segunda-feira, 27 de junho de 2011

Viver sem saber

Não sei o que é isso dentro de mim.
E escrever tem sido companhia das lágrimas.
Parece um soco no estômago
e o punho faz uma viagem sem fim
onde cada estação é uma lástima.

Não sei o porquê de nada,
nem o porquê disso tudo.
Sei sorrir, mas é pose fingida,
é carta marcada no meu jogo sujo.

Conte-me seus problemas e eu escondo os meus.
Abafo os meus dilemas e atento estou aos seus.
É mais fácil dessa maneira - covarde -
mas não tenho a coragem verdadeira
que tanto sei transparecer.

Essa força que eu vos passo,
e com tanta facilidade,
que vos entrego em palavras,
sorrisos e abraços
é a força que eu busco,
é o traço que falta
para acertar o meu caminhar.

Não sei como mudar
e minhas tentativas são passos lentos.
E nas horas em que não aguento
minha vontade é esfumaçar.
Sumir e sabe lá quando voltar.
Mas não posso morrer por poucas horas e reviver um novo alguém.
É esta persona errada, errônea e errante que deve ir além de si mesmo
e encontrar dentro do meu desespero a centelha que acenda o fogaréu.

E sendo artista,
um dos meus tratamentos é observar.
Sendo poeta, meu remédio é escrever.
Sendo ator, minha cura é o palco.
Sendo gente, meu refúgio é o teu carinho.

Não sei o que é isso dentro de mim.
Nem reconheço o que está fora de mim.
E eu mesmo não sei quem sou.
Vou me encontrando a cada verso,
corando a cada aplauso,
mas sem isso eu me disperso.
Vou vivendo em meio aos sons,
e procurando entre os nós
os laços que me prenderão.
Vou indo sem saber,
até um dia aprender
que viver é exatamente
redescobrir.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Pálpebras perpétuas

Coitado!
Está apaixonado.
Está aprisionado nos olhos de uma mulher.
Vendado.
Quer tanto que nem sabe o quanto quer.
Vendido.
Está fora do mercado,
e é sempre consumido na hora que ela requer.
Sumido.
Agora chora escondido e não sabe mais quem é.
Perdido.
Espera encontrar-se nas vontades da Salomé.
Achado.
Três semanas depois.
Morreu afogado nas lágrimas que ela fez escorrer.
Velado.
Duas coroas de flores, um círculo de amigos e era hora de rezar.
Ido.
E mesmo morto jaz aqui aquela que o fez cair.
Bandida.
Roubou o coração de quem só quis sentir.
Partida.
Ela junta na mala o seu savoir-faire
Coitado!
Qual o próximo desavisado será prisioneiro nos olhos dessa mulher?

sábado, 4 de junho de 2011

Dor sem perdão

Quem nos faz sofrer deveria ser deportado para a Sibéria.
Deveria saborear a miséria aquela que quebra um coração.
Deveria passar pela cólera, ser julgada como escória;
não devia ter perdão.

Quem nos faz sofrer deveria sem dó ou piedade
ter que beber da própria maldade, sendo esquecida,
sendo banida de toda ou qualquer compaixão.

Quem nos faz sofrer deveria perder a língua,
ficar à míngua, criar uma íngua, perder o paladar.
Deveria se afogar nas minhas lágrimas,
se perder nas minhas lástimas,
sufocar na minha perda de ar.

Quem nos faz sofrer deveria se tornar analfabeto para nunca mais ler uma carta de amor.
Deveria perder o direito de ser amado,
a não ser por mim.
Ah, maldita! De todos os males que caírem sobre ti,
nenhum mais me irrita do que serem ínfimos perto da minha dor de vê-la partir.
Partir para longe mim,
partir o meu coração.

Quem nos faz sofrer?
Quem menos queríamos perder.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sabores sem respostas

Qual o sabor do fruto proibido?
Qual o perigo se desfruto do pecado?
Será que é Deus quem prepara o meu castigo?
Ou estará meu destino nas mãos do Diabo?

Qual o sabor do beijo esquecido?
Qual o perigo de sair na tempestade?
Será que me afogo no mar embravecido?
Ou estarei seguro pela lei da gravidade?

Qual o sabor do prato que se come frio?
Qual o perigo de se usar o microondas?
Será que com pressa eu me arrepio?
Ou estaria evitando que respondas?