envio o abraço que gostaria de ter dado em você. Aqui: nesse espaço em branco pelo qual ambos éramos apaixonados.

Prometo um dia publicar alguma coisa. Pra você. Por você. Pra te agradecer à altura e fazer jus a tanto apoio incondicional.

Obrigada por tudo. Espero, de todo o meu coração, que você esteja bem. Que escreva muito aí onde você mora agora. E que aqueça mais corações jovens e inseguros como os meus, com sua sensibilidade e calor humano inigualáveis. Sorte a dos artistas quem têm um George no caminho.

Com amor,
Isa.