terça-feira, 26 de outubro de 2010

Sorte ou sortilégio

Eu já não mais me suporto.
E, se os meus pulsos eu corto,
e vejo o sangue manchar-me de morte,
me pergunto se esta é a minha sorte
ou o meu sortilégio.

Cada caminho que tomo é sempre o mais torto.
E para seguir esta rota eu mesmo me envolto
nessa fé masoquista de ter a dor de
esperar que meu sono atravesse a noite.
Viver é o meu sacrilégio.

Melissa

Melissa
me pinça de volta
do mar onde eu me atirei.

Um mar de lágrimas
que após me deixares, sim,
eu chorei.

Melissa
me atiça de novo.
Gosto quando os teu pudores somem.

É só você lamber os lábios,
ou um carinho mais quente no colo
e aqui está o teu homem,
esperando a alegria de te possuir novamente.

Melissa
me diz se um dia,
ao menos, você me amou.

Ou meu corpo foi mais um que você só usou?

Melissa!
Brinca com os meus sentimentos mais uma vez.
Pode me usar de novo até a minha escassez.
Mas vem pra perto me livrar
da solidão,
Melissa ...

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Um novo colar

Esta necessita de uns colares.
O seu colo não sabe andar nu.
São tantos os seus penduricalhos,
o pescoço de madame não tem tabu.

Tem de todas as cores,
tem de todos os tipos,
tem de todos os tamanhos.
Madame não tem preconceito,
e carrega no peito cada troço mais estranho ...

Outro dia eu vi ela chegando,
e quando olhei, ai, eu quase desmaiei.
Não sei como pude ficar de pé
quando vi a fronte daquela mulher:

tinha ouro, tinha prata,
miniatura de mulata
e umas penas de sei lá que passarinho ...
e madame quando passa quer sorriso,
e quer agrado, e diz:
"Ah, mas está tão bonitinho!"

O que eu faço, ah, meu deus, com essa mulher?
Mais difícil que um cão largar um osso?
Qualquer dia verás, eu enlouqueço ...
Teu colar será minha mão no seu pescoço.

Boa noite

Olá.
Desculpa te acordar,
assim, tão sem aviso,
mas meu coração apressado, assim,
tão sem juízo,
já não pode esperar, não,
nem mais um segundo.

Estou muito atrasado
para dizer ao mundo
tudo aquilo o que fiz esconder.
Por isso estou afobado,
pra te fazer perceber
que se te acordo aos sussurros,
meu peito está aos murros
e minha cabeça só sabe girar.

Minha boca trêmula e covarde
trai a minha vergonha e cria coragem;
minha voz ergue a flâmula e faz o alarde
tão agora necessário.
Já não há mais pra onde desertar.
Sigo o itinerário para então revelar-te:
eu te amo -
e dizê-lo é o meu açoite.
Perdoe-me por acordar-te,
feche os olhos e boa noite.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Soneto da escravidão consentida

Na primeira vez que escreveste o meu nome -
lembro-me bem, foi numa carta de amor -
tornei-me escravo do teu chamado;
teu chamado era o meu tutor.

Senhora de meu corpo e minha alma,
faz deste ser o teu castelo.
Forja em mim a tua armadura,
enrijeça o nosso elo.

Logo o meu nome não é nada
se não vem dito de tua voz,
ou escrito por tua mão.

Rogo tua presença na minha jornada,
agora só respiro quando sou nós
ou chicoteado pela tua paixão.

domingo, 10 de outubro de 2010

I think I'll try Defying Gravity

Corri o risco: sonhei.
Sonhei e dormindo tirei os meus pés do chão
(ora .. isso também o faço acordado ...).
Sonhei e voei. Mas no sonho tudo é possível.

Então eu acordo e vejo esse desejo
oscilar entre o chão e o céu.
Pois eis que essa relação em dicotomia
caiu ao nascer de um novo dia.

Alçarei voo agora acordado:
como o sonho realizado.
Só falta a data chegar.

Defying Gravity
(do musical da Broadway Wicked, na versão cantada na série Glee)

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Santa Oração

Conheço esses sons.
É a sua voz de cor complexa.
Tua palavra perde o tom,
perde o contraste e a matiz
em palavras desconexas.

São quebra-cabeças constituídos
no interior da sua garganta.
Canal do mel e do licor
que escorre dos olhos da santa.

E eu, tão fiel devoto,
da tua imagem não tenho lembranças.
Apenas um nome nas costas da foto
d'onde não é possível reconhecer as crianças.

O teu choro e o teu riso
confundem-se dentro de mim.
O teu gozo e o teu juízo
são as chagas da minha oração
que não chega a ti.

Meu poeta de Itabira

Ah, meu poeta de Itabira!
De mim tudo me tira,
em mim tudo coloca.

Poeta que finca no mundo
a alma deste homem disperso -
eu.
Ah, meu poeta de Itabira,
viver é acordar em cada verso teu.

Bianca

Bianca
da pele morena
e das palavras brancas
onde eu pinto os meus desejos;

Bianca
do olhar veloz -
minha íris arranca atroz
para te alcançar;

Bianca,
quando corres
meu coração estanca.
Não tenho pernas para seguir o teu desatino.

Bianca,
sois mulher -
eu sou menino.
Permita-me sonhar com o beijo teu.