segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Noite inata

Acordei sorrindo
com a certeza de que dormiria ao teu lado.

Contei os segundos
e, entre ábacos e arabescos, eu vi a noite cair
para dar lugar ao calor de nossa paixão.

Colhi um lírio no canteiro dos justos
e lá estava eu, prestes a encontrá-la -
o coração á espreita de um gesto teu.

Cheguei no teu prédio
e já podia sentir o sabor dos teus lábios.
Bati em tua porta
mas você não apareceu.

Um recado foi-me entregue.
Não era letra tua escrita
naquele papel qualquer,
entregue por um alguém que não sabia o que somos nós.

Despi o sorriso da minha noite
e o lírio colhido para adornar o leito,
a flor que trouxe guardado no peito -
desfiz-me como se desfaz de uma lágrima amarga.

A nossa noite, jazendo inata,
é agora apenas noite solitária,
afundada no manguezal da solidão.