E escrever tem sido companhia das lágrimas.
Parece um soco no estômago
e o punho faz uma viagem sem fim
onde cada estação é uma lástima.
Não sei o porquê de nada,
nem o porquê disso tudo.
Sei sorrir, mas é pose fingida,
é carta marcada no meu jogo sujo.
Conte-me seus problemas e eu escondo os meus.
Abafo os meus dilemas e atento estou aos seus.
É mais fácil dessa maneira - covarde -
mas não tenho a coragem verdadeira
que tanto sei transparecer.
Essa força que eu vos passo,
e com tanta facilidade,
que vos entrego em palavras,
sorrisos e abraços
é a força que eu busco,
é o traço que falta
para acertar o meu caminhar.
Não sei como mudar
e minhas tentativas são passos lentos.
E nas horas em que não aguento
minha vontade é esfumaçar.
Sumir e sabe lá quando voltar.
Mas não posso morrer por poucas horas e reviver um novo alguém.
É esta persona errada, errônea e errante que deve ir além de si mesmo
e encontrar dentro do meu desespero a centelha que acenda o fogaréu.
E sendo artista,
um dos meus tratamentos é observar.
Sendo poeta, meu remédio é escrever.
Sendo poeta, meu remédio é escrever.
Sendo ator, minha cura é o palco.
Sendo gente, meu refúgio é o teu carinho.
Não sei o que é isso dentro de mim.
Nem reconheço o que está fora de mim.
Nem reconheço o que está fora de mim.
E eu mesmo não sei quem sou.
Vou me encontrando a cada verso,
corando a cada aplauso,
mas sem isso eu me disperso.
Vou vivendo em meio aos sons,
e procurando entre os nós
os laços que me prenderão.
Vou indo sem saber,
até um dia aprender
que viver é exatamente
redescobrir.