Era uma vez um rapaz e uma moça.
Cada qual tinha um mar,
cada qual tinha uma poça.
O mar tinha suas mil infinitudes,
era amplo e profundo e quase grande como o mundo.
A poça não tinha nada.
Só um palmo de água e suas decrepitudes.
Não sei se por medos das ondas
ou pavor das correntezas
os dois tinham medo do mar
e não viam as suas belezas.
E achavam que a poça era segura
pois dava pé e estava à mão.
Ora, mas que situação!
Com tanta água pra rolar
consideram a que está em inanição?
Pobre rapaz, pobre moça ...
Ao invés de se aventurar no mar,
acabaram se afogando na poça.
Um comentário:
Estou na embarcação e as águas parecem sinuosas agora. Um outro barco chegou sorrateiro, emparelhou com o meu e, de repente, uma voz doce vem do fundo do convés e diz: "- Eu posso ficar aqui até a chuva passar?". Dois barcos colados e as ondas esgarçando as cordas que insistiam em prendê-los.
Eu estava seguindo rumo ao Leste e, passado o turbilhão da nuvem e dos raios, seguiria viagem. A outra embarcação não tinha destino traçado, estava ao léu e, por isso, cortei a rota sem traço perguntando se ela queria, quem sabe, me acompanhar.
Agora é noite, as ondas não parecem mais tão ameaçadoras, mas a neblina obnubila até a mão que ponho adiante. Será que amanhã de manhã, quando a chuva, o raio, a neblina, a onda e o vento passar, este barco sem nome e sem destino ainda estará me acompanhando?
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