Tentaram penetrar-me,
mas em mim nada se dilui.
De toda filosofia,
só sei que tudo fui.
Tive quinze mil lutos.
Sou a fêmea de Brutus.
Só a mim não traí.
Busquei vidas passadas,
percorri muitas estradas,
e por elas cheguei aqui.
Sem nome ou identidade,
descobri-me de verdade quando
enfim me perdi.
Se nesse cálice não bebes,
é nele que me afogarei.
Se desse prato não comes,
nele me saciarei.
Quando de mim sentires asco,
não se preocupe, lavarei-me
no rio que corre em ti.
E se a correnteza me levar,
é o destino que se cumpre,
deixe-me ir.
Pra onde quer que eu vá,
em segurança estarei.
Não há medo em minhas entranhas,
eu mesmo me estripei.
Minha vísceras são estrelas.
Meus sentidos, animais.
Meus cabelos foram negros,
agora não são mais.
E se em nova terra piso,
nela firmarei meu novo lar.
Finco estacas neste solo
e demarco-o como meu.
Viverei do teu desejo.
O que carregas no bolso
pode valer o teu prazer.
E não tenha cautela quanto às fantasias.
Vim de lendas e mistérios.
Satisfaço a qualquer um.
Para homens e mulheres
perguntei: "O que queres?"
A resposta era: "a ti".
Um comentário:
Meu Deus! Está lindo! Parece que descreve um personagem de Pasolini.
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