Isso não se nega. Ela é atriz.
Quer interpretar alguém diferente de si.
Quem será essa personagem que não é ela,
mas que ela anseia em ser
no palco?
Ela espera a cortina abrir para poder sê-la
e fazer todas as coisas que a outra faz.
Dizer o que a outra diz,
chorar as suas lágrimas,
corar as suas vergonhas,
defender as suas brigadas.
Ela espera o foco de luz para fazer o monólogo
que traduz em palavras e gestos
tudo o que nela é som e fúria.
Ela espera a deixa para levantar a cabeça
e mantê-la erguida enquanto mira
os seus desejos e sonhos.
Ela termina, se inclina;
chora o fechar da cortina e
a chuva de aplausos que lavam
a pessoa que ela foi nesse breve espetáculo.
Quem será essa mulher que é ela,
mas que anseia em se esconder em outras
no palco?
Quer ser diferente de si.
Ela é atriz. Ela se nega.
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