Me pune, me pune.
Um dia tive poder -
me tiraram.
Puniram-me e
não sei o porquê.
De vingança, fiz um preparo
de raiva e fúria.
E tomei num só gole
em resposta ao desamparo.
Depois de beber a poção,
deixo de ser-me e
viro o grande Outro.
Agora, ocultada a angústia,
posso seguir com a vingança.
Vens para me penetrar com a tua lança.
E me lanças a mão antes de me laçar entre as pernas.
Me preenche com o teu domínio
e me fere com as tuas formas.
Estou aqui para isso.
Rompes o véu e
ultrapassas as minhas vísceras
chegando enfim ao meu prazer.
Com a dor que me resta
faço o gozo e um espelho.
Me vês como quero que me vejas.
Sou um corpo ou dois.
Sou eu e o outro.
Mas percebes somente o que permito.
Permuto as minhas faces,
mas não os meus vestígios.
Do fundo do meu grito
há horror e sofrimento.
Na base da minha lágrima
há um nu contentamento.
Se fiz assim foi porque quero,
quis e hei de repetir.
Minha vingança é só o início
e dependes de mim para existir.
Minha dor é tua algema,
teu desejo e tua lição.
Criança travessa merece castigo
e dei-me a clara punição.
3 comentários:
DOLORIDO ,FORTE ,TRISTE.
A-ma-zing
Eu te levo a sério, mas o pior é que vc me leva também. Olha que isso vai ser motivo para outra. Pegaste bem o risco do bordado e agora é só pegar agulha e linha.
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